Geraldo Galindo: Eleição em Salvador não será plebiscitária

As direções Estadual e Municipal do PCdoB decidiram no mês de maio de 2011 por candidatura própria à prefeitura de Salvador.

Por Geraldo Galindo*

É também opinião do Comitê Central do partido que na terceira maior capital do país não poderemos ficar de fora ou à margem do processo da disputa, na compreensão de que, somente com a apresentação de um nome para o pleito majoritário o partido pode ter visibilidade e apresentar suas propostas de governo, o que vem a ser uma exigência da conjuntura para nossa sobrevivência política.

Escolhemos consensualmente para desempenhar a tarefa um de nossos melhores quadros, a deputada federal Alice Portugal, com larga experiência política, capacidade de articulação, conhecedora profunda da dos problemas da cidade.

 Nós comunistas temos a compreensão de que a eleição numa cidade do nosso porte não deve ser um plebiscito de quem é a favor e contra governos, seja ele federal, estadual, municipal. Seria muito reducionismo e antidemocrático. Em todas as eleições anteriores na cidade, tivemos vários candidatos, tanto da base como da oposição a governos. O ilustre governador da Bahia, democrata e prudente que é, em 2008 compareceu em três convenções de partidos da base aliada e somente no segundo turno, com a polarização, vestiu a camisa de um dos candidatos. Fez a opção correta. No pleito de 2012, esperamos o mesmo posicionamento. Se a base aliada tem mais de um candidato, que se mantenha a neutralidade e se necessário for, se posicionar no segundo turno. Não é justo para qualquer candidato da base de governos, que o governo use seu prestígio e poder para sustentar apenas um candidato, quando seu governo é sustentado por uma base bem maior do que o partido a que pertence.

Temos ouvido repetidamente o discurso de que deve haver apenas um candidato da base aliada, mas isso empobreceria um debate tão rico e necessário para uma cidade sitiada por problemas de toda ordem. Todos os partidos políticos tem opiniões, propostas, programas e visões distintas de soluções para o descalabro reinante. E não se pode inibir que as forças políticas apresentem suas idéias no período mais privilegiado para tal que é a disputa eleitoral majoritária. Para o bem de Salvador, é bom que tenhamos vários candidatos e todos eles se manifestem perante o eleitorado sobre suas sugestões para superar o caos que o prefeito João Henrique deixará de herança. No segundo turno, sim, é o momento propício para as eventuais alianças entre aqueles que sentirem mais afinidade com determinado projeto ou outro. A base dos governos Wagner e Dilma deve se unir, se eventualmente um oposicionista for ao segundo turno, para dar a vitória ao projeto mudancista vitorioso inaugurado pelo atual governador.

Um aspecto importantíssimo neste debate é que não há no horizonte o risco de uma candidatura de direita vencer a eleição no primeiro turno, e nem mesmo sabemos se uma delas irá ao segundo turno. Em 2008 existia esse risco e não se concretizou – nenhum candidato de oposição foi ao segundo turno. Se houvesse essa possibilidade, aí sim, a tese de unificação no primeiro turno faria algum sentido. É por isso que essa regra que defendo para Salvador pode não valer para o interior onde não há segundo turno, pois havendo risco de forças oposicionistas assumirem o poder local, é melhor que a base aliada se una para evitar o pior.

Outra polêmica que se verifica no debate sobre a sucessão é sobre a política de alianças. Todos os partidos das bases dos governos federal e estadual estão legitimamente credenciados para alianças, caso considerem conveniente, e não deve haver nenhum tipo de censura para que nas movimentações os partidos se entendam com os parceiros que sejam ganhos para determinado projeto. Recentemente, nosso governo estadual tentou atrair o PR, um partido de oposição no âmbito do estado, mas de sustentação em Brasília. Os republicanos, se viessem, consequentemente integrariam a base do governo e poderiam compor com algum partido da base na eleição. Consideramos esse movimento de ampliação da base do governo correto, mas movimentos feitos por outros partidos das bases governistas também devem ser respeitados e vistos com naturalidade.

Os comunistas apoiaram em quatro oportunidade os candidatos do PT em eleições municipais em Salvador. Na última, fechamos um acordo com a direção do partido e eles asseguraram a vaga de vice para a vereadora Olívia Santana e depois ficamos sabendo pela imprensa que a vice seria a deputada Lídice da Mata (por quem temos muito apreço) e que o PCdoB estaria fora da chapa majoritária na eleição de 2010 (com dois anos de antecedência), o que veio a se concretizar. Como afirma com frequência a deputada Alice Portugal, "porque só apoiamos, e não podemos ser apoiados?" A candidatura própria é uma necessidade política irreversível, uma exigência legítima de nossa aguerrida militância e uma decisão amadurecida entre as diversas instâncias partidárias.

Candidato do PT, Nelson Pelegrino, é uma figura pela qual temos muito respeito, para quem fizemos campanha três vezes, com todo entusiasmo possível. Mas o PCdoB está num novo momento, nova fase, nova tática – de acumular forças nos pleitos majoritários para se expandir – e não iremos apoiá-lo no primeiro turno. Esperamos fazer uma disputa fraterna e respeitosa no primeiro momento e encontrá-lo no segundo turno para receber o apoio dele e de seu partido. E caso ele vá para o segundo turno, e nós não formos, deveremos apoiá-lo para o bem da cidade e em nome da unidade da base.

O `PCdoB é o primeiro partido a marcar sua convenção. Será no dia 17 de junho, quando numa grande festa democrática homologaremos a candidatura de Alice Portugal. Nossa campanha será no campo da base dos governos (estadual e federal) e de oposição ao desastre político e administrativo da gestão que se encerra na cidade. Já realizamos cinco debates sobre os problemas municipais e continuaremos a fazer um a cada mês. Temos uma vasta programação de atividades agendada para o período que antecede o registro da candidatura e faremos todo o esforço para unificar a base do governo ou parte dela em torno de nossa candidata.

*Geraldo Galindo é presidente municipal do PCdoB em Salvador e membro do Secretariado Estadual