Estudo: especialistas viajam ao centro da juventude cubana

Indagações científicas recentes que tomam como pontos de referência pesquisas de quando esse século nascia, mostram nas novas gerações características em que se adverte o propósito de canalizar, com mais ou menos êxito, seus anseios com o cenário de mudanças do país.

Tendo consciência de que na juventude habitam a força, o cristalino, a esperança e a contumaz necessidade de mudar, os estudiosos cubanos não deixam de considerar essa parte da população do arquipélago, sobretudo agora que a sociedade vive importantes transformações nas quais o papel dos “novos” resulta central.

Indagações científicas empreendidas há muito pouco pelo Centro de Estudos sobre a Juventude (CESJ) – que se propuseram a caracterizar de modo mais fiel os jovens com suas certezas, incertezas e expectativas -, apresentam um grupo populacional muito heterogêneo, que vai mudando junto com os reajustes nos quais esta configurada a sorte do país.

Em todas as províncias foram estudados, no início de 2011, cubanos entre 15 e 29 anos de idade. Com essa premissa colocaram a lupa sobre três etapas de desenvolvimento: os adolescentes (entre 15 e 19 anos), os jovens (entre 20 e 24 anos) e os jovens adultos (entre 25 e os 29).

Similar a indagações realizadas a princípios do presente século, os jovens brancos representam algo mais de 6% da mostra, composição que corresponde com a distribuição demográfica do país. Os mestiços ocuparam quase 27% e os negros pouco mais de 12% do total dos pesquisados.

Aumentaram os níveis educacionais

Uma das mudanças positivas notáveis que revelam os recentes estudos é a elevação dos níveis educacionais vividos pela juventude cubana no transcurso do último decênio. Os índices atuais de instrução podem ser definidos como altos, afirmam os pesquisadores.

Nos termos do que foi explorado no ano de 2011, se aos graduados de nível pré-universitário, soma-se os que concluíram o ensino médio politécnico, se chega a um total de 57,7% de jovens com o nível médio superior concluído. Esse número de cubanos com alta instrução cresce (66,8%) se adicionados os universitários (9,1%). Enquanto a última cifra mencionada nesse parágrafo, vale destacar que essa proporção duplica em relação a 2004.

Não obstante, existe um grupo de jovens (2,6%) que só alcançou o primário ou não chegou a terminá-lo, o que, segundo expressam os investigadores, pode ser resultado da evasão escolar, se se tem em conta a idade dos jovens e o caráter obrigatório do ensino geral até o ensino médio básico. Por certo, o grupo dos que concluíram só o primeiro nível, diminuiu notavelmente em relação com medições de 2004.

A maior quantidade de pessoas que não tem nenhum nível de escolaridade concluído são homens. De igual modo eles são majoritários no grupo dos que tem concluído um nível primário, de secundário básico ou de técnico de nível médio.

Algo diferente sucede com os níveis pré-universitários: o maior número de quem os possui são mulheres. Isto significa apontam os especialistas, que nos mais altos níveis de educação predominam as mulheres, o que corresponde com o aproveitamento que elas tem feito das oportunidades oferecidas pelo país para o estudo e o trabalho.

Em Havana e no Oriente se encontra o maior número de pessoas com nível primário. E dos jovens que possuem um nível médio superior ou superior, a maior porcentagem corresponde à região oriental.

Superação: uma meta ainda importante

Entre as razões que explicam a elevação do nível educacional nos jovens cubanos, os especialistas do CESJ citam o processo de universalização do ensino e outros programas desenvolvidos durante a primeira década do presente século, os quais nasceram para propiciar a superação e a reinserção social desse grupo.

Segundo a informação coletada, superar-se desde o ponto de vista do conhecimento continua sendo uma importante aspiração da juventude cubana: quase 69% dos pesquisados declararam o desejo de alcançar o nível universitário ou outros estudos superiores.

Próximo ao ano de 2011 – mediam os analistas –, bem se mantém na maioria dos jovens o desejo de obter o nível superior de ensino, esse interesse diminuiu com respeito a 2004, o qual poderia estar relacionado com as mudanças no sistema educacional que prioriza os cursos técnicos, e inclusive com as implicações que o atual reordenamento laboral tem nos programas de formação dos recursos humanos, sem desconsiderar a influência da falta de correspondência entre os graus educacionais, a qualificação e a estrutura.

Por outro lado, mesmo não chegando aos níveis do fechamento da década de 1990 do século 20, volta-se a incrementar a proporção de jovens que aspiram obter o grau 12, ou a graduar-se pelo ensino médio politécnico, condições para ascender hoje a numerosos empregos. Por outro lado ainda, no presente se reduz muito mais, em comparação com os estudos de 2004, a proporção de jovens que só aspiram a ter o nível médio basco do ensino.

No grupo cuja aspiração é ser profissional de nível superior, predominam os graduados de pré-universitários, o qual está em consonância com a lógica de sua formação. Em tal sentido, a aspiração está mais forte entre quem hoje se classificam como estudantes (81,9%), enquanto que estudantes e trabalhadores compartilham igual a aspiração de realizar estudos de pós-graduação.

A razão principal – revela a indagação – pautada pelos jovens para querer superar-se, reside em ampliar conhecimentos e em poder ser pessoas preparadas para a vida. Os estudantes são quem mais expressam que a principal motivação para estudar esta na possibilidade da preparação pessoal. Também aparecem argumentos como a possibilidade de satisfazer necessidades econômicas, e de agradar os pais.

Os argumentos pautados pelos trabalhadores não diferem substancialmente do dos estudantes. Alguns desse universo reconhecem a importância de se superar para progredir no trabalho e na solução de seus problemas econômicos.

Os dados mostram que a grande maioria dos jovens aprecia a escola cubana como fonte que oferece preparação suficiente para assumir determinadas situações da vida.

Cresce a inserção social

No que se refere à ocupação, a informação recentemente coletada registra 50,2% de jovens trabalhadores – uma parte deles está estudando –; enquanto que 32,5% representa estudantes.

De acordo com essas cifras, 82,7% dos jovens se encontra vinculado ao estudo, ao trabalho ou a ambas atividades. As demonstrações de 2004 se referiam a 80,7%, o que indica um incremento de 2% na inserção social.

Por meio de análise mais detalhada, e comparando estes momentos com os de 2004, os pesquisadores afirmam que a população estudantil decresceu em 3,8%; os trabalhadores se incrementaram em 5,8%; e os que conciliam o estudo com o trabalho cresceram na cifra de 1%.

Enquanto os que não estão incorporados ao trabalho diminuiu ligeiramente, o número dos que buscam trabalho pela primeira vez, na medida em que aumenta os que o fazem depois de deixar ou ter perdido o posto que tinham.

Segundo os números recentes, a proporção de trabalhadores é maior entre os homens (49%) que entre as mulheres (35%), enquanto que a proporção de pessoas dedicadas a tarefas do lar é maior entre as mulheres (13,7%) que entre os homens (0,6%).

A parte do estudo referida à situação ocupacional revela que atualmente, ao olhar a população juvenil por dentro: entre os trabalhadores e desempregados predominam homens; entre quem simultaneamente estuda e trabalha e quem se dedica a tarefas do lar, as jovens são maioria (e o último grupo delas com quase totalidade).

De acordo com os grupos de idades, os resultados se manifestaram em consonância com cada etapa em que se encontram os jovens: a maioria dos adolescentes estuda (77,4%), cerca de 70% dos que tem entre 20 e 24 anos se encontram trabalhando (49,6%) os estudantes (18,7%). E a maioria dos jovens de 25 a 29 anos esta trabalhando (67,1%).

Numa análise que leva em conta as regiões do país, os especialistas apontam que a maior quantidade de pessoas que estão trabalhando, que estão buscando trabalho pela primeira vez, que buscam trabalho por haver perdido, que estudam, que se ocupam das tarefas do lar e que não estudam nem trabalham, pertencem ao oriente.

Dos jovens que estudam e trabalham, a maior proporção se encontra em Havana. E a maior parte dos que possuem outra das situações ocupacionais mencionadas, pertencem ao ocidente de Cuba.

Em um tema imprescindível como o do emprego, os estudos afirmam que a idade média de inserção laboral da juventude cubana é de 19 anos, o que é comum tanto para o sexo feminino quanto masculino, e se comporta de modo muito similar em todas as regiões do país. Outro dado de interesse é que entre os jovens trabalhadores predominam os técnicos, seguidos de operários e trabalhadores de serviço.

A abordagem por sexo mostra que 50,2% das meninas estão na categoria de técnicos, o que supera em 20,5% a dos homens; elas, ainda, duplicam a proporção de trabalhadores administrativos homens. Nas categorias de trabalhador de serviço e dirigente existe bastante paridade, ainda que se presencie uma leve diferença a favor das mulheres na primeira categoria e dos homens na segunda.

Na atualidade a juventude cubana se inclina a trabalhar preferencialmente no setor estatal da economia.

Em comparação com a medição realizada em 2004, já se visualizam algumas mudanças que refletem certo movimento nas expectativas trabalhistas como expressão dos primeiros impactos do processo de reordenamento do trabalho.

A proporção de jovens que deseja trabalhar por conta própria quase duplica a porcentagem de 2004. O desejo de trabalhar no setor estatal e em outras modalidades de trabalho não estatal – este último segue sendo minoritário – é muito similar à medição anterior.

As razões de preferências mais sentidas pelos jovens são as condições de trabalho, o acesso à divisa (moeda conversível que equivale ao dólar, o CUC, chamada pelos cubanos como divisa) ou outras formas de estimulação, e poder fazer o que gosta, trabalhar no que estudaram, e a possibilidade de garantias como férias e aposentadoria.

Moradia e convivência

Na opinião dos estudiosos, a moradia representa um aspecto inevitável na hora de abordar aspectos de ordem material desde os quais se constroem as subjetividades que distinguem a juventude cubana de hoje.

Na referida amostra 46,9% do total avaliam como boas as condições construtivas das suas moradias. Mas essa percepção positiva, segundo os especialistas, diminui na medida em que aumenta a idade: são os jovens adultos quem tem uma avaliação pior, enquanto os adolescentes mostram um olhar favorável.

Constatou-se, ainda, que mais da metade dos consultados (57,5%) menciona contar estavelmente com privacidade dentro de sua moradia, no entanto o resto carece dela ou só a disfruta de modo ocasional. Isso significa que cerca de três quintos da juventude cubana possui as condições habitacionais elementares para satisfazer as necessidades de independência e autonomia.

Outro elemento que contribui para descrever a temática das condições materiais da moradia é a localização da mesma. A maioria dos jovens cubanos (65%) declara seu gosto pelo bairro em que está sua casa, o que supõe uma identificação com o lugar onde se vive. Aproximadamente um quarto expressa uma atração menor, e uma cifra reduzida (8,5%) explicita seu rechaço a zona de residência.

Segundo a informação recolhida, algo mais que a terça parte dos jovens vive em famílias monoparentais, onde a figura que mais se destaca é a materna. Os analistas associam o fato a que, ante a ocorrência de um divórcio, os filhos geralmente permanecem vivendo com as mães.

Se teve acesso a outros dados de interesse: quase 40% dos entrevistados compartilha suas moradias com seus irmãos; 20,3% vive com seus filhos; e 8,6% vive com famílias reconstituídas.

Tem relevância, na fala dos pesquisadores, que somente 1,5% dos jovens vive independente, e que não chega a um terço da amostra total o grupo dos que vivem com seu parceiro. Esta aresta, como expressam estudiosos da subjetividade, poderia estar repercutindo na decisão de muitos jovens a postergar a criação de uma família própria.

Casar-se não está na moda

A solteirice predomina. Aflora essa realidade no presente, como em indagações anteriores. Segundo os especialistas, a população adolescente e jovem estudada se distingue por essa condição se tratando de estado civil: mais de 61% da amostra do ano de 2011 assim confirma, sem esquecer o pouco mais de 23%, grupo que inclui os que declararam estar unidos.

O maior número de adolescentes se encontra solteiro, igual aos jovens de 20 a 24 anos de idade. E nas pessoas de 25 a 29 anos, continua predominando a solteirice.

Como marca destes tempos, tem aumentado (mesmo que levemente) as uniões consensuais e tem diminuído o número de pessoas casadas. Muitos não se sentem atraídos pelo ato de comparecer perante o notário para selar uma relação de matrimônio, especialmente os homens – existe, segundo um recente estudo do CESJ, uma maior proporção de homens solteiros (70,2%) que de mulheres (51,7%).

Os analistas destacam que, na medida em que se avança em idade, se observa um aumento das pessoas casadas ou unidas e também das separadas ou divorciadas. E ocorre o contrário com a solteirice: esta diminui manifestação que, segundo os pesquisadores, é coerente com o transito pelas diferentes etapas da vida.

Segundo a análise por regiões, a maior proporção de solteiros, unidos, divorciados ou separados, pertence a região oriental do país. No caso dos casados e os viúvos, estes pertencem majoritariamente às províncias centrais, que são secundadas pelas orientais.

Todo aqui descrito é um retrato, um novo que merece atenção, porque tem grande valor uma viagem ao centro da juventude cubana. O trajeto conduz por verdades de um universo onde se esta gestando o porvir do país. E o sentido de cada cifra nascida do rigor científico, é que este pode ser uma bússola, instrumento para conceber táticas e estratégias graças às quais a sociedade, com todas as suas gerações pode superar a si mesma.

Fonte: Juventud Rebelde
Tradução: Mateus Fiorentini, especial para o Vermelho