Crack: Após um mês, operação combate usuário e não o traficante

Nesta sexta-feira (3) a “Operação Sufoco” completa um mês. Deflagrada pelo prefeito Gilberto Kassab (PSD) e pelo governador Geraldo Alckmin (PSDB), a ação passa longe de dar fim ao tráfico no centro de São Paulo. Até a noite desta quarta foram apreendidos apenas 3kg de crack. Enquanto isso, dezenas de usuários seguem sem atendimento. Acompanhe a reportagem exclusiva da TV Vermelho sobre o tratamento público que o Brasil vem dando aos usuários de drogas.

Por Carla Santos

Desde o dia 3 de janeiro, a TV Vermelho acompanha de perto a situação de usuários de drogas e moradores do bairro da Luz, região conhecida como “Cracolândia”. Conversamos com médicos, ex-usuários, movimentos sociais, agentes de saúde e ONGs que atuam na região. Também visitamos famílias que nunca pisaram na Cracolândia e, no entanto, convivem com o crack dentro de casa.

Para os sujeitos desta história, o tratamento é sempre o mesmo: violência e repressão.

Segundo o boletim da Polícia Militar, atualizado em 1º de fevereiro, o números de pessoas presas (196) na Operação Centro Legal, nome oficial da ação, é praticamente igual ao número de pessoas que conseguiram internação (186). Já o número de abordagens policiais (11.509) é mais que o dobro das abordagens realizadas pelos agentes de saúde (5.468).

Ao total foram apreendidos 63kg de drogas, 43 deles só de maconha e outros 16kg de cocaína. Apenas para efeito de comparação, a polícia do Paraná apreendeu cerca de um terço (20 kg) do total apreendido em um mês pela polícia de São Paulo apenas na madrugada desta quinta (2), na Cidade Industrial de Curitiba.

Tratamento

Enquanto a repressão aumenta, o número de investimentos para o tratamento aos usuários permanece, na prática, o mesmo de antes da operação. Além do Centro de Convivência da Rua Prates, no Bom Retiro — que abriu sem atendimento de saúde — e o anúncio do ministro da Saúde, Alexandre Padilha, de liberar R$ 6,3 milhões para São Paulo aplicar no combate ao crack, nada de concreto foi feito.

Quem mora no Centro sabe que a situação só tende a piorar. Com os novos despejos realizados nesta quinta pela Prefeitura, aumenta ainda mais o número de pessoas em situação de rua. Novamente é a polícia chegando no lugar do médico, do professor, e com o objetivo de tirar as pessoas de territórios exclusivamente reservados à especulação imobiliária.

Por hora, os usuários continuam tendo o bom e único Centro de Atenção Psicossocial — especializado em álcool e drogas, o CAPS-ad 3 – aberto 24h da Praça da Sé. Ao todo, o Brasil tem 258 unidades deste tipo. O Plano Nacional de Enfrentamento ao Crack promete mais 175 unidades até 2014. No entanto, os investimentos para área previstos para 2010 só foram gastos em 2011.

Como se percebe, a luta para que o dinheiro efetivamente chegue a quem precisa continua sendo uma batalha diária para a sociedade brasileira.

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