USP cancela depoimentos de universitários

A Procuradoria Disciplinar da Universidade de São Paulo (USP) cancelou nesta quarta-feira (16) os depoimentos de cinco estudantes presos nas invasões da Tropa de Choque da Polícia Militar à reitoria e ao Crusp. Os depoimentos estavam previstos para ocorrer entre às 9h e 15h30 no prédio da Procuradoria. 

                   
           Leia também:

      Ato nesta quarta condena julgamento de universitários da USP

A decisão do adiamento foi do presidente da Comissão de Sindicância. Segundo um dos estudantes que deveria depor, Fernando Bustamente, os processados foram avisados do cancelamento por meio de um e-mail institucional, enviado no final da tarde de terça-feira (15).

“O e-mail dizia que um dos componentes da comissão não poderia comparecer. Para nós é um sinal que a reitoria recuou diante da existência do ato de hoje, que expressou um movimento de defesa dos presos”, argumenta.

Integrante da Comissão Jurídica que auxilia os presos, o advogado Gustavo Seferian, explica que os alunos e advogados se surpreenderam quando chegaram ao prédio e não havia nenhum funcionário trabalhando.

"Foi um desrespeito com os estudantes que estavam dispostos a depor e mostrar que não têm nada a temer sobre a sua conduta. Ainda para aqueles que foram informados por e-mail, o aviso não se deu com a antecipação esperada", complementa Seferian.

Boletim de ocorrência

Uma viatura da Polícia Militar foi chamada pelos estudantes e advogados, que registraram em um boletim de ocorrência o comparecimento ao prédio na hora determinada. A estudante Vânia de Oliveira, que também deporia nesta quarta, disse que chegou a ir à Procuradoria na terça-feira. "E eles confirmaram o depoimento. Isso já era mais de 16h", conta.

Ao saberem do cancelamento, os estudantes concentrados em frente à reitoria desde as 9h, decidiram manter a manifestação em repúdio aos processos.

Cerca de 500 pessoas saíram em passeata pelas ruas do campus em direção à Procuradoria. Lá gritaram palavras de ordem e seguiram para a Avenida Vital Brasil, onde conseguiram parar o trânsito por cerca de 5 minutos.

Para entidades representativas da comunidade universitária, a pressão estudantil contribuiu para o adiamento dos depoimentos. “Esse ato mostra o avanço da organização frente aos processos. O adiamento é tanto um reconhecimento desse avanço quanto uma tentativa do reitor João Grandino Rodas de desarticular esse movimento”, pontua o diretor do Sintusp (Sindicato dos Trabalhadores da USP), e também processado pela gestão de Rodas, Aníbal Cavali.

Próximos depoimentos 

Segundo o Diretório Central dos Estudantes (DCE), apesar das diferenças políticas com os estudantes processados, a entidade não vai permitir as eliminações. “Somos absolutamente contra o processo contra funcionários e estudantes. No momento político que a gente vive, de um Estado Democrático de Direito, é um absurdo estudantes serem processados por sua posição e manifestação política”, afirma o diretor, Pedro Serrano.

Os próximos depoimentos estão marcados para o dia 22 de maio e ocorrem até o dia 16 de junho. No total, 54 pessoas – entre estudantes e funcionários – estão sendo processados e correm sérios riscos de eliminação, o que significa a impossibilidade vitalícia de manter novos vínculos empregatícios e estudantis com a USP.

Os manifestantes presos responderão administrativa e criminalmente pelas ocupações. No movimento estudantil são reconhecidos por reivindicarem mais moradia estudantil, o fim dos processos judiciais àqueles que se opõem à política da reitoria e o encerramento do convênio da USP com a Polícia Militar do estado de São Paulo.

Brasil de Fato