Jaime Sautchuk: Brasília e os Livros

Em meio a encachoeiradas denúncias de vários matizes, envolvendo autoridades dos três poderes da República, Brasília foi tomada esta semana por um tema muito mais salutar: os livros. Está em curso na capital a 1ª Bienal Brasil do Livro e Leitura, um evento de grandes proporções, com gente e obras do mundo inteiro.

Por Jaime Sautchuk*

Durante dez dias, boa parte do canteiro central da espaçosa Esplanada dos Ministérios, está tomada de por uma enorme estrutura que abriga livros, livreiros, editores, escritores e principalmente um público que chega a surpreender. É, pois, um evento que chegou para marcar o mundo do livro em plano nacional.

Alguns números dão uma ideia da dimensão de que falamos. São quatro enormes pavilhões repletos de estandes de fabricantes de livros, inclusive das principais editoras de universidades públicas, meia dúzia de auditórios, vários espaços para lançamentos e apresentações artísticas, restaurantes, tudo funcionando de cedo na manhã até tarde da noite.

São 254 convidados para palestras, debates, sessões de autógrafos e outras atividades sendo 35 estrangeiros. Entre esses, está o escritor e teatrólogo nigeriano Wole Soyinka, prêmio Nobel de Literatura, e muitos outros expoentes da escrita moderna de todos os Continentes.

É o caso da pensadora e ativista indiana Vandana Shiva, cujos livros em defesa dos excluídos há décadas fazem a cabeça de extensas legiões no mundo inteiro. Ou de pratas da casa, como o escritor e sambista carioca Nei Lopes, que debateu a questão do negro na literatura brasileira e lançou seu 28º livro.

Todos, ali, lado a lado com poetas de cordel ou escritores de periferias do Distrito Federal e de vários estados. Da literatura infantil às mais novas obras marxistas, vale tudo nesse evento, reforçando seu objetivo central, que é o de promover o livro e a leitura.

E o público respondeu a contento. Corredores, galerias e vários auditórios lotados ao mesmo tempo, com crianças de escolas da rede pública e adultos de todas as procedências, demonstraram que o livro está firme e forte, apesar de novos formatos de comunicação de surgem a cada hora.

A Bienal é organizada pela Secretaria de Cultura do DF, mas com apoio de universidades, entidades como o Serviço Social da Indústria (Sesi) e alguns pesos-pesados como a Petrobrás e os Correios. Isso, sem contar com as embaixadas de diversos países, que ajudaram a viabilizar a vinda de compatriotas.

Secretário de Cultura do Distrito Federal, o poeta Hamilton Pereira (ou Pedro Tierra) diz ter ouvido de muita gente a advertência de que o evento, pelas suas dimensões, seria um grande sucesso ou um retumbante fracasso. A prática mostrou que a primeira hipótese era a acertada.

Tanto ele quanto o produtor cultural Nilson Rodrigues, coordenador da Bienal, defendem que, a partir de agora, a Capital Federal passa a ser uma referência para o livro no Brasil. E que a empreitada, é claro, estará de volta daqui a dois anos.

*Jaime Sautchuk é colunista do Portal Vermelho