José Suzano de Almeida: A batalha por Vitória

Embora seja tempo de folia, as peças do jogo sucessório em Vitória não estão imobilizadas. O cenário, ainda turvo, ficou um pouco mais nebuloso com a informação de que o senador Ricardo Ferraço (PMDB) pode concorrer à Prefeitura, com apoio de Paulo Hartung. Muito água ainda vai rolar até junho, quando se definem as candidaturas, mas as definições já estão em curso.

José Suzano de Almeida*

Vitória

A despedida da deputada Iriny Lopes (PT-ES) da Secretaria de Políticas para as Mulheres, com o anunciado propósito de disputar o cargo, antecipa detalhes fundamentais do desenho da campanha que oficialmente terá início em julho. Não é improvável que a batalha seja polarizada por uma coligação de partidos de esquerda, liderada pelo PT, e forças de extração centrista e conservadora, associadas ao ex-governador Hartung e capitaneadas pelo PMDB ou PSDB.

A posição do Partido Comunista do Brasil sobre o tema tem sido orientada no sentido de viabilizar a unidade dos partidos de esquerda (PT, PSB e PCdoB), que em nossa opinião constitui a principal âncora do processo nacional de mudanças do quadro político, econômico e social, iniciado em 2003 após a histórica vitória de Lula e que tem continuidade sob a liderança da presidenta Dilma.

Foi igualmente este o pensamento dominante na reunião que realizamos na sede do PCdoB, em 14 de janeiro, para discutir a sucessão municipal na capital. Dela participaram os pré-candidatos à Prefeitura do PT, Iriny Lopes, e do PSB, Serjão, e as Direções Executivas do PT, PSB, PCdoB e PV, partidos que formam o núcleo da frente de esquerda no do Espírito Santo.

Não ignoramos que a frente popular que conduziu Lula à Presidência foi ampliada, com a incorporação de partidos de centro, como é o caso do PMDB, mas entendemos que o núcleo de esquerda deve ser preservado para assegurar transformações ainda mais profundas que a nação demanda e precisa. Isto se aplica especialmente à batalha por Vitória.

Foi depois de duros e sucessivos embates contras os neoliberais que os partidos de esquerda, amplamente apoiados pelo povo, conquistaram a vitória, elegendo Lula presidente por duas vezes e Dilma Roussef em 2010. Essas vitórias foram replicadas em todo o território nacional.

No Espírito Santo, em 2004 o mesmo núcleo político de esquerda, formado pelo PT, PSB, PCdoB e ampliado com PDT e PV, elegeu por duas vezes consecutivas o ex-sindicalista João Coser à Prefeitura da capital. Essas vitórias dificultaram as ações da direita no município. Faz todo o sentido afirmar que essas conquistas são legados da esquerda o do povo trabalhador e precisam ser preservadas.

As forças que lutam pelo desenvolvimento econômico, político e social da Capital não devem se dar ao luxo de marchar divididas. Têm de caminhar lado a lado e lutar para vencer as eleições de 2012, manter o comando político e administrativo da capital e avançar mais no rumo de um plano de desenvolvimento municipal, fundado nos interesses populares.

A defesa da unidade dos partidos de esquerda, tanto nas articulações políticas como na administração do município é essencial. É a orientação mais conseqüente para o povo e a segurança de que estamos no rumo certo. A divisão desorienta as massas e favorecem forças conservadores que não veem a hora de subtrair da esquerda o controle do centro político mais importante do Espírito Santo.

O Comitê Municipal do PCdoB de Vitória defende o fortalecimento das candidaturas de Iriny e Serjão para ampliar o debate com o povo sobre o processo eleitoral de 2012 e suas implicações. A abordagem dos grandes temas estratégicos torna os partidos vivos e atuantes e reduz o poder de manipulação de alguns indivíduos, que não só desprezam o papel dos dirigentes partidários como agem à margem dos interesses populares, fazendo prevalecer os interesses reacionários de velhas oligarquias em detrimento das aspirações democráticas do povo.

Marco histórico

Durante a reunião na sede do PCdoB, o presidente do PSB, Cleber Guerra, apresentou um documento elaborado pela Executiva Municipal do partido, onde se afirma que “este encontro de dirigentes dos partidos historicamente aliados, sobretudo PSB, PT, PCdoB e PV deverá constituir-se num Marco Histórico no processo de melhoria da qualidade na prática política em Vitória e por extensão em todo o estado do Espírito Santo, pelas seguintes razões:

“Deverá marcar o fim de um período das atuações isoladas destes partidos e inicio de uma ação mais articulada e eficaz, de retomada da autonomia partidária e aprofundamento da questão ideológica, enquanto rotina e não apenas nos períodos pré-eleitorais.

“A falta de articulação entre esses partidos tem contribuído para avanços das forças conservadoras na capital, que praticam o culto ao personalismo, fazem articulações acima dos partidos, quase sempre sustentadas em trocas fisiológicas.

“Desenvolver a organização interna dos partidos para fortalecer o fórum de debates e prepará-lo para a discussão dos grandes temas. Fortalecer os Diretórios Municipais da Capital para elevar o nível e fortalecer a ação dos parlamentares da Capital.

“Este fórum deverá servir de instrumento para neutralizar o movimento persistente, de articulações acima dos partidos, dos movimentos sociais, e dos próprios eleitores, que defende a candidatura de consenso ainda no primeiro turno num flagrante desrespeito a vontade popular e a democracia.

“Por último, este fórum deverá prestar importante papel na valorização da ação partidária, da representação popular e da vontade do eleitorado na formulação de políticas públicas, para subsidiar melhor as bases de sustentação política dos governos da presidente Dilma, do governador Renato Casagrande e do prefeito João Coser. “

Cleber defendeu a ampliação deste fórum com outros partidos e também reiterou que a Executiva do PSB Vitória–ES está determinada a levar à apreciação do eleitorado a opção socialista para a capital.

A presidente do PV defendeu os pequenos partidos e deu destaque à construção das alianças para ampliar seus espaços de atuação. As negociações justas fortalecem a unidade e os apoios políticos têm que propiciar a eleição de vereadores e abertura de espaços na administração, a fim de que os partidos aliados possam crescer e se consolidar. Ela defendeu a unidade de todos os partidos já no primeiro turno e afirmou que não podemos nos arriscar com duas candidaturas porque corremos o risco de ficar fora do segundo turno,

Por último, encerrando a reunião, Iriny Lopes, pré-candidata do PT, opinou que essa primeira conversa entre os dirigentes municipais dos partidos de esquerda (PT, PSB, PCdoB e PV), além de ser muito importante chegou na hora certa. A deputada ressaltou a importância de retomar o jeito da esquerda de fazer política, debatendo as idéias com os partidos para construir as alianças. Disse que nós temos que vencer a forma autoritária imposta pelos conservadores que se sentem donos vitalícios dos espaços de representação. Devemos evitar “nomeações” como as verificadas em 2006 e 2010. O eleitorado da capital é exigente e vai querer participar ativamente do processo de sucessão na capital.

Entre os nossos desafios, sublinhados por Iriny, destaca-se o de trabalhar os grandes projetos do governo federal e impedir que os projetos sociais fiquem paralisados. O estreito relacionamento com o governo federal abre espaços para viabilizar a continuidade dos projetos em curso, possibilitando a ampliação do crescimento e desenvolvimento da capital com melhor distribuição de renda, melhoria das condições sociais e serviços oferecidos à população, sobretudo nas áreas da educação, saúde e segurança.

A pré-candidata do PT se comprometeu a fortalecer a Câmara Municipal, dialogar amplamente com a sociedade e atuar no caminho de reencontrar o nosso jeito de fazer política. Afirmou na ocasião que sua candidatura é irrevogável e que pretende manter o leque de alianças construído pelo João Coser. Sua saída do Ministério é mais um passo nesta direção.

O PCdoB não medirá esforços para consolidar a unidade dos partidos de esquerda como núcleo principal da frente democrática e popular que deve disputar Vitória em outubro, consciente de que este é o melhor caminho para evitar retrocessos na administração da nossa capital.

*Presidente do PCdoB de Vitória-ES