Indignados exaltam conquistas e criticam governo espanhol
No primeiro aniversário das reivindicações populares que mobilizaram a Espanha em 2011, a população voltou à rua para protestar contra o governo e comemorar as pequenas, mas importantes vitórias do movimento que ficou conhecido como “os indignados”, ou 15-M, em alusão ao 15 de maio.
Publicado 17/05/2012 11:14
No epicentro das manifestações, a Praça do Sol, em Madri, panelas e os apitos foram os protagonistas do último ato de celebração. Dois panelaços marcaram o início e o fim da assembleia geral na última terça-feira (15), onde se escutou as propostas encaminhadas pelos diversos grupos de trabalhos que atuaram no encontro que ficou chamada de “12M-15M”.
No sábado (12), as praças de 80 cidades espanholas voltaram a converter-se em um grito uníssono que exigia uma saída alternativa à atual crise econômica, social e política que vive o país. Centenas de milhares de manifestantes acreditam que são muitas as razões para seguir com as mobilizações. “É emocionante ver que o movimento ganha novo fôlego, mas é importante ir além da nostalgia festiva e fazer com que as nossas reivindicações se reflitam em ações políticas”, defendeu Laura Rodríguez, advogada de 31 anos, que se somou aos manifestantes da Porta de Sol, em Madri.
Há consenso de que as principais medidas tomadas nos últimos meses pelo governo conservador de Mariano Rajoy vão contra as ideias do 15M. Entre elas estão a reforma da Constituição sem consulta popular; cortes orçamentários na saúde e na educação; o fim do direito ao atendimento médico público e gratuito aos imigrantes irregulares; o endurecimento da lei penal que torna a resistência passiva um delito; uma reforma trabalhista que precariza ainda mais as relações de trabalho; e o aumento dos impostos e a privatização de alguns serviços e setores públicos.
O movimento, no entanto, se sente mais forte. Os acampamentos serviram de inspiração a dezenas de países e, no último 15 de outubro, aconteceu a primeira manifestação global dos indignados. O mundo parece ainda estar atento ao movimento que, com outros grupos em diversos cantos do planeta, articulou uma segunda convocatória global de reivindicações.
Em Madri, na Praça do Sol e em outras 12 praças vizinhas, ocorreram diversas atividades para debater temas como educação, politica, economia, saúde, direito à habitação e políticas migratórias. A finalidade desses encontros era reunir propostas e ações das diferentes comissões e assembleias de bairros que trabalharam no último ano para esboçar planos de atuação para os próximos meses.
No entanto, os quatro dias de manifestação tiveram um saldo de 30 pessoas detidas. A direção do movimento se opõe à violência, incentivando a desobediência civil pacífica. Por isso, rebelou-se, permanecendo na Praça, apesar de a prefeitura da capital espanhola limitar as concentrações até às 22h (17h no horário de Brasília) a cada dia. Para Ricardo, que esteve presente em todas as assembleias gerais que encerravam os dias de atividades, “a repressão policial, com os desalojamentos e as detenções, é a única resposta do Estado aos debates cidadãos no espaço público”.
Para Victor Sampedro, professor de Opinião Pública e Comunicação Política da Universidade Rey Juan Carlos, um dos principais êxitos do movimento “foi trazer para a agenda política e mediática do país debates sobre a luta contra os despejos de milhares de famílias afetadas pela crise imobiliária”. Através da Plataforma dos Afetados pela Hipoteca, o movimento conseguiu impedir quase 250 despejos e criou 55 núcleos de apoio jurídico aos hipotecados em toda a Espanha.
A promoção da cultura da “horizontalidade” dos espaços públicos, com a criação de ágoras abertas nas praças e nos bairros é mais um triunfo do movimento. A partir das assembleias de bairros, outros pequenos grupos temáticos foram criados para responder a problemas característicos de cada localidade. E assim surgiram diversas iniciativas, como hortas orgânicas, cooperativas e brigadas comunitárias, que denunciam ações policiais violentas e racistas.
Apesar do otimismo e das incontestáveis conquistas, há também algumas críticas e preocupações quanto ao futuro do 15M. “Às vezes os debates parecem intermináveis e existe muita dispersão. Há propostas concretas, mas falta pragmatismo e mais proximidade com a sociedade na hora de atuar”, aponta Fermín Bouza, professor de Sociologia da Universidade Complutense de Madri.
A nova versão dos protestos dos indignados revitalizou as convocatórias populares na Espanha, levando de volta às praças muitas pessoas que saíram às ruas há um ano, mas que pouco militaram quando o movimento tomou rumos mais locais. O compromisso agora é continuar os trabalhos que já estão sendo realizados e colocar em prática as diversas propostas cidadãs que brotaram nas assembleias celebradas nos últimos dias, mantendo a mesma força de mobilização tanto nas manifestações quanto nas comissões e nos grupos de trabalho.
Fonte: Opera Mundi