A mensagem do 1º de Maio: o mundo clama por mudanças

Alguns acontecimentos que marcaram o 1º de Maio deste ano são emblemáticos das contradições e lutas que estão em curso no mundo hoje. Conforme lembrou o presidente da CTB, Wagner Gomes, durante ato unitário das centrais em São Paulo, a data é uma homenagem aos mártires de Chicago, assassinados nos EUA por liderar uma greve pela redução da jornada de trabalho a 8 horas diárias em 1886.

Por Umberto Martins

O imperialismo estadunidense nunca reconheceu a data, que tem um claro apelo classista, apesar dos esforços das classes dominantes para descaracterizá-la, diluindo no feriado o seu caráter revolucionário e anticapitalista. O atual chefe da Casa Branca, Barack Obama, escolheu precisamente o Dia Internacional do Trabalhador para realizar uma visita surpresa ao Afeganistão, um dos países mais pobres do mundo, invadido e ultrajado por tropas norte-americanas e da Otan.

A mensagem do presidente dos EUA no 1º de Maio foi a apologia de uma guerra suja e criminosa, cujo saldo é estimado em cerca de 40 mil civis mortos e 3 milhões de refugiados. A viagem clandestina do presidente suscitou uma onda de indignação entre os afegãos e uma série de atentados comandados pelos talibãs, que resultaram em pelo menos sete mortos e 17 feridos em Cabul no dia seguinte (2). Lá se vão mais de dez anos de uma guerra, iniciada em outubro de 2001, cuja perspectiva mais do que provável, senão única, é a derrota do imperialismo, tal como aconteceu no Vietnã e no Iraque.

Obama disse que “o saldo da guerra tem sido bom para as duas nações”. O fato, emblemático, indica que a guerra é o desaguadouro natural das contradições inerentes à ordem mundial capitalista e imperialista, conforme já sugeria Lênin.

Nacionalização na Bolívia

Na Bolívia, o destaque do dia foi o anúncio da expropriação e nacionalização de mais uma multinacional. As ações da Rede Elétrica Espanhola na Transportadora de Eletricidade (TDE), privatizada em 1997, foram resgatadas pelo presidente Evo Morales. A empresa possui 2.772 quilômetros de linhas de transmissão de energia, o equivalente a 73% do total de linhas do país; 99,94% de seu capital estavam nas mãos da empresa espanhola, que adquiriu o controle em 2002, e 0,06% pertencia aos seus trabalhadores.

"Esta empresa antes era nossa e agora estamos nacionalizando", afirmou Morales, reiterando que o governo está apenas recuperando a posse de empresas estratégicas. As razões do gesto não diferem das que foram apresentadas por Cristina Kirchner, presidente da Argentina, para justificar a nacionalização da petrolífera YPF: falta de investimentos. Pressionadas pela crise do capitalismo europeu, as empresas espanholas remetem o grosso dos seus lucros para fora, numa sangria de mão única. Não dão a mínima para as necessidades de investimento e desenvolvimento dos países.

A atitude corajosa e soberana do presidente boliviano – vilipendiada pela mídia capitalista, que sacraliza a propriedade privada – ilustra o novo cenário político vivido por muitas nações da América Latina após a eleição de líderes revolucionários e progressistas, desde a vitória de Hugo Chávez na Venezuela, em 1998. Com amplo respaldo popular, as nações da região estão abrindo caminho para seu desenvolvimento independente e integrado. Enfrentam a oposição velada ou ostensiva das potências europeias e dos EUA, falsos paladinos da democracia e dos direitos humanos, que não se cansam de estimular iniciativas golpistas como as verificadas na Venezuela (2002), Bolívia (2008), Paraguai (2008), Honduras (2009) e Equador (2010).

Europa

Na Europa, em recessão, o 1º de Maio foi um dia de protestos generalizados contra a política de arrocho fiscal e desmantelamento do chamado Estado de Bem-Estar Social comandada pela já famosa troika, o FMI, o Banco Central Europeu e a cúpula da União Europeia. França, Inglaterra, Espanha, Itália, Portugal e Grécia, entre outros, foram palcos de greves, passeatas e grandes manifestações. Na Alemanha, que vive uma situação um pouco mais confortável, registraram-se violentos confrontos entre os manifestantes e a polícia.

Hoje sob a batuta do FMI, o decadente capitalismo europeu está agonizando. A taxa média de desemprego na UE subiu a 10,9% em março. Na Espanha, é de 24,1%, chegando a 50% entre os jovens. Uma calamidade que se abate também sobre a Grécia, com 21,7% da população economicamente ativa desocupada em janeiro, cinco anos de recessão e retrocesso social sem precedentes. O euro se transformou numa camisa de força para os povos da região.

A crise que perturba a economia alimenta o descontentamento popular, contamina o ambiente político e conduz o sistema, e a moeda comum, a uma encruzilhada histórica. A provável derrota de Sarkozy no segundo turno das eleições presidenciais da França pode ser mais uma pedra no caminho do projeto neoliberal de União Europeia. O atual presidente é o parceiro número 1 de Ângela Merkel e seu opositor, François Hollande, informou que pretende renegociar o draconiano pacto fiscal europeu, que a chanceler alemã, em resposta, reiterou ser “inegociável”.

A Grécia terá eleições no próximo domingo (6) e as pesquisas sinalizam avanço do Partido Comunista e outras forças de oposição. Ewald Nowtny, conselheiro do BCE, mostrou que o sistema financeiro está com os nervos à flor da pele: “Vejo riscos, não tenho certeza de que seja eleita uma maioria que prossiga com o atual programa econômico”.

O pano de fundo desses acontecimentos é a crise do mundial do capitalismo, que completa cinco anos sem perspectivas de soluções à vista e converge com o esgotamento da ordem imperialista remanescente dos acordos de Bretton Woods. A mensagem do 1º de Maio é clara: o mundo rejeita o neoliberalismo e reclama mudanças.