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Fernando Soares Campos: Frustração de Infância

Durante muitos anos me senti frustrado por não ter conseguido matar a minha professora do segundo ano primário. Só matei o seu gato e cachorro de estimação.

Por Fernando Soares Campos

Mas eu não era tão mau assim como alguém possa imaginar. Não matei o papagaio da avó de minha professora, pois o bicho vivia com ela há mais de cinquenta anos. Roubei o papagaio e o vendi na feira.

Acusaram-me, durante alguns anos, pela morte da avó da minha professora; falavam que a velha morreu de desgosto pelo desaparecimento do papagaio; mas eu não acredito nisso, pois o que a matou mesmo foi aquele seu desespero sem causa, aquele histerismo por causa do desaparecimento do papagaio. Ela era uma pessoa muito nervosa!

Entretanto, não senti dó quando a professora escorregou em sala de aula e fraturou a bacia. Quem mandou ela escorregar na casca de banana que deixei nas imediações do quadro-negro?! Além do mais, não foi pra ela que eu coloquei a casca de banana. Foi para um colega exibicionista, que sempre se apresentava para resolver as questões que a professora escrevia no quadro.

Só sei que me senti frustrado por não ter matado minha professora. O marido dela me roubou esse prazer. O cara matou a mulher para ficar com Aninha, uma colega nossa da escola, que sempre ia à casa da professora a fim de tomar reforços escolar. Mas todo mundo sabe o que ela ia tomar mesmo. E onde!

Porém, hoje a Aninha, que já não é tão "inha" assim, está viúva. E falam por aí que o veneno para rato que ela comprava no armazém não era bem para os ratos. Sei lá!

Mas alimento a esperança de que a Aninha tenha se vingado. Não da morte da professora, pois esta mereceu o fim que teve. Espero mesmo que a Aninha, que tanto gostava de mim, tenha se vingado de ele ter me roubado o direito e prazer de matar minha professora