Chile abre testamento de Pinochet em busca de irregularidades

A justiça chilena abrirá nesta quarta-feira (25) o testamento de Augusto Pinochet para calcular seu patrimônio real, como parte de uma investigação sobre a origem do patrimônio do ex-chefe de Estado, informaram fontes do Poder Judiciário à agência de notícias Efe.

A ação foi movida pelo Conselho de Defesa do Estado (CDE). De acordo com as fontes consultadas, o testamento que será aberto foi modificado por Pinochet em 2005, quando o ex-ditador era investigado por contas secretas no Riggs Bank, dos Estados Unidos, e outras instituições financeiras do exterior.

O testamento está em mãos do tabelião Eduardo Avello e dois amigos da família Pinochet assinaram o documento como testemunha. Pinochet morreu em 10 de dezembro de 2006.

O tabelião e as duas testemunhas foram convocados para a audiência desta quarta-feira, que também contará com a presença de um advogado do CDE.

O advogado da família do ex-governante e alguns de seus membros também podem comparecer ao ato, mas isto ainda não foi confirmado.

Lucía Hiriart, uma das filhas de Pinochet, disse em declarações ao jornal "La Segunda" que não assistirá à abertura do testamento de seu pai porque tem compromissos como vereadora por Santiago. Lucía afirmou não ter "nenhuma expectativa" sobre o processo e desconhecer o conteúdo do testamento.

Bens e embargos

As propriedades de Pinochet que serão repartidas no documento são casas no bairro nobre do Lo Barnechea, em Santiago, um terreno em Quintero, cidade litorânea da região central chilena, uma casa nos arredores da capital, apartamentos em Reñaca, Iquique, Valparaíso e Santiago e três automóveis.

Os imóveis estão embargados pela Justiça, que além disso congelou US$ 2,6 milhões depositados em instituições bancárias. A investigação precisou que a fortuna de Pinochet supera os US$ 26 milhões, mas somente US$ 2 milhões têm origem justificada.

O juiz responsável pelo processo explicou à imprensa local que a abertura do testamento do ditador é um "ato de caráter civil" que permitirá conhecer a distribuição de seus bens entre os herdeiros, apesar de todas as propriedades de Pinochet estarem embargadas.

Ao morrer, Pinochet estava sendo investigado no que ficou conhecido como Caso Riggs por fraude ao Fisco, uso de passaporte falso e desvio de fundos públicos.

Lucía Hiriart considerou que a abertura do testamento de seu pai "é parte de uma perseguição política" que começou no governo do ex-presidente Ricardo Lagos e que segue em andamento pois "ninguém é capaz de cortar o assunto".

Sua filha sustentou que Pinochet não tem todo o dinheiro que a investigação constatou e lamentou a campanha de "desprestígio" que, segundo sua opinião, existe em torno da figura do ditador e sua família.

Fonte: Folha/EFE