Reino Unido: a estreita relação entre Murdoch e Cameron

James Murdoch, filho do magnata dos meios de comunicação Rupert Murdoch, colocou em evidência nesta terça-feira (24) o Governo britânico após revelar estreitas relações com o primeiro-ministro, David Cameron, e vários membros de seu Gabinete.

O ex-presidente da News International, o braço britânico do império midiático de Rupert Murdoch, relatou à Justiça seus contínuos e estreitos contatos com os ministros do Reino Unido, especialmente com o titular de Cultura, Jeremy Hunt.

Esta comissão, presidida pelo juiz Brian Leveson, que investiga os padrões éticos da imprensa britânica e a relação entre jornalistas e políticos, foi iniciada pelo Governo britânico após o escândalo das escutas no dominical britânico extinto "The News of the World", do qual Murdoch era o proprietário.

O filho do magnata, que jurou sobre a Bíblia dizer a verdade, contou que em 12 oportunidades esteve com Cameron quando este ainda estava na oposição. Um deles aconteceu dias antes do grupo anunciar o apoio aos conservadores nas eleições de maio de 2010.

Durante seu comparecimento tornaram-se públicos alguns e-mails que mostram como supostamente o ministro da Cultura passou informações sigilosas ao grupo Murdoch sobre a operação com a qual a News Corporation pretendia adquirir a totalidade da operadora de TV a cabo "BSkyB", da qual já possuía 39% das ações.

Esta operação devia contar com a autorização do Governo e era precisamente Jeremy Hunt o encarregado de tomar a decisão.

Coincidindo com o comparecimento de James Murdoch, a comissão Levenson publicou nesta terça-feira 163 páginas com o conteúdo da correspondência entre o escritório do ministro e a News International em relação à compra da operadora de TV a cabo.

O ministro e as conjeturas sobre seu incerto futuro ganharam espaço no Twitter e o Partido Trabalhista pediu sua renúncia.

Um porta-voz da Downing Street, no entanto, negou que o ministro vá ser substituído e garantiu que Cameron tem "total confiança" em Hunt.

Murdoch rejeitou que o ministro da Cultura tenha sido seu "grande aliado" na operação, mas reconheceu que teve com ele "inúmeras conversas sobre diferentes assuntos relativos aos negócios e a indústria dos meios de comunicação em geral".

O filho do magnata australiano, que voltou a negar nesta terça-feira saber dos frequentes grampos telefônicos feitos pelos jornalistas do extinto "The News of The World" a famosos e personalidades, pareceu sentir-se muito mais confortável quando foi perguntado por suas relações com Cameron e seus ministros.

Durante seu comparecimento de mais de 6h relatou que nas 12 vezes em que se reuniu com Cameron, ao menos em quatro delas esteve presente Rebekah Brooks, ex-diretora da News International e antiga diretora do "The Sun" e do "The News of the World", atualmente investigada por seu papel no caso das escutas ilegais que levou ao fechamento do dominical em julho de 2010.

Após a chegada a Downing Street de Cameron, o empresário esteve com o primeiro-ministro em novembro de 2010, quando jantaram em família na residência oficial de campo de Chequers, e no dia 23 dezembro do mesmo ano, em um jantar oferecido por Brooks.

Murdoch, que renunciou como presidente da News Corporation em 29 de fevereiro, reconheceu que durante esse jantar natalino falou "brevemente" com o primeiro-ministro sobre a operação da "BSkyB", que acabou sendo suspensa em julho de 2011 após a revelação do escândalo das escutas.

O empresário, que atualmente vive nos Estados Unidos, justificou seus contatos com o poder garantindo que estes não influenciaram na linha editorial de suas publicações e que esta é uma prática "normal e apropriada" para um empresário transmitir seus argumentos ao Governo.

Seu pai, Rupert Murdoch, comparecerá nesta quarta-feira (25) na comissão Leveson, onde será questionado sobre suas relações com o atual e ex-primeiros ministros britânicos como Gordon Brown e Tony Blair.

Fonte: UOL

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