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‘Cajueiros dos Papagaios’ 157 anos depois

Possui cerca de 900 mil habitantes, com área total de 181 km² e altitude de 4m. É quarta capital que mais investe com recursos próprios e com maior índice de desenvolvimento no Nordeste. Terra dos papagaios e caranguejos, dos cajueiros frondosos, das mangabas e dos coqueiros, dos muricis e araçás, cidade de povo ordeiro, trabalhador, diligente e hospitaleiro.

Da Redação do Vermelho, Joanne Mota

Será possível saber que município é este? Tais características são do município brasileiro que é capital do menor Estado da Confederação, Sergipe. Esta é Aracaju, uma cidade que tem a história cheia de lances dramáticos, às vezes até pitorescos, que há 157 anos nasceu de uma resolução da Assembleia Provincial da época, fato que alterou, significativamente, a história do seu Estado.

Aracaju é uma jovem cidade de 157 anos, construída a partir de uma decisão do então governador da província, Ignácio Joaquim Barbosa, que resolveu mudar a capital de São Cristovão e instalá-la na foz do Rio Sergipe. Ao expandir rumo ao sul do estado, a nova Capital também ocupou os estuários dos rios Poxim e Vaza-Barris, o que garantiu o desenvolvimento econômico do estado à época. Além do porto, razão que fundamentou a transferência da capital, Aracaju possuía culturas que sustentaram seu desenvolvimento, como a cana-de-açúcar, atividade produtiva do vale do Cotinguiba; algodão, especialmente os trapiches, que nutria as fábricas têxteis e as vilas operárias no novo município.

A pesquisadora Lenalda Andrade explica que a transferência da metrópole foi baseada na articulação governamental que dominava a política brasileira no século XIX. O país era marcado por uma ‘política de conciliação e trabalho construtivo’, reflexo das grandes iniciativas econômicas do Barão de Mauá, que expirava a modernização e dirigia a uma ampliação territorial, política e econômica.

Assim, em 17 de março de 1855, a colonial São Cristovão deu lugar ao povoado Santo Antônio de Aracaju, que logo depois se tornou Aracaju, segunda capital planejada do Brasil. O engenheiro Sebastião José Basílio Pirro fez um plano que se resumia a um alinhamento de ruas em linha reta, dentro de um quadrado de 1.188 metros, que formam quarteirões simétricos que lembram um tabuleiro de xadrez, a fim de desembocarem no Rio Sergipe.

Construção de uma nova Capital

Com a mudança da metrópole, Sergipe passou o final do século XIX estruturando sua nova Capital para receber a elite da época. No inicio do século XX, já com certa estrutura, a nova Capital floresce política e socialmente, o que impulsiona o desenvolvimento industrial, principalmente da indústria têxtil.

A pesquisadora Lenalda Andrade destaca que o desenvolvimento da indústria no início do século passado foi fundamental para complementar o setor econômico do Estado.

“O desenvolvimento da indústria sergipana no início do século XX possibilita ao Estado um crescimento muito favorável, o complexo têxtil passou a se articular com o capital comercial, expandindo assim o comércio de confecções. A partir daí constatamos uma intensificação e diversificação da indústria sergipana”, explica a pesquisadora, destacando a importância da Sudene e da Petrobras no processo de expansão econômica e social do Estado.

Lenalda Andrade ainda acrescenta que o estado de Sergipe apresenta um bom histórico de aproveitamento no que diz respeito ao ambiente da economia brasileira, sobretudo a partir dos anos de 1960 com a chegada da Petrobras no Estado. “O Brasil dos anos 90, por exemplo, nos traz a construção de uma trajetória cada vez melhor, com mais dinamismo das exportações e elevação das reservas, além de políticas sociais mais ativas com impacto na distribuição de renda e no consumo popular”, explica.

“O potencial do mercado nordestino mostrou às grandes indústrias a expansão de consumo das classes. No final do século XX, o desempenho industrial de Sergipe supera a média do nacional, segundo dados do IBGE e da Secretaria de Estado de Planejamento, o que sinaliza mudanças fundamentais não só no setor econômico, mas também no político”, complementa a pesquisadora.

Uma cidade de todos

Em entrevista ao Vermelho, o secretário municipal de Assistência Social e Cidadania, Bosco Rolemberg, falou sobre a atual Aracaju. Parabenizou esta caçulinha brasileira e destacou seu papel frente ao cenário nacional.

Segundo ele, houve uma mudança no cenário político no inicio de 2001, que reconfigura o papel da cidade. “Aracaju sempre foi uma capital independente e com significativo grau de desenvolvimento. E nesta década, deu mais um passo quando nossos governantes passaram a olhar para o povo e trabalhar por ele. Isso muito influenciado pelas políticas do ex-presidente Lula, que com retirada de milhões da extrema pobreza possibilitou aos brasileiros, de forma geral, e aos aracajuanos de forma particular, um momento ímpar para a sua história”, elucida o secretário.

Segundo Rolemberg, uma marca forte da atual gestão e que possibilitou mudanças estruturais e significativas para a capital foi romper com o tradicional bloco conservador e ver Aracaju em cada aracajuano.

“O diferencial das gestões do PCdoB/PT foi justamente o rompimento com as bases históricas construídas pelas grandes famílias do estado, estas que se consolidaram a partir do agronegócio e se mantiveram por décadas no comando dos governos municipal e estadual em Sergipe. Essa quebra abriu caminho para um novo modelo de governo, primeiro com Marcelo Déda (PT-SE) e depois com Edivaldo Nogueira (PCdoB-SE)”.

O secretário destacou alguns pontos centrais que, a partir de uma gestão democrática, transformaram o cenário social de Aracaju:

“Avançamos no que se refere à participação popular, com a implantação, por exemplo, dos conselhos nos bairros; renovamos nosso sistema de urbanização, seja na lógica do tráfego, seja nas modalidades sustentáveis, como por exemplo, a implantação da maior malha cicloviária do Brasil, projeto que se tornou modelo em todo país; chamamos a população para discutir o plano diretor, com amplas audiências públicas e com foco em uma planejamento de longo prazo; somos a quarta capital que mais investe com recursos próprios, o que reflete o compromisso de nossa gestão com o patrimônio de Aracaju. Ao todo, Aracaju tem hoje, em andamento, mais de 200 milhões em obras em todas as áreas de desenvolvimento”, frisa Rolemberg.

Sobre os aspectos culturais, o secretário disse ao Vermelho que além da ampliação dos festejos juninos, festa tradicional do estado, hoje Aracaju resgata seu tradicional carnaval de rua, rememorando lances históricos da tradição cultural da pequena capital. “Somos um povo festeiro. Por isso traçamos um planejamento com foco no turismo. Desse modo, seja no carnaval, São João ou no Natal Aracaju tem tradição e além de festejar aquece sua economia e revela sua cultura para o Brasil e o mundo. Hoje, após longo trabalho, compomos a agenda do turismo nacional. Também somos ponto de parada”, finaliza o secretário.

Pequena, porém paradoxal

Depois de 157 anos de desenvolvimento político, econômico e social a pequena Aracaju se torna uma Capital paradoxal, pois é possível ver entre suas obras faraônicas o jeitinho provinciano peculiar do aracajuano.

Ainda se pode encontrar vizinhos sentados em cadeiras às portas das casas nos fins de semana, mediante às inúmeras opções de diversão; um número infinito de bicicletas trafegando à medida que o número de carros parece maior que o de habitantes; shoppings e lojas cada vez maiores enquanto as pequenas mercearias lutam bravamente pela sua permanência; carroças perambulando em meio aos carros importados; carnaval fora de época nos trios elétricos contrastando com marchinhas nos bailes e blocos de rua durante a festa de momo; bairros nobres com mansões e residênciais arrojados, e bairros tradicionalistas, onde nem se cogita a possibilidade de alterar a arquitetura.

Essa é Aracaju, a capital de Sergipe. Pequena no tamanho, porém grande na ousadia.