Bolívia: O jogo da oposição
A oposição boliviana apela para argumentos muitas vezes incríveis para desmerecer o trabalho do governo encabeçado por Evo Morales, sem se dar conta de que seu ardil pode voltar, como um bumerangue.
Publicado 08/01/2012 19:57
Aos líderes da oposição – chamemos-lhe de direita – não lhes parece bom nada do que faz o Executivo e nenhuma conquista política, social ou econômica entusiasma esses que flertam com a possibilidade de expulsar o presidente do Palácio Quemado.
Nos últimos dias, a assunção dos magistrados eleitos pelo povo semeou mal-estar no caminho da direita e muitos de seus líderes consideraram um fracasso todo o processo.
Ao que parece, a justiça limpa, a verdadeira, era a que resolvia a maioria dos casos com dinheiro e deixou milhares de processos engavetados, corrupção em tribunais e magistrados e encheu de dúvidas um povo acostumado por anos ao servilismo, assegurou Richard Garbán, um jovem estudante interpelado pela Prensa Latina.
O próprio presidente reconheceu que não foi um processo perfeito, mas advertiu que "apesar das dificuldades aprofunda-se a democracia, apesar das deficiências há um resultado que reconhece o povo boliviano".
Para os opositores, tudo está mal, as eleições judiciais foram uma farsa e os anos que se aproximam serão funestos para a justiça na Bolívia.
Situações similares ocorreram, recordou, quando o governo deu a conhecer o orçamento destinado à saúde ou à educação, em um país onde a imensa maioria da população viveu abandonada durante muitos anos, sobretudo os indígenas.
Por todos os lados, então, aparece alguém disposto a criticar a política de educação ou saúde do atual governo, como se antes os bolivianos tivessem desfrutado a plenitude desses direitos, disse.
Para Garbán, a Bolívia nunca teve melhores condições de saúde do que agora, o que não quer dizer que tudo está perfeito, mas ao menos Evo Morales se preocupa.
Sou muito jovem, mas meus pais contam-me. E acho que a oposição só faz jogo político para retirar méritos do Governo, ainda que nós, os humildes, já não sejamos tão atrasados e saibamos por onde se move o jogo.
No final de 2011, quando se conheceram os resultados econômicos do ano, nada do feito nos últimos 12 meses esteve bem, segundo os opositores.
As reservas acumuladas, o aumento nas exportações, do Produto Interno Bruto, a solidez econômica de um país que cresce acima da média na região, são invenções do oficialismo, argumentam alguns.
Outras vezes, quando não há onde se agarrar, os inimigos do governo apelam a acusações infundadas contra as principais figuras do Movimento ao Socialismo (MAS), e outros se fazem de vítimas.
O governador de Santa Cruz, Rubén Costas, não se cansa de repetir que é vítima de perseguição política, porque o governo "quer apartá-lo do caminho para as próximas eleições", aludiu.
Costas enfrenta um processo por calúnia e difamação contra o vice-presidente Alvaro García, a quem acusou de vínculos com o narcotráfico e de corrupção.
García recordou nesta semana que não há nenhuma caçada política. Ele só pretende – diz- que Costas mostre suas provas, ou caso contrário se retrate em público e admita seu erro.
Costas, uma das principais figuras da oposição, não apresenta prova alguma – talvez porque não as tenha – mas também não se retrata, num jogo que poderia lhe sair muito mal.
Analistas consultados consideram que a posição da direita de ver com maus olhos tudo o que faz o Governo é uma atitude conseqüente com sua maneira de atuar, só com o objetivo de virar o povo contra o mandatário.
No entanto, reconhecem que os bolivianos, até os mais humildes e com menos instrução, sabem que nos últimos anos suas vidas mudaram e para melhor.
Prensa Latina