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José Jonathas: Nunca deixar de ver com outros olhos

Há algum tempo, para me se sentir informado do que ocorria no Brasil e fora dele, eu assistia os telejornais da Rede Globo de Televisão. Isso tem um lado bom e um ruim. O bom é que assistia, não assisto mais. E o ruim é que era a Globo! A aparência de bons meninos que os jornalistas globais têm nos leva quase que inevitavelmente, a acreditar que tudo que eles falam é a mais pura das verdades.Por José Jonathas

O fato de ser uma das maiores empresas no ramo das telecomunicações, a maior do país e a quinta do mundo, também ajuda a dar uma sensação de credibilidade. Isso é verdade.

No entanto, nos esquecemos, ou não sabemos, que por trás há um império, relações de poder, relações que mesmo que não ilegais mas imorais, antiéticas, sujas. E é o que ocorre com grande parte das empresas de telecomunicação no país, propriedade de políticos. Além da Globo, da família Marinho, o grupo Folha, da família Frias, e a Veja, da família Civita, também merecem serem citadas. Apesar de não serem propriedade de políticos, estão dentro dessas relações sujas, e muito fortemente ligadas à vida política nacional. A regulação da mídia seria uma saída. Mas, claro, o PIG (Partido da Imprensa Golpista, como diria o jornalista Paulo Henrique Amorim), se debate contra essa regulação e usa de seu poder para passar à população que a lei de regulação da mídia é uma tentativa de censurar a imprensa, quando, na verdade, não passa de medo aos podres que podem ser levantados com tal regulação.

O ponto mais forte desta problemática foi a “censura” da grande imprensa ao livro do jornalista Amaury Ribeiro Jr, “A Privataria Tucana”. A revista Veja, por exemplo, não o coloca na lista dos mais vendidos. Só o título, pra quem entende um pouquinho de política, é bem sugestivo (tucano é o símbolo do PSDB, o mesmo de Fernando Henrique Cardoso, José Serra, Aécio Neves…). Agora imaginem o porquê da mídia censurar (ao estilo ditadura) um livro. Por que? Resposta fácil. Os interesses em comum, as relações de poder. E como diria o próprio jornalista Amaury Ribeiro, “se a CPI for aberta, vou avisar que o que está no livro é pequeno. Vai chegar à sociedade a forma como a editora de uma grande revista e veículos de comunicação tiveram dívidas perdoadas depois da privatização”. Em entrevista ao jornalista Paulo Henrique Amorim, Amaury explica alguns pontos do livro.

Relações de poder, de interesses, como todos devem saber, não se constroem da noite para o dia. Elas vão sendo construídas ao longo do tempo. No caso Brasil, essas relações foram, sem dúvidas, construídas e fortalecidas durante um dos períodos mais negros de nossa história, a ditadura militar. A Folha, por exemplo, deixa explícito seu apoio ao golpe militar em 1964, início da ditadura. E ainda, que grande parte da imprensa fez o mesmo (corto um dedo da mão se a anistia concedida aos militares ao final da ditadura não foi apoiada e muito desejada pela imprensa nacional).

Com o fim desta época trágica, a imprensa passou a escolher seus presidenciáveis. O primeiro foi Fernando Collor de Mello, em 1989. Hoje, um dos chefões da Globo à época, José Bonifácio Sobrinho, o Boni, em entrevista ao repórter Geneton de Moraes, da mesma emissora, confessa que o último debate foi manipulado em favor do candidato boa pinta, classista, em detrimento de um metalúrgico barbudo e “mal-tratado” pela vida de trabalhador, de discurso forte, um “anarquista”. Anos antes das eleições de 2010, a Globo já tinha seu escolhido, Aécio Neves, talvez por sua semelhança fácil com um animal da fauna brasileira, o tucano. Esse interesse foi capaz de distorcer a matéria publicada no jornal francês “Le Monde”, comentando apenas a parte que elogiava o tucano. Não falou, no entanto, da forte censura imposta à imprensa de Minas Gerais, estado onde Aécio era governador.

Outro ato de censura interessante foi o da emissora goiana TBC. O jornalista Paulo Beringhs foi impedido de realizar o debate com o candidato ao governo do estado Marconi Perilo, do PSDB, pelo fato de Iris Rezende, do PMDB, ter se recusado a participar do programa. Rezende tem “boas” relações com o dono da TBC, Jorcelino Braga.

Essas manipulações não se restringem ao nível nacional. Porque, claro, as isnurgencias ao redor do mundo podem ser tomadas como exemplo. Um ótimo exemplo foram as recentes revoltas no mundo árabe. Cuba, outro exemplo, é tratada por todos como um sistema ditatorial, sob as mãos do “cruel” Fidel Castro. Mas, em um mundo onde 146 milhões de crianças passam fome, que tal um país que não tenha absolutamente nenhuma criança nesse estado? Esse país é Cuba. Que tal a mídia mostrar a opinião (na verdade mais que uma opinião, um fato), de Stéphane Hessel, “os bancos estão contra a democracia”? Hessel é o autor do pequenino livro de 32 páginas “Indignem-se”, lançado em 2010. Participou da resistência contra os nazistas durante a II Guerra Mundial, e é um dos responsáveis pela Declaração Universal dos Direitos Humanos. Que tal a mídia mostrar o que de fato está por trás da crise econômica mundial e de como os países estão “sanando” o problema? De como um dos maiores bancos do mundo, o Goldman Sachs, tem seus tentáculos em todos os países em crise? Fatos são fatos, e eles nos são escondidos por interesses escusos à ao bem estar da população.

Encerro essa matéria lembrando uma entrevista de um sociólogo, no canal Globo News. Nesta entrevista, os repórteres, insistentemente por sinal, tentar marginalizar os protestos ocorridos na Inglaterra, por melhores condições de vida. O entrevistado, Silvio Caccia Bava, rebate todas as acusações dos jornalistas, e deixam claro que os insurgentes não são, de modo algum, marginais. Eles estão sendo, na verdade, marginalizados.

Mestrando em Ecologia e Recursos Naturais
Universidade Federal do Ceará