Israel: governo faz pacto com oposição e anula eleição antecipada

O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, anunciou nesta terça (8) um novo governo de coalizão, formando uma ampla aliança com o principal partido de oposição, o Kadima. Segundo o premiê, o governo de unidade fortalecerá Israel. A notícia foi interpretada como um sinal de que essa aliança pode representar maior intransigência em relação aos palestinos. 

"A unidade restaura a estabilidade, um governo de ampla unidade nacional é bom para a segurança, bom para a economia e bom para o povo de Israel", disse Netanyahu ao elogiar o acordo alcançado na noite de segunda-feira com o líder do Kadima, Shaul Mofaz.

O presidente israelense, Shimon Peres, saudou o entendimento, que permite formar uma coalizão com 94 dos 120 assentos no Knesset (parlamento), e evita que se realizem eleições antecipadas. O acordo foi recebido com bastante surpresa no país, já que, na véspera, o premiê havia anunciado a antecipação das eleições para setembro.

Netanyahu, líder máximo do partido direitista Likud, chegou a um entendimento de última hora com Mofaz e, às 2h da madrugada, comissões de ambas as partes começaram a se reunir para discutir os detalhes da nova aliança política.

Os deputados e outros membros do Kadima, autodefinido como de centro-direita, aprovaram por unanimidade o acordo com o Likud, que, para Shimon Peres, será "bom para a nação e seu bem-estar, face aos desafios difíceis que enfrentam Israel."

Em virtude do pacto, Mofaz – que há apenas um mês substituiu o ex-chanceler Tzipi Livni como chefe do Kadima – ocupará o cargo de vice-primeiro-ministro e assumirá as funções de Netanyahu quando este viajar ao exterior. Outros detalhes do acordo serão anunciados ainda nesta tarde.

Com o novo acordo, a coalizão que governará Israel até as próximas eleições, previstas para outubro de 2013, contará com Likud (direita), Kadima (centro-direita), Yisrael Beiteinu (ultranacionalista), Shas (ultraortodoxos sefarditas) e outros partidos menores religiosos e de extrema direita, assim como o Atzmaut, formação criada por Ehud Barak ao abandonar o trabalhismo.

Enquanto internamente se fala em estabilidade e força, no plano regional, esses atributos se traduzirão em uma postura mais inflexível do Estado sionista nas negociações com os palestinos e mais hostilidade em relação ao Movimento de Resistência Islâmica (Hamas).

Uma preocupação de ambas as forças é aprovar uma legislação alternativa à chamada Lei Tal, que exime os judeus ultraortodoxos do serviço militar obrigatório a todos os cidadãos. Netanyahu disse que a nova coalizão estará centrada em quatro áreas: encerrar os privilégios dados aos ultraortodoxos, reformar o sistema político, proteger a economia e promover conversas de paz “responsáveis” com os palestinos.

A Autoridade Nacional Palestina (ANP), com sede na Cisjordânia ocupada, pressiona Tel Aviv a retomar uma negociação, sob as bases de frear a expansão dos assentamentos judaicos e reconhecer as fronteiras existentes antes da usurpação dos territórios em 1967.

Por sua vez, o Hamas, que controla a bloqueada Faixa de Gaza, mantém um permanente enfrentamento com o exército sionista, que muitas vezes lança ataques aéreos e terrestres contra as milícias da resistência palestina no enclave.

Nesta terça-feira, Netanyahu não disse se consideraria um congelar os assentamentos, preferindo repetir seu apelo para que o presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Mahmoud Abbas, volte às negociações sem pré-condições. “Espero que o presidente Abbas aproveite esta oportunidade”, afirmou.

Outro assunto que será tratado na nova coalizão diz respeito ao programa nuclear iraniano. Netanyahu por diversas vezes sugeriu que Israel estaria pronto para atacar instalações nucleares iranianas no caso de se sentir ameaçado. Mofaz, um ex-chefe militar que já foi ministro da Defesa, já se posicionou contra uma ofensiva militar.

O ministro israelense do Meio Ambiente, Gilad Erdan, já se pronunciou, falando que o acordo vai possibilitar que o governo conquiste apoio para "uma possível ação militar contra o programa nuclear iraniano".

Com Prensa Latina