Christian Vasconcelos: Barrar a desindustrialização

 Por Christian Vasconcelos*

Cada vez mais, o tema da desindustralização tem despertado a atenção da sociedade brasileira. E, não sem razão. Em nosso país, esse fenômeno pode ser entendido como retração da capacidade de produzir bens, agregar valores, gerar empregos e renda, contribuindo diretamente para a diminuição das taxas de crescimento da economia (PIB), e, afetando, inclusive, a política de valorização do salário mínimo.

O efeito desse tipo de desindustrialização é perverso e avassalador. Em outras palavras, é como se a cobra mordesse o próprio rabo: menor atividade industrial; menos empregos; salários menores; menos consumo; gerando, por sua vez, retração da produção, diminuição dos empregos, salários… É o tal círculo vicioso!

A desindustrialização pode ocorrer por várias razões, e, por isso, nem sempre é um problema. Em outros países, a diminuição da importância relativa da indústria em relação ao setor de serviços, por exemplo, não empobreceu essas sociedades. O problema é quando a desindustrialização afeta o crescimento da economia e a qualidade de vida da população.

No caso do Brasil, o fenômeno da desindustrialização tem três causas específicas importantes e intrerrelacionadas: as taxas de juros; o câmbio sobrevalorizado; e a política de superávit primário. As elevadas taxas de juros praticadas pelo sistema financeiro, a começar pelo Banco Central, desestimulam a realização de investimentos pelo setor produtivo da economia, e inibem o consumo.

Já, a sobrevalorização do Real, ao mesmo tempo em que torna atraentes inúmeros produtos, bens e serviços elaborados fora do país, tem o poder de encarecer aqueles que são produzidos aqui e que se destinam ao mercado externo, gerando déficits na balança comercial e redução na geração e qualidade dos empregos.

Por fim, completando o tripé de causas fundamentais da desindustrialização brasileira, a manutenção de elevados superávits primários, que objetivam assegurar recursos para o pagamento dos juros referente à dívida pública (R$ 159,9 bilhões, neste ano). Parte dessa soma poderia ser investida na resolução de problemas de infraestrututra que oneram a produção e o consumo, e em educação, ciência e tecnologia, tornando os produtos nacionais mais competitivos. Mudar essa política deve ser preocupação de todo trabalhador brasileiro!

*Christian Vasconcelos é jornalista