Para governador, relação de políticos com Cachoeira é normal
Depois do escândalo das gravações que mostraram a relação estreita do senador Demóstenes Torres (ex-DEM) com Carlinhos Cachoeira — preso pela Polícia Federal por explorar jogos ilegais —, o governador Marconi Perillo (PSDB) não tem dúvidas: "Todos os políticos importantes de Goiás tiveram algum tipo de relação ou de encontro com o Carlos Ramos, como empresário e dono de indústria de medicamentos em Anápolis, que se relacionou durante muito tempo com várias personalidades da sociedade goiana".
Publicado 09/04/2012 10:51
Pegos nos grampos da PF em conversa com Cachoeira, sua chefe de gabinete Eliane Pinheiro, e o presidente do Detran, Edvaldo Cardoso, se demitiram na semana passada. O governador tucano admite que conversou com Cachoeira, uma vez, por telefone, e que chegou a receber, no palácio do governo.
Gravações divulgadas nas últimas semanas pela Polícia Federal indicam que a relação de Carlinhos Cachoeira com Demóstenes Torres interferia diretamente na atuação parlamentar do senador. Em uma das conversas, Demóstenes fala abertamente com Cachoeira sobre um projeto que — na opinião do senador — não era favorável ao “amigo”. O envolvimento de outros parlamentares e o alcance da “influência” e do poder de Cachoeira no Legislativo ainda estão sendo investigados.
Estadão: Você teme que o envolvimento do seu nome lhe prejudique?
Marconi Perillo: Estou muito tranquilo em relação ao que aconteceu. Asseguro que jamais houve qualquer omissão do governo goiano em relação a ilícitos. Falta um tempo para o início da campanha municipal e espero que tudo seja esclarecido até lá. Mas como este é um assunto que está sendo jogado só nas costas de políticos da oposição, pode pairar alguma dúvida. Meu partido me conhece, e conhece meu procedimento ao longo de toda minha vida pública. Mesmo assim, alguns devem ter algum tipo de dúvida, afinal é um assunto que ganhou a imprensa nacional.
Estadão: O PSDB estranhou o fato de sua chefe de gabinete ter sido flagrada em conversas telefônicas com o Cachoeira. Como ela foi parar em uma função tão próxima do governador?
Marconi Perillo: Fiquei tão assustado quanto meus companheiros. Eliane trabalhou com a deputada Lídia Quinan, depois com Fernando Cunha na secretaria de governo. No governo anterior, ela passou dois meses rodando o estado inteiro, me ajudando, com um grupo de oito amigos que alugaram uma Kombi e formaram o núcleo voluntário mais aguerrido da campanha. Quando ganhei a eleição, jamais poderia não prestigiar pessoas como ela. Soube dessa relação (com Cachoeira) quando houve o episódio (a operação da PF). Posso afirmar que é pessoa corretíssima, que não tem qualquer ligação com jogo, caça-níquel, ilegalidade. Nenhum dos citados, ligados a mim, foi relacionado a ilícitos e contravenção. Ela pediu demissão, mas me vejo com dever defendê-la.
Estadão: Se o Cachoeira a avisa de uma operação da PF em prefeituras do interior goiano, como em Águas Lindas, a informação era do seu interesse e deveria ser passada ao governador?
Marconi Perillo: Jamais. Ela me disse que tinha uma relação de amizade muito forte com o prefeito e a família do prefeito de Águas Lindas. Talvez tenha sido por isto que o empresário a tenha avisado. Mas ela foi muito categórica comigo, dizendo que não tem envolvimento e que nem avisou o prefeito.
Estadão: Você foi adversário do senador Demóstenes Torres e depois virou aliado. Nos últimos tempos, como era essa relação política?
Marconi Perillo: Minha relação com Demóstenes foi uma relação de altos e baixos. O conheci pessoalmente em 1998. Ele nem havia votado em mim para governador, mas achava que era importante trazer alguém do Ministério Público para ser o secretário de Segurança, e ele tinha sido duas vezes procurador-geral de Justiça. Era muito novo, queria formar um secretariado eclético e acima de qualquer suspeita em credibilidade e competência.
Estadão: Não percebeu a proximidade dele com Cachoeira?
Marconi Perillo: Uma campanha como a que disputamos é tão difícil e corrida que mal dá para conversar. O Demóstenes sempre andava com um carro atrás do meu e fizemos poucos comícios. Sinceramente, não conversávamos sobre esses assuntos. Mas é importante dizer que numa hora como essa não dá para haver hipocrisia. Todos os políticos importantes de Goiás tiveram algum tipo de relação ou de encontro com o Carlos Ramos, como empresário. Ele é dono de indústria de medicamentos em Anápolis, que se relacionou muito tempo com várias personalidades da sociedade goiana.
Fonte: O Estado de S. Paulo