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Militarismo é a atividade que prospera na economia

Os efeitos da crise financeira internacional, cada vez mais presentes em uma economia dominada pela globalização, não atingem o promissor e multimilionário comércio de armas e serviços militares, que ganha cada vez mais espaço.

Por Camila Carduz, em Prensa Latina

Em um meio onde se escutam com frequência os termos pobreza, fome, volatilidade e dívidas não pagas, dados do Instituto Internacional de Estudos para a Paz de Estocolmo (SIPRI, na sigla em inglês) mostram os ares de bonança que permeiam esse negócio.

As estatísticas revelaram que as vendas de armas e serviços das 100 principais companhias vinculadas à atividade chegaram a 411 bilhões de dólares em 2010, com um crescimento de um por cento em relação ao ano anterior.

Na mesma tendência, o volume das vendas internacionais de armas no período 2007-2011 foi 24% superior ao de 2002-2006, e os cinco maiores importadores foram todos Estados asiáticos.

Ásia e Oceania realizaram 44% das importações globais de armas, seguidas pela Europa (19%), Oriente Médio (17%), América (11%) e África (nove por cento).

A relação das cem empresas que lideram a atividade tem 44 companhias estadunidenses, as quais concentram 60% do valor total das transações.

São trinta as firmas europeias responsáveis por 29% do negócio.

No entanto, a concentração é evidente ao avaliar que as 10 primeiras da lista contribuem com 56% das vendas, equivalentes a 230 bilhões de dólares.

Obviamente, sete delas são estadunidenses, e em primeiro lugar está Lockheed Martin – especializada em aeronaves, equipamentos eletrônicos e mísseis – com transações em 2010 que totalizaram 35,7 bilhões de dólares.

Representando o Velho Continente está a britânica BAE Systems, em segundo lugar com 32,8 bilhões, 880 milhões de dólares; enquanto que a italiana Finmeccanica é oitava com 14,4 bilhões de dólares.

Navios, aviões de última geração, veículos blindados de diversos tipos, armas leves, mísseis, radares e munições se combinam com serviços de manutenção, logística e inclusive treinamento para gerar despesas milionárias.

Especialistas do SIPRI afirmaram que o comportamento dos negócios reflete a existência de lucros constantes, sem indício algum de impacto negativo gerado pela crise financeira internacional.

É evidente que as quantias manejadas nada têm a ver com a ameaça de recessão, flagelo que já afeta várias economias da zona do euro como a Itália, a Grécia e Portugal.

O negócio das armas e os serviços militares ignoram também a existência de bilhões de pessoas em todo o planeta que se encontram sob os efeitos da fome.

Só para adensar a reflexão: os dados do Banco Mundial indicam que com um dólar per capita anualmente, mais de quatro bilhões de pessoas se beneficiariam com o consumo de trigo enriquecido, ferro, alimentação complementar e micronutrientes em pó.

Essa cifra é menos que a metade do custo total de um porta-aviões de nova geração do tipo CVN-78 (9,7 bilhões de dólares). O governo dos Estados Unidos espera possuir pelo menos três unidades desse porta-aviões nos próximos 10 anos.

As cifras são eloquentes, considerando que os 10 sistemas de armamentos mais caros no mundo acumulam 868 bilhões de dólares ao adicionar os custos de pesquisa, desenvolvimento e produção.

Em matéria de mísseis, a Lockheed Martin desenvolveu o programa do Trident II a um custo aproximado de 53 bilhões de dólares e com um preço de 65,7 milhões por unidade. O orçamento de defesa dos Estados Unidos contabiliza 561 dessas pérolas.

Também está a aeronave P-8A Poseidon, dedicada a patrulhar os mares e à luta antissubmarina, valorizada em 206 milhões de dólares por nave, que custou 33 bilhões de dólares para desenvolver e produzir.

Aviões de última geração como o F-35 (109,5 milhões de dólares por unidade), o F-22 Raptor (211,6 milhões) e o F/A-18E/F Super Hornets (90,8 milhões de dólares) fazem parte da lista de sofisticados dispositivos de morte.

Figura também o submarino nuclear classe Virgínia, com um custo unitário de 2,5 bilhões de dólares e capaz de transportar até 38 tipos diferentes de armamentos, entre eles torpedos, minas e mísseis.

Tudo isso é só uma mostra das dimensões do negócio bélico, em estável expansão apesar das turbulências na economia mundial.