Obama ataca Romney e "fantasma Bush" ronda republicanos

A guerra pela Presidência dos Estados Unidos começou não oficialmente neste final de semana, após o presidente Barack Obama mencionar diretamente o candidato republicano Mitt Romney em pelo menos cinco piadas durante o jantar anual da Associação de Correspondentes da Casa Branca. Com sucessivas vitórias nas primárias de seu partido, Romney é tido como o virtual adversário de Obama em novembro.

Nos últimos oito meses, todos os candidatos republicanos deixaram de lado os temas centrais que preocupam o eleitorado – economia, trabalho, saúde estabilidade – e concentraram suas forças em críticas ao presidente, em uma tentativa de conquistar o eleitorado mais à direita, especialmente o Tea Party.

Mas agora que as chances de Romney, empresário mórmon e ex-governador do Massachusetts, ser o escolhido são maiores, a situação mudou. A disputa ficará concentrada nos dois políticos, e com um fantasma do passado de sobrenome Bush a rondar a campanha.

“O presidente não perdeu nem cinco minutos. Já está dando o mote à campanha e agora vamos começar a ver o sangue correr, porque nem Obama nem os democratas vão perder um minuto para bater em Romney com todo o arsenal que têm à disposição”, disse ao Opera Mundi, o analista político democrata, Miguel Antonio Rodriguez.

Se a campanha pela nominação republicana foi fatal para políticos como Rick Santorum e Newt Gingrich, Romney parece ter encontrado uma forma de se afirmar politicamente para um eleitorado que normalmente não teria sua simpatia. “Ele é mórmon, e os republicanos não gostam de mórmons. É empresário, e a classe trabalhadora republicana os considera responsáveis pela recessão atual. É indeciso e os republicanos precisam de tudo menos de indecisão. Já foi suficiente com John McCain e Sarah Palin”, acrescentou Rodriguez, em referência à chapa republicana em 2008.

Segundo o analista, neste momento os republicanos não podem se esquecer que a popularidade de Obama é menos importante que as alternativas que Romney pode apresentar. “As pessoas já não se importam com as sondagens, pelo menos agora. Querem ideias, alternativas, soluções a seus problemas”, afirmou. Em sua opinião, o virtual candidato republicano deve apostar tudo no centro. “Tem de deixar para trás todo tipo de extremismo e apresentar uma política que chegue às pessoas, que lhes diga algo”, disse.

Não é fácil e pode ser até mesmo impossível, considera Peggy Noonan, colunista do conservador Wall Street Journal. Em seu artigo dessa semana, ela afirma que se o eleitor não quiser mais Obama, escolherá Romey. “Mas será que ele é crível?”, pergunta. Romney pode ser o melhor dos candidatos, mas isso seria suficiente para enfrentar um presidente popular e com acesso fácil à imprensa.

“Os republicanos estão preocupados porque, assim que acabarem as primárias, nenhum dos candidatos serve sequer para acompanhar Romney (como vice-presidente) e muito menos convencer os norte-americanos que está preparado para ser presidente”, enfatizou Bob Walters, professor de História Política da Universidade Internacional da Flórida.

Desde que Obama ganhou em 2008, os republicanos não voltaram a ser os mesmos. Dividiram-se, suas bases radicalizaram-se e cada um dos candidatos se apresentou quase como independente. Os barões do partido nem sequer deram um indício de suas intenções. “Cada um foi à luta numa batalha entre feras sedentas por poder. E tiveram de se defender. A única forma que encontraram foi o extremismo”, explicou Rodriguez.

Os republicanos precisam de alguém com suficiente experiência política para amparar Romney. Nem a estrela ascendente dos republicanos, o senador pela Flórida Marco Rubio, está suficientemente preparado para integrar a chapa. E, apesar de ser de origem cubana, Rubio não tem a simpatia do eleitorado latino, pois integrou o Tea Party. “Eles (republicanos) precisam de experiência e nome. O nome é a chave de tudo, porque Romney ainda não convenceu o país”, disse Walters.

Fantasma do passado

Qual nome? Jeb Bush. Filho e irmão de dois ex-presidentes, Bush foi governador da Flórida e já se colocou à disposição do partido. Em uma enigmática declaração na semana passada, disse que consideraria ser vice frente uma dificuldade “inultrapassável”. Mas não especificou qual.

A semi-oferta caiu como uma bomba nos círculos de direita. “Se Jeb Bush acompanhar Romney, significa apenas que outro Bush irá concorrer em uma eleição. Será difícil explicar ao mundo que não somos uma sociedade tribal”, afirmou este domingo o analista George Will no programa “This Week”, da cadeia ABC. “Acho que Romney precisa de algum tipo de estímulo. Ou seja, deve se virar para alguém mais jovem, conservador e que deu mostras de saber lidar com crises econômicas."

O analista fez referência ao governador da Luisiana, Bobby Jindal e ao presidente do Comitê de Orçamento da Câmara de Representantes, o congressista Paul Ryan, dois jovens rostos do partido que resistiram, incólumes, à crise interior dos republicanos, pois se concentraram em mostrar serviço. O primeiro, na reconstrução do estado após o furacão Katrina e o segundo, negociando com a Casa Branca todos os pacotes econômicos de resgate.

Para Peggy Noonan, do WSJ, o primeiro objetivo de Romney deve ser evitar o buraco em que John McCain se meteu quando aceitou a ex-governadora do Alasca Sarah Palin como colega de chapa. O segundo, que não tenha a tentação de voltar ao passado, de sobrenome Bush.

Sábado, Obama fez o possível para destruir a imagem séria que Romney pretende construir. “Pelo amor de Deus, o homem nem sequer sabe tratar seus cãezinhos”, disse o presidente, mencionando a versão de que, em 1993, o republicano rodou mais de 500 quilômetros de carro sem dar água ao cachorro, trancado no porta-malas.

Fonte: Opera Mundi