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Rio: UPPs já somam 18 mas especialistas alertam sobre localização

Entre as 18 Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) já instaladas no Rio de Janeiro (RJ), 16 ficam em regiões consideradas mais nobres e menos violentas do estado, e uma fica na Cidade de Deus, próxima a outro bairro nobre, a Barra da Tijuca, ao lado do futuro centro dos Jogos Olímpicos e Paraolímpicos de 2016. Para especialistas pacificação precisa chegar em bairros mais pobres, onde a violência é maior.

Durante este ano, cinco UPPs foram instaladas na capital fluminense, todas na região da Grande Tijuca e no Centro da cidade: Mangueira, Morro do São João, São Carlos, Prazeres e Coroa/Fogueteiro. A implantação dessas novas unidades consolidou o chamado “cinturão de segurança” da zona sul, do Centro e da região da Grande Tijuca, na zona norte do Rio de Janeiro.

Apenas a favela do Batam, na zona oeste da cidade, fica em uma área considerada mais violenta, em Bangu. Os complexos da Penha e do Alemão, também localizados em uma área mais violenta da cidade, foram ocupados pelo Exército em novembro do ano passado, mas só devem ganhar UPPs a partir de maio do ano que vem.

A proposta, de expulsar quadrilhas armadas de algumas favelas do estado do Rio por meio do controle do território a partir de uma polícia de conceito comunitário, é uma das principais políticas de segurança do governo fluminense, que ressalta que a Secretaria de Segurança conta com um planejamento plurianual. No total, mais 22 unidades serão instaladas até 2014.

Por meio de nota, a secretaria esclareceu que as UPPs não têm como objetivo “o fim da violência”. As unidades “são a primeira fase do processo de pacificação que tem como objetivo básico a retomada do controle territorial de áreas que estavam nas mãos de traficantes ou de milicianos. “É importante destacar que desde o início do processo de instalação das UPPs os índices de violência nessas regiões e no entorno das comunidades apresentam decréscimos consideráveis”, diz o comunicado.

“Existe um projeto de UPPs muito localizado na zona sul da cidade e nos corredores que vão ser utilizados na Copa do Mundo de 2014 e nos Jogos Olímpicos de 2016. A gente percebe uma certa ação da Secretaria de Segurança Pública, que é de atuar nessas áreas, em detrimento de outras áreas que necessitam também. Tem uma prioridade em uma área da cidade, enquanto outras são esquecidas”, afirma o pesquisador Rafael Dias, da organização não governamental Justiça Global.

A Rocinha e o Vidigal, últimas grandes favelas da zona sul da cidade que ainda eram controladas por quadrilhas armadas, foram ocupadas em novembro deste ano e não há previsão de quando essas favelas receberão UPPs.

Com essas novas ocupações, o número de comunidades controladas pelas forças do Estado chega a cerca de 80. Mas existem mais de mil favelas controladas por criminosos.

No subúrbio da cidade, como as comunidades de Vila Kennedy e de Senador Camará, moradores vivem há meses sob confrontos armados rotineiros, por causa da disputa entre facções criminosas pelo controle dos pontos de vendas de drogas.

“A política de segurança no Rio de Janeiro é dupla. Por um lado temos as UPPs, que têm objetivos claros e bem sucedidos localmente. Por outro lado, tem a velha política de segurança, que está lutando para se transformar, mas que ainda persiste, com confrontos armados e autos de resistência. O desafio do Rio de Janeiro é fazer com que essa pacificação não seja apenas uma política aplicada em poucas UPPs, mas um princípio que inspire o conjunto da política de segurança”, diz o sociólogo
Ignácio Cano, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj).

Em 2011 ainda aconteceram ações violentas nas comunidades já pacificadas. Em novembro, por exemplo, houve relatos de tiros de fuzil na comunidade do Fallet, ocupada em fevereiro deste ano. No Morro da Coroa, em junho, policiais ficaram feridos depois da explosão de uma granada atirada por criminosos. No Morro dos Macacos, em setembro, bandidos atacaram a sede da UPP, instalada em novembro de 2010.

Apesar disso, a política de UPPs tem recebido grande apoio da população e da imprensa, e atraído a atenção de governos de outros estados e até de outros países. Segundo o governo fluminense, o sucesso do projeto, que é considerado um dos eixos principais de sua política de segurança, pode ser medido pela redução dos principais índices de criminalidade no estado, como homicídios, autos de resistência e roubos de rua em geral.

De acordo com o Instituto de Segurança Pública (ISP), órgão de pesquisa em criminalidade do governo do estado, os homicídios caíram 10% nos sete primeiros meses deste ano no Rio de Janeiro, em relação ao mesmo período do ano passado. Neste período, os roubos de transeunte tiveram queda de 13%.

Com Agência Brasil