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Paul Craig Roberts: Previsão para o novo ano

Quando em março de 2010 deixei a minha coluna no Creators Syndicate e pus a caneta de lado, recebi tantos protestos dos leitores que dois meses mais tarde comecei de novo a escrever. Esta renovada atividade resultou neste novo ano num sítio de rede pessoal (ver aqui). 

As minhas colunas vão aparecer primeiro no meu sítio. Os sítios onde os meus leitores estão habituados a encontrá-las podem continuar a publicá-las desde que ligadas ao meu sítio e indicando os direitos de autor. O sítio mantém-se se o apoio dos leitores o justificar. De outro modo, concluirei que o custo do sítio excede o valor daquilo que tenho para dizer.

Este passado ano não foi bom para os 99% e o novo ano parece vir a ser ainda pior. Esta crônica trata das perspectivas sobre a liberdade. A próxima será sobre as perspectivas econômicas.

As perspectivas para a liberdade são tristes. Os escritores críticos das guerras ilegais de Washington e da subversão da Constituição dos EUA podem ver-se em prisão indefinida, porque as críticas às políticas de Washington podem ser consideradas ajudas aos inimigos de Washington, podendo incluir organizações de caridade que forneçam ajuda às crianças palestinas bombardeadas e frotas que tentem fornecer ajuda humanitária a Gaza (ver aqui).  

Os regimes de Bush/Obama estabeleceram as bases para a detenção de críticos do governo sem o devido processo legal. A Primeira Emenda tem sido restringida a todos, menos aos americanos snobs que cantam USA! USA! USA! Washington estabeleceu-se a si própria como procurador mundial, condenando outros países por violações dos direitos humanos, ao mesmo tempo que pelo seu lado bombardeia meia dúzia de países atrasados e ameaça vários outros com o mesmo tratamento, violando de caminho a lei fundamental dos EUA e as convenções de Genebra sobre a tortura a detidos (ver aqui).

Washington cerca vários políticos estrangeiros cujos países sofreram guerras civis e envia-os para serem julgados como criminosos de guerra, enquanto os crimes de guerra próprios continuam a aumentar. Contudo, se alguém denuncia os crimes de guerra de Washington, esse alguém é mantido sem acusação em condições que se aproximam da tortura.

Bradley Manning é o caso em questão. Manning, soldado americano, é acusado de ser a pessoa que forneceu à WikiLeaks o vídeo “Collateral Murder” (“Assassínio Colateral”), o qual, nas palavras de Marjorie Cohn, “mostra forças americanas num helicóptero Apache matando 12 civis desarmados, incluindo dois jornalistas da Reuters. Pessoas que tentaram salvar os feridos foram também alvejadas e mortas.”

Um dos sacrificados era pai de duas crianças pequenas. O video mostra o deleite que o pessoal americano gozou fazendo-os estourar a partir de longe no ar. Quando se tornou evidente que os Soldados da Democracia para o Povo tinham rebentado com duas crianças, em vez de arrependimento ouve-se a voz de um dos carrascos dizendo: “é o que faz trazerem crianças para uma zona de guerra.”

A citação é de memória, mas é suficientemente exata. Quando primeiro vi este vídeo, fiquei espantado com o descarado crime de guerra. É completamente evidente que a dúzia e tal de pessoas assassinadas eram simples pessoas numa rua, não ameaçando ninguém e não fazendo nada de especial. Não se tratava de uma zona de guerra. O horrível é que os soldados americanos tenham estado a jogar um videogame com pessoas vivas. Pode-se confirmar pelos comentários que se divertiam a matar essas pessoas insuspeitas que caminhavam na rua. Divertiram-se matando o pai que parou para ajudar e alvejando o carro com os dois filhos pequenos lá dentro.

Não se tratou de um acidente de um drone, com informação deficiente, a rebentar com uma escola cheia de crianças, ou com um hospital, ou com uma família de agricultores. Tratou-se de soldados americanos a divertirem-se com brinquedos de alta tecnologia matando quem quer que pudessem pretender ser inimigo.

Quando vi isto, percebi que a América está perdida. O mal venceu.

Ia escrever que nada foi feito sobre o crime. Mas, alguma coisa foi feita. Um soldado americano que reconheceu o horrível crime de guerra cometido sabia que os soldados americanos o conheciam e nada tinham feito. Sabia também que, como soldado americano, era seu dever relatar crimes de guerra. Mas, a quem? Crimes de guerra, considerados “danos colaterais”, fazem parte da maior parte das guerras de Washington no século 21.

Um soldado com consciência moral deu o vídeo à WikiLeaks. Não sabemos quem é o soldado. Washington alega que se trata de Bradley Manning, mas Washington mente cada vez que abre a boca. Por isso, nunca saberemos.

Tudo o que sabemos é que o castigo não caíu sobre os perpetradores do crime de guerra. Caíu sobre os dois acusados de o revelarem: Bradley Manning e Julian Assange.

Manning foi mantido quase dois anos sem serem apresentadas acusações a um tribunal. Nas audiências pré-julgamento de dezembro, tudo o que Washington conseguiu apresentar foram acusações cozinhadas. Nenhuma prova. O acusador, um tal capitão Fein, disse ao tribunal que Manning tinha sido “treinado e obtido confiança para usar sistemas de espionagem múltiplos e que usou esse treino para desafiar essa confiança. Abusou da nossa confiança.”

Por outras palavras, Manning mostrou ao mundo a verdade de um crime de guerra que estava a ser escondido, e Washington e o Pentágono encaram um relator da verdade, fazendo o seu dever de acordo com o código militar dos EUA, como um “abusador da confiança.”
No julgamento em tribunal marcial do capitão Ernest L. Medina sobre My Lai em 1970, a acusação diz:

“Um comandante de guerra tem o dever, tanto como indivíduo, como comandante, de garantir que é concedido tratamento humano aos não-combatentes e aos combatentes que se rendem. O artigo 3 da Convenção de Genebra relativo ao tratamento de prisioneiros de guerra proíbe especificamente a violência sobre a vida e a pessoa, em particular, assassínio, mutilação, tratamento cruel e tortura. São também proibidas as tomadas de reféns, as ofensas à dignidade pessoal e julgamentos e sentenças sumários.

Exige que os feridos e doentes sejam tratados. Estas mesmas disposições existem na Convenção de Genebra relativa à proteção de civis em tempo de guerra. Enquanto estas exigências de tratamento humanitário são colocadas sobre cada indivíduo envolvido com as pessoas protegidas, é especialmente incumbente para que o oficial comandante garanta que seja dado tratamento adequado.

“Além disso, todo o pessoal militar, sem distinção de patente ou posição, tem a responsabilidade de relatar qualquer incidente ou ato suposto crime de guerra ao seu oficial de comando tão depressa quanto possível após dele tomar conhecimento. Os comandantes que receberem esses relatos devem também tornar tais fatos conhecidos pelo pessoal do Juíz-Advogado (oficial ligado ao tribunal marcial – N.T.). É evidente que os crimes de guerra não são perdoados e que todo o indivíduo tem responsabilidade por se abster de evitar e relatar tão injustificável conduta. Enquanto que esta responsabilidade individual é de igual modo colocada sobre o oficial de comando, este tem o dever adicional de garantir que os crimes de guerra cometidos pelas suas tropas são pronta e adequadamente punidos” (ver aqui).

O general Peter Pace, Chefe do Joint Chiefs of Staff (Estado-Maior Conjunto – N.T.), afirmou a 17 de fevereiro de 2006 no Clube Nacional de Imprensa que “É responsabilidade absoluta de qualquer militar desobedecer a uma ordem ilegal ou imoral.” O general Pace adiantou que os militares estão proibidos de cometer crimes contra a humanidade e que ordens e acontecimentos desse tipo devem ser tornados conhecidos.”

Contudo, quando Manning procedeu de acordo com o código militar, a sua obediência à lei tornou-se um crime. O capitão Fein continuou dizendo ao “tribunal” [um tribunal a sério rejeitaria acusações falsas, mas a Amerika já não tem tribunais a sério] que “em última instância, ele ajudou os inimigos dos EUA fornecendo-lhes indiretamente informações através da WikiLeaks.”

Por outra palavras, o “crime” constitui uma consequência involuntária de ter cumprido um dever, como os “danos colaterais” de baixas civis quando drones, bombas, metralhadoras de helicóptero e tropas obcecadas com o gatilho matam mulheres, crianças, socorristas e velhos das aldeias. Por que Washington só castiga Manning pelos danos colaterais que lhe são atribuídos?

O capitão Fein não podia tê-lo posto mais claro. Se se contar a verdade e revelar os crimes de guerra de Washington, está-se a ajudar o inimigo. A frase simples do capitão Fein aboliu de uma penada todas as disposições preventivas escritas na lei estatutária dos EUA e na Primeira Emenda e enfia qualquer pessoa dotada de consciência moral e sentido da decência para a detenção indefinida e a tortura.

A detenção ilegal e o tratamento sofrido por Manning teve um propósito, de acordo com várias pessoas bem informadas. Por exemplo, Naomi Spencer escreve que a prolongada detenção e arrastada acusação de Manning tem como objetivo coagir Manning a implicar a WikiLeaks, de modo que os EUA possam extraditar Julian Assange e, ou acusá-lo de terrorismo, ou prendê-lo indefinidamente numa prisão militar sem qualquer recurso a tribunais, a um processo em regra ou à lei (ver aqui).

 O caso de Assange é um mistério. Assange procurou refúgio na Suécia, onde foi seduzido por duas mulheres. Ambas admitiram ter tido relações sexuais com ele voluntariamente, mas depois avançaram com queixas de que quando dormiam com ele na mesma cama, ele teve de novo relações sexuais com elas sem elas terem consentido e que lhe foi pedido que usasse preservativo mas ele não usou.

O gabinete do procurador sueco, depois de investigar as acusações, desvalorizou-as. Contudo, estranhamente, outro procurador sueco, uma senhora suspeita de ligações com Washington, recuperou as acusações e procura extraditar Assange do Reino-Unido para a Suécia para interrogatório.

A questão legal é se um procurador pode pretender a extradição para efeitos de investigação. O Supremo Tribunal do Reino Unido pensa que se trata de uma questão válida e concordou em apreciar o caso. Normalmente, os pedidos de extradição vêm de tribunais e são emitidos para pessoas formalmente acusadas de um crime. A Suécia não acusou Assange de nenhum crime.

A questão real é se o procurador sueco está a atuar em representação de Washington. Muitos que seguem o caso acreditam que Washington está por detrás da reabertura do processo pelo procurador e que, se a Suécia apanhar Assange, o enviam para Washington para ser posto sob detenção indefinida e torturado até dizer o que querem que diga: que é um operacional da Al Qaeda.

É desta maneira que Washington tenciona absolver-se dos seus crimes de guerra, revelados alegadamente por Manning e Assange.

Entretanto, com insolente demonstração de hipocrisia, Washington acusa outros países de violação de direitos humanos, enquanto o Congresso aprovou e o presidente assinou uma lei sobre detenção indefinida e tortura que o Representante dos EUA Ron Paul diz ir acelerar a “derrapagem para a tirania” e a “queda no totalitarismo” por parte da América.

Ao assinar a Lei da Tirania, o presidente Obama disse pensar que a tirania estabelecida na lei não ia demasiado longe. Anunciou que assinava a lei com declarações de assinatura que reservavam o seu direito de, à margem de qualquer lei, enviar cidadãos americanos, privados de um processo normal e de proteção constitucional, para serem torturados no estrangeiro.

É este o governo dos EUA que se reclama um governo de “liberdade e democracia” e que leva “liberdade e democracia” aos outros com bombas e com invasões.

O ano passado mostrou-nos outros desenvolvimentos terríveis da tirania. O presidente Obama anunciou que tinha uma lista de americanos que tencionava assassinar sem processo legal e a Homeland Security (à letra, Segurança da Pátria – N.T.), ela própria um nome orwelliano, anunciou que mudou a sua atenção dos terroristas para os “extremistas internos.” Estes últimos são indefinidos e consistem em quem quer que a Homeland Security assim quiser designar.

Nada disto foi feito atrás de portas fechadas. O assassínio da Constituição dos EUA foi um crime público testemunhado por todos. Mas, tal como Kitty Genovese, que foi apunhalado até à morte em New York em 1964 frente a pessoas que assistiram mas não vieram em seu auxílio, os media, o Congresso, as ordens dos advogados, as escolas de Direito e o público americano não vieram em defesa da Constituição.

A perda de respeito pela Constituição e a sua perda de autoridade, foi um acontecimento trágico durante a minha vida. Compare-se a resposta passiva ao anúncio de estado policial pelo regime de Obama com a fúria popular contra o presidente Richard Nixon sobre a sua lista de inimigos. Tente-se imaginar o presidente Ronald Reagan a anunciar que tinha uma lista de americanos para assassinar sem um processo imediato de impeachment (impugnação de mandato – N.T.).

As forças policiais locais e estatais foram militarizadas não apenas no equipamento e armamento, mas também relativamente à sua atitude para com o público. Apesar da ausência de ataques terroristas no país, a Homeland Security desenvolve buscas sem garantias (warrantless searches) em carros e caminhões nas auto-estradas e nos passageiros dos transportes públicos. Está a ser treinado um serviço federal para violar sistematicamente os direitos constitucionais dos cidadãos e os cidadãos estão a ser treinados para aceitarem essas violações como normais. Os jovens não têm memória de poderem usar transportes públicos ou as estradas públicas sem buscas intrusivas ou de se reunirem em protesto sem serem brutalizados pela polícia. A liberdade está a mudar-se para o reino do mito e da lenda.

Num sistema como este que está a ser construído à frente dos nossos olhos, não há liberdade, nem há democracia. O que está à nossa frente é a pura tirania.

Enquanto a América degenera num estado policial total, os políticos invocam a toda a hora os “nossos valores.” Que valores são esses? Prisão indefinida sem acusação em tribunal. Tortura. Buscas sem garantias e invasão de domicílio. Uma epidemia de brutalidade policial. Restrição do livre discurso e dos direitos de reunião pacífica. Agressão não provocada, chamada “guerra preventiva.” Interferência nas eleições e nos assuntos internos de outros países. Sanções econômicas impostas a populações estrangeiras cujos dirigentes não fazem o jogo de Washington.

Se o estado policial americano fosse apenas uma consequência indesejada de uma guerra real contra o terror, poderia ser desmontado quando a guerra acabasse. Contudo, a evidência é que o estado policial é uma consequência intencional. O Patriot Act é um enorme e claro ataque à Constituição. Não é possível que tenha podido ser escrito no curto intervalo entre 11 de setembro e a apresentação no Congresso. Estava à espera na gaveta.

O desmantelamento das liberdades civis constitucionalmente protegidas é intencional, tal como a acumulação de poderes arbitrários e não controláveis no ramo executivo do governo. Dado que não houve acontecimentos terroristas nos EUA durante uma década, exceto os que se sabe terem sido organizados pelo FBI, nenhuma ameaça terrorista justifica o estabelecimento de um regime político com poderes não controlados. Ele está a ser feito intencionalmente sob falsos pretextos, o que significa que existe uma agenda escondida. A ameaça que os americanos enfrentam está em Washington, D.C.

Dos candidatos presidenciais, apenas Ron Paul se refere à morte da Constituição. No entanto, o eleitorado dedica atenção a assuntos comparativamente sem importância. Submetidos à propaganda tipo 24/7 pelo ministério da Verdade (referência ao romance “1984” de George Orwell, em que os cidadãos de Oceana eram vigiados 24 horas por dia, 7 dias por semana – N.T.), os americanos não estão suficientemente conscientes da sua situação para elegerem Ron Paul como presidente.

Pode ser demasiado tarde para até um presidente Ron Paul mudar o rumo das coisas. O presidente não tem poder se o governo não o apoiar. Que perspectivas teria o presidente Ron Paul de ver os seus candidatos confirmados pelo Senado? O complexo militar-securitário não vai ceder poder. Poderosos interesses financeiros bloqueariam os seus candidatos. Se teimasse em ser problema para o sistema, seria vitimado por um escândalo e falharia a reeleição, se é que não seria forçado a resignar.

Lembremo-nos o que o sistema de Washington fez ao presidente Carter. O seu diretor do orçamento e o chefe de pessoal foram impostos, privando assim Carter de poderes sobre o seu gabinete. Mesmo Ronald Reagan teve que ceder mais de metade do seu governo ao sistema, incluindo o chefe de pessoal da Casa Branca e a vice-presidência. O presidente Reagan contou-me que queria acabar com a estagflação de forma a poder terminar a guerra fria, mas que não podia assinar uma lei sobre os impostos se não escolhesse um membro do seu governo para mandar para o Congresso.

Não sei, mas suspeito que mudar as coisas internamente através do sistema político não faz parte das hipóteses. A nossa possibildade de ressuscitar a liberdade pode vir da confusão em Washington. As ambições imperiais e a sede de poder podem gerar revoltas incontroláveis e perda de aliados.

Ir longe demais no estrangeiro com uma população em casa desmoralizada, desempregada e oprimida não tem condições de sucesso.

Quanto tempo mais vai o governo russo permitir que ONG’s fundadas pelo US Endowment for Democracy interfiram nas suas eleições e organizem protestos políticos? Quanto tempo mais vai a China confundir os seus interesses estratégicos com o mercado de consumo americano? Quanto tempo mais o Japão, o Canadá, a Austrália, a Grã-Bretanha, a Alemanha, a Itália, a Turquia, o Egito e os estados do petróleo do Médio-Oriente vão continuar como fantoches dos EUA? Quanto tempo mais consegue o dólar manter o papel de moeda de reserva quando a Reserva Federal está a monetarizar grande quantidade da dívida?

Quanto tempo mais pode uma “superpotência” sobreviver quando é incapaz de fornecer liderança política?

A salvação da América surgirá quando Washington for derrotada nas suas ambições hegemônicas.

Muitos leitores, especialmente os que vêem a Fox News e a CNN e leem o New York Times podem julgar hiperbólica a minha previsão para 2013. De certeza que muitos acreditam que as medidas draconianas a aplicar apenas serão dirigidas a terroristas. Mas, como podemos saber? Detenção indefinida e tortura não precisam de provas para serem aplicadas. O público americano não tem maneira de saber se os detidos torturados são terroristas ou opositores políticos. A decisão de prender e torturar é uma decisão sem responsabilização. Não assenta em mais do que na decisão subjetiva arbitrária de alguém do ramo executivo. Porque estarão os americanos dispostos a acreditar na palavra de um governo que lhes contou intencionalmente a mentira de Saddam Hussein ter armas de destruição em massa e ser uma ameaça para a América?

Como o câncer, a tirania cria metástases. Aleksandr Solzhenitsyn, o escritor da União Soviética mais famoso, era um oficial do Exército Vermelho na 2ª Grande Guerra duas vezes condecorado. Fez comentários críticos ligeiros sobre a condução da guerra por Staline numa carta privada a um amigo e devido a isso foi condenado a oito anos no Gulag por “propaganda antisoviética”, não por um tribunal, mas in absentia pela polícia secreta NKVD. Nem mesmo Staline tinha detenção indefinida. O mais próximo que os soviéticos estiveram dessa prática medieval desenterrada pelos regimes de Bush e Obama foi o exílio interno em zonas distantes da União Soviética.

Durante a maior parte da era soviética, mesmo a arte, a literatura e a música foram escrutinadas à procura de sinais de “propaganda antissoviética.” Os americanos Dixie Chicks sofreram um destino semelhante, mas mais assustador. Bush não precisou de NKVD, o público americano fez o trabalho da polícia secreta. Conta a Wikipedia:

“Durante um concerto em Londres dez dias antes da invasão do Iraque de 2003, a vocalista principal Maines disse “não queremos esta guerra, esta violência e temos vergonha que o presidente dos EUA (George W. Bush) seja do Texas.” Esta declaração ofendeu muitos americanos, que a acharam ordinária e antipatriótica, e a controvérsia que se seguiu custou à banda metade da audiência que assistia aos seus concertos nos Estados Unidos. O incidente afetou negativamente a sua carreira e levou à acusação das três mulheres como “não-americanas”, assim como a correio de ódio, ameaças de morte, e destruição pública dos seus álbuns como protesto..”

Na Alemanha nazista, a mais leve crítica podia resultar num toque na porta a meio da noite.

As pessoas com poder usam-no. E o poder atrai a pior espécie de pessoas. Conforme Abu Ghraib e Guantânamo provam, as democracias não são imunes ao mau uso do poder. De fato, idêntico tratamento desumano de prisioneiros se passa dentro do sistema prisional dos EUA com criminosos comuns (ver aqui).

 Uma pesquisa no Yahoo em 30 de dezembro de 2011 sobre brutalidade policial produziu 20 milhões de resultados.

Polícias rufiões broncos e supergordos disparam tasers contra crianças e inválidos em cadeira de rodas. Batem nas avós. Os polícias são um horror. Representam maior ameaça para os cidadãos do que os criminosos.

A guerra preventiva, a prisão indefinida, a capitulação, a tortura de pessoas alegadamente “suspeitas” (categoria esta indefinida) e o assassínio, tudo isto são castigos draconianos que não precisam de provas. A guerra preventiva é um conceito orwelliano. Como se previne uma guerra dando início a uma guerra? Como sabemos que um país que não nos atacou nos vai atacar no futuro? A guerra preventiva é como a ideia de Jeremy Bentham’s de prevenir o crime prendendo os que pensamos pelo aspecto estarem predispostos a atividades criminosas antes de que o cometam. Castigar sem crime é agora o “American Way” (caminho americano – N.T.).

Os conceitos que o regime de Bush/Obama institucionalizaram são totalmente estranhos aos conceitos anglo-americanos de lei e liberdade. Numa década, os EUA transformaram-se de sociedade livre em estado policial. A população americana, na medida em que está consciente do que aconteceu, aceitou simplesmente a subversão vinda do topo.

Ron Paul é o único americano concorrente à presidência que se opõe à tirania que foi institucionalizada e não está à frente nas sondagens.

Isto diz-nos tudo o que precisamos saber sobre o valor que os americanos dão à liberdade. Os americanos parecem acolher bem a era de tirania na qual estão a entrar.

Fonte: O Diário.Info

Tradução: Jorge Vasconcelos