Luciana Santos: "Apostamos que o PT possa nos apoiar"

Eleita líder da bancada do PCdoB na Câmara Federal, a deputada Luciana Santos falou sobre sua atuação no primeiro ano de mandato e contou sobre a expectativa deste ano no Congresso Nacional.

 A comunista não deixou de comentar sobre as dificuldades que a presidente Dilma Rousseff (PT) enfrentou, ano passado, com a queda de seis ministros envolvidos em denúncias. Ex-prefeita de Olinda, Luciana também comentou sobre o processo sucessório do município. A deputada garantiu a vitória do prefeito Renildo Calheiros (PCdoB). “A gente vai, sem dúvida alguma, conseguir mais uma vitória do nosso prefeito Renildo Calheiros”. A comunista ainda criticou a atuação da oposição olindense, que, segundo ela, não tem discurso.

Folha de PE: O que a senhora destaca no seu primeiro ano de mandato como deputada federal?
Luciana Santos: Sou da Comissão de Ciência de Tecnologia e devo permanecer e da comissão Mista de Orçamento, mas devo sair por causa da liderança. Sou coordenadora da Frente Parlamentar de Cultura. Da Ciência e Tecnologia, o grande embate foi com a polêmica da lei que trata dos crimes na internet. Eu fui autora do requerimento que retirou de pauta, porque estamos estabelecendo que antes de criminalizar nós temos que ver quais são os direitos. Também na comissão, eu fui autora da instalação de uma subcomissão para estudar financiamento de mídias alternativas. E outro destaque foi a audiência pública, que fui autora, que tratou da Empresa Brasileira de Inovação. O carro chefe de qualquer agenda de desenvolvimento é inovação. E a gente tratou do salário mínimo também, que foi um bom debate. No Congresso nós temos uma vantagem muito grande porque é um partido que age de maneira organizada e isso facilita muito o exercício do mandato. Nós tivemos assuntos muito polêmicos no Congresso: as votações do Código Florestal, do Brasil Maior, discutimos a lei geral da Copa. Apesar de uma oposição que obstrui, a gente conseguiu realizar bons feitos.

Folha – E como a senhora avalia o primeiro ano da presidente Dilma Rousseff (PT)?

LS: O meu primeiro mandato coincide com o contexto muito positivo, o contexto político do País, em função da vitória de Dilma que é a continuidade do projeto político comandado por Lula (PT), que o partido batizou como a terceira vitória do povo brasileiro. Ao assumir o Governo no ano passado, (Dilma) assumiu no contexto de muita crise internacional, quebras de bancos e empresas, desemprego em massa no mundo todo e o Brasil, apesar de ser vítima desse contexto, vem conseguindo enfrentar a crise enxergando como uma janela de oportunidades. É inegável que o primeiro ano do Governo Dilma é vitorioso.

Folha – A senhora acaba de assumir a liderança do PCdoB na Câmara Federal. Como avalia esse novo papel?  

LS: É claro que para mim é um desafio. Vai ser um grande aprendizado, até porque nossa bancada é muito experiente, quase toda tem influência grande no Congresso Nacional. Então, é uma bancada top de linha. E ter uma bancada de grande qualidade facilita. O que nós vamos combinar é que a nossa postura no Congresso será muito parecida com o que historicamente tem feito. Somos da base do Governo e aliados e vamos procurar estabelecer da relação com Governo uma relação de apoio e influência no que precisa melhorar. Vamos ter uma atitude proativa, não só passiva, vamos ter uma postura de colaboração, para garantir que pensamentos mais avançados prevaleçam. O que o Governo quer votar este ano? O Governo já apontou que quer votar os royalties de petróleo, a outra é a lei geral da Copa que está a maior polêmica com a FIFA. Também vai se votar o Fundo de Previdência.

Folha – Este é um ano eleitoral, a senhora já se reuniu com a bancada comunista para discutir como serão os trabalhos este ano?
LS: Certamente a agenda (no Congresso) será de seis meses. A celeridade e a tolerância são decisivas, porque sem participação muita coisa dentro do Congresso não anda e (principalmente) se os partidos de oposição, mesmo sendo minoria, bater o pé. Dos 14 deputados da nossa bancada, nós temos cinco candidatos. Mais de um terço são candidatos a prefeito, Manuela Dávila, em Porto Alegre; Perpétua Almeida, no Acre; Alice Portugal, em Salvador; Evandro Milhomem, no Amapá; e Osmar Júnior, no Piauí. Mas dentro do cenário uma coisa curiosa: é que no partido a presença das mulheres é muito marcante, nós somos em termos absolutos a segunda maior bancada e somos em termos proporcionais, a maior bancada.

Folha – A bancada pernambucana tem tido destaque no congresso Nacional. O senador Humberto Costa foi líder do PT no Senado ano passado, o deputado Bruno Araújo também assumiu a liderança do PSDB e outros nomes são cogitados para assumir lideranças. Como avalia esse fato?

LS: A bancada é influente. Isso é um fato curioso, porque quando bater a fotografia do colégio de líderes só vai ser pernambucano. Se André Figueiredo (PDT-CE) tivesse virado ministro (do Trabalho), quem ia ser líder do PDT era (o deputado federal) Paulo Rubem Santiago. É uma coisa boa para nós, além de um momento bom do governador, do crescimento galopante que Pernambuco está vivendo. Além de todos esses momentos de muita afirmação em Pernambuco, temos uma presença política, seja dos colégios dos líderes, seja de Eduardo que é cogitado para qualquer desafio nacional e isso nos deixa numa situação emblemática e positiva.

Folha – No ano passado a presidente Dilma enfrentou crises com a queda de ministros e este ano a oposição já tenta convocar o ministro da Fazenda, Guido Mantega, para depor no Congresso. Qual a expectativa para o segundo ano de gestão da presidente?
LS: A oposição é um verdadeiro sistema. Alguns setores nacionais praticamente fazem de tudo para pautar o Governo Dilma. Até porque a base da oposição diminuiu muito. Então, ela se associa a um interesse macro. O que é que caracteriza tática da oposição? Desde o início, há uma tentativa de colocar uma cunha entre Lula e Dilma, de negar o legado de Lula. Falam “o ministro que caiu foi de Lula, Dilma está fazendo uma faxina”. O que existe por parte da Dilma é condução do processo. No geral, é uma tática, uma estratégia de negar o legado da presidenta. Lula é como se fosse o avalista de todo o processo de mudança que estamos vivendo, por isso a tentativa. Felizmente, Dilma nunca engoliu essa corda e procurou a valorização desse legado. Dilma tem uma política arrojada, e não é à toa que ela tem maiores índices de aprovação se comparado aos primeiros anos dos outros governos.

Folha – A senhora acabou de assumir a liderança do PCdoB na Câmara, o que descarta à possibilidade de sua postulação em Olinda, como se especulou no ano passado. Então, o candidato é mesmo Renildo Calheiros (PCdoB)?
LS: O nosso candidato é Renildo, a condução da sucessão lá é feita pelo Renildo e foi ele próprio que levantou essa hipótese lá atrás como algo a ser visto. Mas isso já foi resolvido. Agora, da agenda, além administrativa que ele se dedicou o tempo todo, tem a agenda política. Esse é ano de eleição e vamos construir a unidade ao máximo lá da nossa base em Olinda e conseguir fazer algo que nunca foi fácil de fazer que é prestar contas e dar visibilidade à ações que são muitas, e estruturantes. A gente vai, sem dúvida alguma, conseguir mais uma vitória do nosso prefeito Renildo.

Folha – Como estão as conversas sobre alianças em Olinda? O PT ainda está indefinido a respeito da candidatura da deputada estadual Teresa Leitão.

LS: A gente sempre disse que é legítima a candidatura da deputada estadual Teresa Leitão. Mas o PT é um partido que foi vice do Renildo esse tempo todo, foi meu vice. Então nós somos corresponsáveis pelo que a gente vem tentando construir na cidade de Olinda. O PT é um aliado estratégico e estamos procurando construir com os atores do PT uma unidade. E esperamos que isso se resolva o mais rápido possível. Nós vamos virar essa página no mês de março, que é a própria agenda do PT. Independente dessa questão do PT, nós temos uma ótima relação com o PSB, Eduardo tem investido na nossa cidade. O PDT também já sinalizou, então acho que vamos ter lá talvez a maior frente de partidos das últimas eleições que a gente tem presenciado em Olinda.

Folha – A senhora acha que o PT deveria entregar os cargos que tem na Prefeitura de Olinda (vice-prefeitura, Secretaria de Educação e Orçamento Participativo)?
LS: Não, porque como não é algo definitivo, não tem porque fazer isso. A gente aposta que o PT possa nos apoiar. Então, não tem porque fazer esse tipo de composição. O PT vai fazer o encontro deles e nós estamos acompanhando, debatendo para poder dar um bom desfecho nessa construção política.

Folha – 
Como a senhora está analisando a postura da oposição de Olinda? Os opositores falam constantemente que a gestão do PCdoB em Olinda já saturou.
LS: Primeiro, a oposição não tem autoridade para falar de perspectiva para a população. São partidos que deram sustentação ao governo do ex-presidente Fernando Henrique (PSDB), que não fez mudança nenhum nem no Brasil, nem no Estado. Nosso projeto em Olinda não é pontual, nem isolado. É um projeto dentro de um contexto mais amplo. As mudanças em Olinda não aconteceriam se nós não tivéssemos o investimento pesado do governo Lula, ou seja, então a gente deve o que Olinda conquistou a esse contexto político. Assumimos numa situação muito adversa, no governo Jarbas (Vasconcelos/PMDB) e quando Lula assumiu (a Presidência) foi uma virada na situação de Olinda. Todo mundo sabe que é muito difícil de governar, tem um quarto da população de Olinda e arrecada dez vezes menos. Eu acho que a oposição patina tentando descobrir um discurso e não consegue. No máximo é isso. E esse não é um projeto exclusivo do PCdoB, é um projeto de uma frente, de um contexto que envolve vários pontos.

Folha – Há poucos dias o deputado estadual Luciano Siqueira (PCdoB) se queixou, publicamente, de falta de diálogo com o PT. Como a senhora está vendo essa questão? E o PCdoB vai apoiar a candidatura do prefeito João da Costa?
LS: Luciano esteve com ele para uma conversa, se não me engano, há 15 dias. A direção do partido esteve com o prefeito João da Costa e a definição sobre o apoio ou não a João da Costa não depende tanto da gente. Depende do PT, que não sabe ainda se o candidato vai ser João da Costa. Então não tem porque a gente interferir nas discussões internas do PT. Nós temos uma relação excelente com o João Paulo, com o Humberto, com todos os atores do PT e estamos avaliando numa perspectiva que é necessário ganhar a eleição do Recife.

Folha – Mas o PCdoB iria apoiar o PT independente do candidato, ou teria que ter primeiro essa definição?
LS: De nossa parte nós estamos querendo a unidade de nossa força para poder ganhar a eleição. E o processo da candidatura nós não discutimos ainda os nomes. Queremos discutir o processo pelo qual o nosso projeto político vai continuar. Isso é o que importa pra gente.

Folha – O apoio do PCdoB ao PT do Recife depende da conjuntura em Olinda?
LS: A gente sempre procurou ver a eleição dos municípios de maneira independente, é claro que quando você bota num conjunto é claro que essas coisas pesam. Mas o processo dos diálogos com os partidos se dão em cada município de acordo com sua realidade. Eu não estou dizendo que não se considera o conjunto, mas no primeiro momento o que importa são as discussões de cada municíp

Fonte: Folha de Pernambuco