Obrigado, Eduardo Padilha!

 Artigo do advogado Guilherme Zagallo


São Luís perdeu no dia 05 de maio de 2012 um dos seus maiores defensores, que foi o geólogo Eduardo Pinheiro Padilha, vítima de um câncer.

Eduardo Padilha foi um dos autores, junto com a professora Ediléa Dutra Pereira, do primeiro alerta sobre os riscos da implantação de um grande polo siderúrgico na ilha de São Luís, divulgado em outubro de 2004 pela Associação dos Geólogos do Maranhão, onde foram indicados os riscos desse empreendimento ao ambiente e à população.
 

Para os que não se recordam, a Vale pretendia implantar em meados de 2004/2006 três usinas siderúrgicas e duas usinas de produção de ferro gusa numa área de 2.471 hectares situada entre o Porto de Itaqui e Pedrinhas, para produção de 22,5 milhões de toneladas por ano de placas de aço.
 

Acaso tivesse ocorrido a implantação, a ilha de São Luís receberia uma emissão anual de poluentes como monóxido de carbono, dióxido de enxofre, óxidos de nitrogênio e material particulado da ordem de 167 mil toneladas, o que a colocaria entre as cidades mais poluídas do Brasil.
 

Depois desse alerta inicial o Padilha participou ativamente do Movimento Reage São Luís, que mobilizou a população de São Luís contra a implantação desse empreendimento, ministrando oficinas, aprofundando os estudos quanto aos riscos de implantação e intervindo nas 13 audiências públicas realizadas pelo Executivo e Legislativo municipal para discutir o empreendimento.
 

Em face da resistência enfrentada, conjugada com mudanças na conjuntura econômica e a dificuldade para o fornecimento de insumos essenciais como água para resfriamento do aço a ser produzido, o empreendimento acabou não sendo implantado.
 

O tempo passou e mostrou que as preocupações levantadas inicialmente pelo Padilha estavam certas.
 

Uma das empresas que pretendia se instalar em São Luís implantou sua usina siderúrgica na cidade do Rio de Janeiro, com graves consequências para a população que reside na vizinhança. A Companhia Siderúrgica do Atlântico, do grupo ThyssenKrupp, já foi autuada duas vezes pelo órgão ambiental local pela emissão de poluentes e tem sua licença de instalação definitiva condicionada à implementação de mais de 100 medidas mitigadoras de impactos sociais e ambientais. Outra das empresas que pretendiam se instalar em São Luís  foi recusada no Estado do Espírito Santo.
 

Parte dessa história pode ser vista na rede mundial de computadores no documentário “Desenvolvimento a ferro e fogo”.
 

Por tudo isso, poucas pessoas foram tão importantes para nossa cidade, na história recente, como o Eduardo Padilha. Que sua história de vida inspire as novas gerações, mostrando a importância do conhecimento científico comprometido com a luta por uma sociedade mais justa.
 

* Guilherme Zagallo é advogado.