Carlos Lessa: Brasil deve pôr as barbas de molho

Na opinião do economista Carlos Lessa, ex-presidente do BNDES, o Brasil "deve pôr as barbas de molho", porque o próprio FMI está alertando que todos os países que receberam muito capital de curto prazo, como Irlanda, Portugal, Espanha, Grécia e Itália – os Piigs – atravessam graves dificuldades.

"Isso significa que o FMI pode estar passando o recado de que nós somos a bola da vez", disse Lessa, ao comentar o déficit em transações correntes do Brasil, que fechou o primeiro trimestre em US$ 12,113 bilhões, segundo o Banco Central (BC).

Apenas em março, a conta de transações correntes (comércio e serviços) teve déficit de US$ 3,32 bilhões.

A balança comercial teve superávit de US$ 2,019 bilhões em março e de US$ 2,437 bilhões, no primeiro trimestre. Já a balança de serviços (viagens internacionais, transportes, aluguel de equipamentos e outros), amargou déficit de US$ 3,286 bilhões, mês passado, e de US$ 9,432 bilhões, de janeiro a março.

Na conta de rendas (remessas de lucros e dividendos, pagamentos de juros e salários), o saldo ficou negativo em US$ 2,359 bilhões, em março, e em US$ 5,805 bilhões, no primeiro trimestre.

Lessa disse ainda que as projeções do FMI apontam para estabilização dos preços das principais commodities, "mantendo o Brasil dependente de capitais estrangeiros".

Quando o país tem déficit em conta-corrente, precisa financiar esse resultado com investimentos estrangeiros ou tomar dinheiro emprestado do exterior. Em março, o investimento estrangeiro direto (IED) foi suficiente para cobrir o déficit. No entanto, muitos analistas alertam que, apesar de entrarem pela rubrica IED, esses recursos, na verdade, vão para a especulação financeira. Em março, o IED somou US$ 5,887 bilhões e US$ 14,939 bilhões nos primeiros três meses do ano.

Fonte: Monitor Mercantil