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Mortes no trânsito crescem 4,6% em 2011; governo tem ação inédita

Um levantamento realizado pela Folha de S. Paulo, utilizando dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), órgão federal, e da Polícia Rodoviária Federal, demonstrou que os acidentes nas estradas brasileiras custaram R$ 9,565 bilhões ao país, entre janeiro e agosto deste ano. No início deste mês, governo lançou ação conjunta inédita de redução de acidentes.

O que representa menos de 5% de crescimento em relação a 2010 (4,6% exatamente), descontada a inflação. O número representa, no entanto, uma perda de R$ 14,5 bilhões com acidentes nas estradas federais em 2011.

Foram 4.768 acidentes com mortes, 43.361 com feridos e 79.430 sem feridos nas estradas federais do país. Segundo pesquisadores do Ipea, cerca de 60% do prejuízo econômico de um acidente viário vêm de perda de produção: a pessoa que morre ou fica incapacitada e deixa de produzir.

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Os outros custos dos acidentes vêm de atendimento hospitalar, danos ao veículo, entre outros. Segundo o instituto federal, um acidente com morte custa, em média, R$ 567 mil.

O Brasil é signatário da resolução da Organização das Nações Unidas (ONU) que estabelece entre 2011 e 2020 a "Década de Ação para Segurança Viária". Os signatários se comprometem a reduzir em 50% as mortes em acidentes em dez anos.

A Espanha estabeleceu um plano nacional e conseguiu diminuir em 57% as mortes nas estradas, em sete anos consecutivos de queda.

No Brasil, uma ação inédita do governo federal lançou, na segunda-feira (19), a Operação RodoVida com o objetivo de reduzir a gravidade dos acidentes de trânsito, a partir de ações integradas entre a Polícia Rodoviária Federal (PRF), policias estaduais e agências de trânsito. Na operação estão previstas blitzen simultâneas nas BRs, rodovias estaduais ou vias municipais nas proximidades dos pontos críticos.

O foco estará no combate à embriaguez ao volante e na fiscalização de motocicletas. O primeiro por ser uma das principais causas de acidentes graves e o segundo por ser um veículo que vem se destacando em relação ao número de acidentes nos últimos anos – representa 22% da frota atualmente. Desde 2009 as mortes de motociclistas já superam as de pedestres (que antes dominavam as estatísticas). Em 2011, de janeiro a setembro, a PRF atendeu 25.437 acidentes com motociclistas, com 18.083 feridos leves, 8.166 feridos graves e 1621 óbitos.
O custo social dos acidentes nas rodovias federais este ano foi estimado em R$ 7,9 bilhões (considerando o período de janeiro a setembro).

Um levantamento realizado pela PRF demonstra que 60 trechos de dez quilômetros de extensão respondem por 22% dos acidentes mais graves atendidos pela corporação. É nesses 600 quilômetros de rodovias que as ações coordenadas pela PRF acontecerão até 27 de fevereiro de 2012.

O diagnóstico possibilitou a descoberta sobre uma característica comum a todos esses pontos: em todos existe a confluência de vias estaduais ou municipais para as rodovias federais. Por isso a ação simultânea nas rodovias e vias de acesso vai aumentar a segurança e propiciar a redução dos acidentes.

Segundo Ipea, as mortes nas vias brasileiras cresceram em média 7% ao ano desde 2004. Em 2010, foram mais de 40 mil – maior registro do Ministério da Saúde em ao menos 15 anos. O país tem o quinto maior número de mortes no trânsito do mundo, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), atrás de Índia, China, EUA e Rússia.

O governo brasileiro propôs em maio um plano de redução de acidentes: Pacto Nacional pela Redução dos Acidentes no Trânsito – Pacto pela Vida. A meta é estabilizar e reduzir o número de mortes e lesões em acidentes de transporte terrestre nos próximos dez anos.

Segundo especialistas ouvidos pela Folha, que publicou matéria hoje (26), um dos grandes problemas é que as estradas deixaram de ser eminentemente rurais e se tornaram urbanas, o que aumenta o fluxo de veículos, aumentando as chances de acidente.

Um exemplo recente de acidente de trânsito com vítimas fatais envolveu uma carreta, um caminhão e um ônibus, no dia 3 de dezembro, entre os municípios de Brejões e Milagres, na Bahia, na BR-116. Trinta e cinco trabalhadores rurais morreram. Eles voltavam do trabalho de corte de cana-de-açúcar, em Mato Grosso do Sul, para o estado de origem, Pernambuco, rever suas famílias. Outras 11 pessoas se feriram.

Valdison Monteiro de Santana, 20, estava entre os feridos. Ele perdeu o movimento das pernas e suas chances de voltar a andar quando deixar o hospital são de 10%. Uma de suas vértebras lombares foi esmagada pelas ferragens do ônibus em que viajava.

Dezesseis pessoas eram da mesma família. Eram primos e tios de Valdison que deixavam o interior de Buíque (287 km de Recife) todos os anos para ganhar cerca de R$ 1.000, ao mês, cortando cana entre março e novembro. “É o jeito que o povo daqui encontrou para sobreviver. Agora o que mais tem é viúva e órfão", diz Sebastiana, 55, mãe de Valdison.

Segundo a Polícia Rodoviária Federal, os indícios apontam que o acidente ocorreu por imprudência do motorista da carreta, que invadiu a pista em que o ônibus rodava. A polícia diz que o ônibus estava irregular e só trafegava graças a uma liminar da Justiça.

Com Folha de S. Paulo e agências