Jornal Tribuna do Planalto entrevista Isaura Lemos

 Com circulação em todo estado de Goiás, o jornal semanal Tribuna do Planalto (18 a 24 de março) entrevistou a pré-candidata do PCdoB à Prefeitura de Goiânia. Segue abaixo na íntegra.

 Isaura Lemos afirma que prefeito Paulo Garcia a incentivou, de forma irônica, disputar eleição na Capital

Eduardo Sartorato, Filemon Pereira e Péricles Carvalho

 
O PCdoB desembarcou oficialmente da administração municipal em Goiânia na semana passada. O motivo é a pré-candidatura da deputada estadual Isaura Lemos à prefeitura de Goiânia. Como o partido não aceitou retirar a pré-candidatura de imediato, o prefeito Paulo Garcia (PT) decidiu não contar mais com o PCdoB no Paço. De acordo com Isaura, a decisão demonstra uma "pressa" do prefeito, que poderia ter levado a interlocução até junho, data da definição das candidaturas. Isaura deixa a entender que o prefeito foi precipitado ao encerrar as negociações com o PCdoB e que, por isso, perderá um aliado histórico. Isaura, aliás, diz que Paulo praticamente a jogou na disputa, com um irônico incentivo para que ela se candidatasse. Ela reafirma sua candidatura, mas demonstra ter disposição para o diálogo com os demais pré-candidatos, até mesmo com Paulo Garcia. Em litígio com o Paço, Isaura também demonstra um acirramento com o secretário estadual de Educação, Thiago Peixoto. De acordo com ela, a falta de diálogo do secretário dificulta uma solução para a greve na Educação, que já ultrapassa 40 dias. A deputada, inclusive, defende a demissão do secretário. "Um secretário que tem esse tipo de postura não serve para ser secretário e acho que o governador está errando mantendo ele", avalia. Isaura Lemos visitou a sede da Tribuna do Planalto na sexta-feira, 16.
 
Tribuna  – A Assembleia está com problemas de falta de quórum há alguns dias e a oposição acusa os deputados de fugir dos debates com os professores em greve. Como a sra. avalia isso?
Isaura Lemos – Eu vejo a responsabilidade dos dois lados, porque nós recebemos os professores na sala da presidência com tranquilidade para um posicionamento dos deputados e dos professores. E não houve esse debate, houve apenas acusações de ambos os lados.  É preciso que quando há perda de proposta, eu votei contra o achatamento do plano de carreira dos professores, redimensionar e ver o que é possível fazer, o que podemos propor para perder menos. É claro que a vontade é de não perder nada, mas eu penso que chegar na tribuna e ficar atacando os professores não é a saída, mas por outro lado, os professores utilizarem a tática de não deixarem as sessões ocorrerem também não é o melhor caminho. Deveria ter havido uma discussão e, por exemplo, ir para Brasília para ver a questão. Tem de começar ter uma forma de dialogar mais ponderada e inteligente, ainda mais diante de um adversário tão insensível, até porque muitos deputados sequer assimilaram do que se trata essa perda para os professores.
Os deputados da oposição ameaçam colocar uma emenda nesse projeto na CCJ sobre reposição para os servidores para a volta da titularidade. A sra. apoia?
Defendo mais no sentido de colocar novamente em debate o plano de carreira dos professores. Mas isso não vai ocorrer. O que vai resolver essa questão é entrar no mérito, ver quanto o governo estadual arrecada e qual é a viabilidade de pagar o plano de carreira e o piso. Caso não dê, recorre-se ao governo federal.
Ao tirar esse plano de carreira da Educação o Estado perdeu o diálogo com os professores?
Primeiro que foi falacioso, porque levou a matéria como uma conquista, uma matéria boa, que incorpora as gratificações aos salários. Isso causou indignação, esse tratamento com os professores. A gente compreende a impotência dos professores diante da situação, com o secretário insensível, não há muito o que fazer e eles são levados a gritar.
O secretário Thiago Peixoto perdeu a interlocução com a categoria?
Ele nunca teve, e não é uma pessoa de interlocução. Ele acha que sabe e que o que ele faz está certo, e pronto. Então, um secretário que tem diálogo, ele abre a conversação. Ele deveria ter mostrado a situação, pegado o Sintego e ter ido ao governo federal. O sindicato deveria ter acompanhado toda a movimentação. Não é só Goiás, são poucos Estados que pagam o piso, são problemas nacionais. Por isso devemos levar esse problema ao governo federal.
A sra. avalia haver condições para que ele continue à frente da secretaria?
Por mim ele já deveria ter sido tirado. O mínimo que um secretário deve fazer é ter diálogo com a população, para avançar nas propostas. Foi preciso colocar o Ministério Público para ser interlocutor. Isso não poderia ter sido feito lá atrás? Isso é prejuízo para os professores e para os alunos. Os professores não estão de férias, estão em greve, só quem passa por uma greve sabe o quanto é desgastante. Os alunos perdem aula e vão ter que repor depois.
Foi acertado o corte do ponto dos professores?
Isso foi errado. Poderia ter sido colocado, mas, por exemplo, quando se teve a possibilidade dos professores retornarem, ele deveria ter levantado o não corte de ponto. Mas ficou naquela de que ia pagar a metade agora, e o resto depois. Os professores precisam do salário e vão ter de repor as aulas. Um secretário que tem esse tipo de postura não serve para ser secretário e acho que o governador está errando mantendo ele lá. Não é um técnico da área, não tem sensibilidade.
Para a sra. ele não entende as demandas da educação?
Isso, ele não entende. Uma frase que ele disse na reunião com líderes de partidos deixa isso claro. Ele disse que na época da Raquel, no primeiro mandato de Marconi era preciso qualificar os professores. Mas que agora é preciso focar no desempenho dos alunos. Agora, como você foca no desempenho dos alunos sem investir na qualificação dos professores? Isso precisa ser permanente. O professor precisa do plano de carreira para ter um motivo a mais para se qualificar.
O prefeito Paulo Garcia promoveu uma reforma administrativa dando posse a novos secretários e o PC do B faz o caminho inverso e deixa a prefeitura de Goiânia. O que deu errado nessa relação?
O que deu errado foi a pressa do Paulo. Foi a falta de uma visão mais global da questão, porque normalmente os partidos discutem essa questão e conversam as possibilidades de coligações e em junho decide-se. E nós temos o tempo todo conversado com o prefeito e colocamos nossa pré-candidatura. Mas nós ajudamos a escolher a atual administração e estamos envolvidos inclusive na obra do Mutirama, é um projeto do secretário Luiz Carlos Orro, ele pensou o projeto daquela maneira que está sendo executada e será um parque muito bonito. Houve toda essa problemática, mas já foi provado que não houve nenhum desvio, até porque não era o Orro quem fazia os pagamentos e as licitações. Então era preciso fechar esse ciclo e agora nós precisamos reafirmar ou não nossa candidatura. Mas o prefeito Paulo Garcia resolveu antecipar essa discussão e abrir mão de um aliado que sempre foi leal a ele. O PC do B sempre apoiou a administração e eu acho que em política é preciso sempre agregar. Mas ele [o prefeito] disse: “lança sua candidatura”. Então, agora mais do que nunca, sou candidata.
Caminharia para uma aliança? Até porque a candidatura dele é consolidada. Não seria natural o PC do B recuar e apoiá-lo?
Não seria natural. Não podemos dizer que seria de determinada maneira porque na política a dinâmica é muito rápida. Eu estou muito bem pontuada nas pesquisas e agora começo a trabalhar em uma agenda, ver os problemas da cidade e ver no que eu posso ir além. Eu penso que na política tem tempo certo, e eu acho que o que aconteceu foi que ele 'comeu a fruta verde'.
Falava-se nos bastidores que o PC do B queria indicar o secretário da Habitação com essa reforma do Paço. Isso é verdade?
Não, esse sonho nós já deixamos há tempos. Isso tudo vai ser utilizado como justificativa falaciosa para a nossa postura. A partir do momento que não tivemos o compromisso cumprido pelo (ex-prefeito) Iris (Rezende), quando ele recebeu a Tatiana (Lemos, vereadora) e disse que as coisas mudavam. Na época havia sido prometida a secretaria de Habitação para ela, para o PDT na época, e acabou não acontecendo. Então, agora não havia essa possibilidade até porque o Luiz Carlos estava no Esporte e Lazer. O que queríamos é que ele ficasse para terminar o que começou.
 
A visão do Paço é de que o PC do B tinha uma pasta, que sofreu com várias denúncias, e teria sido sustentado pelo prefeito, e que no momento de apoiar a candidatura a reeleição, vocês declinaram. Como a sra. vê isso?
Bom, essa pode ser a versão dos bastidores, mas o núcleo duro do Paço sabe que o Luiz Carlos Orro foi muito leal ao Paulo Garcia. Quando aquele bombardeio em cima da Semel, com foto do secretário, ele assumiu o tranco, e poderia ter dito que não tinha nada com aquilo.
Então não foi um erro ele ter assumido a responsabilidade?
Exatamente. Por nós ele não assumiria. Ele assumiu, foi companheiro e deixou que o desgaste fosse para ele e não para o prefeito. Acho que tanto Paulo quanto Luiz foram leais um ao outro.
O diálogo com o PT e com o Paulo Garcia continua aberto?
O diálogo não está, em hipótese alguma, descartado. O prefeito lançou minha candidatura. Eu nunca vi um prefeito lançar a candidatura própria de outro partido, então agora eu sou candidata. Nós vamos conversar nesse sentido. Não há mais possibilidade de recuo.
A sra. é deputada da base do governo. Há diálogo para apoiar um candidato do governo?
Eu sou da base do governo em questões pontuais. Tenho uma conversa com o governo no sentido de contribuir para a construção de casas, habitação de um modo geral, questões relativas à reforma agrária. Então é uma área muito estrutural e se eu não tiver interlocução com o governo eu não faço nada. Eu falo de secretário de governo, mas também dialogo com o governador, então é assim a nossa relação.  Não há possibilidade de apoiar uma candidatura da base do governo. Apesar de Jovair (Arantes) ser da base da Dilma, o partido dele nunca trabalhou com o nosso aqui em Goiânia, não é da identidade do PC do B. Mas ainda vamos conversar com o Jovair, conversamos com o PDT, PR, PMN. Eu falei para o Jovair que converso até o último minuto e não digo não, mas no mometno, percebo que a nossa proposta é muito diferenciada e queremos a candidatura própria.
Tem outra candidatura de esquerda sendo formatada, com o PSOL, PCB, PSTU. Tem diálogo com esses partidos?
Até hoje nós não dialogamos, mas quero procurá-los e vamos com certeza conversar. Vamos ver se podemos chegar em um denominador comum.
A sra. acredita que a candidatura do Elias Vaz pelo PSOL representaria essa linha dos movimentos sociais?
Eu não vejo o Elias Vaz como candidato de esquerda, eu o vejo como denuncista, assim como o PSOL.
Deputada, pelas pesquisas que teve acesso, como a sra. analisa o quadro eleitoral?
Hoje nós estamos meio sem parâmetros, a última pesquisa que vimos foi a da Tribuna, apesar de que tem pesquisas encomendadas, e não sabemos se são idôneas. A Grupom fez uma pesquisa de quem é conhecido, e o quadro hoje, sem Demóstenes, é totalmente diferente. Precisamos de uma nova pesquisa para ver o que ficou. Ainda mais agora, em que Demóstenes já não é mais uma figura de tanta força na sociedade, porque antes era porta-voz da ética, e hoje pairam dúvidas. É claro que pela força da máquina, o Paulo Garcia deve continuar na frente, ele tem um terço do tempo total de televisão, e eu não estou vendo movimentação do candidato do PSDB. Embora tenha ocorrido aquela festa meio forçada eu acho difícil que as lideranças não cruzem os braços. O candidato do governador está no meio dos japoneses, porque é o menos conhecido. Eu estou junto com o Sandes. Dizem que o Elias subiu bastante também.
Até que ponto as dificuldades na administração do governo estadual vai influenciar nas eleições municipais?
As dificuldades do governo repercutem como uma bomba, porque como dizer que vão melhorar a saúde, educação e transporte se até agora não melhoraram nada? Isso pesa, porque os fatos pesam. Não tem como dissociar isso.
Hoje não tem um candidato com grande penetração na periferia, e é lá que se definiram as últimas eleições. É por lá que sra. vai buscar votos?
Com certeza. É minha maior base. Onde eu tenho mais facilidade é na baixa renda e na periferia, e é lá que eu tenho história, eu passei por praticamente todas as manifestações populares. Paulo não é candidato da periferia, só com a ajuda do Iris. O Sandes também é um candidato de periferia, mas não tem a base de trabalho. Ele é querido por ter essa interlocução diária. Eu sou a candidata da periferia.
As pessoas conhecem Leonardo Vilela na periferia da capital?
De jeito nenhum. Eles perguntam se eu estou falando do Maguito Vilela.
Como foi a saída do PDT?
Eu deixei muitos amigos no PDT, mas é uma página virada. Na política se a gente não tem um rumo, acaba fazendo muito bobagem. É preciso deixar as questões sentimentais de lado, não tratar com o fígado. Então, hoje eu trato de questões políticas com a deputada Flávia Morais. Hoje eu estou no PC do B, estamos reconstruindo o partido, estamos crescendo muito.

Fonte: www.tribunadoplanalto.com.br