Disputas do PT põem em risco unidade da Frente Popular do Recife

A realização das prévias do Partido dos Trabalhadores (PT) no último domingo (22), ao invés de avançar o processo de escolha do candidato das forças progressistas, complicou ainda mais o quadro sucessório no Recife.

O pré-candidato Maurício Rands, secretário estadual de governo e deputado federal licenciado, e outras lideranças políticas de expressão no partido, entre as quais o senador Humberto Costa, não reconhecem a vitória do atual prefeito da cidade, João da Costa, que obteve 51,9% dos votos. A Executiva Nacional do PT já anunciou que a lista de militantes aptos a votar será reavaliada e até lá, a vitória anunciada de Costa está suspensa.

Na opinião do deputado estadual e presidente do PCdoB no Recife, Luciano Siqueira, esses acontecimentos podem colocar em risco a unidade da Frente Popular e a precedência do PT para indicação do candidato a ser apreciado pelo conjunto de 15 partidos que formam o colegiado.

O PT é a força hegemônica na capital pernambucana desde 2000. Obteve duas vitórias sucessivas com o ex-prefeito e hoje deputado federal João Paulo, que tinha Luciano Siqueira como vice e elegeu seu sucessor em 2008 no 1º turno com um programa de governo avançado e o apoio de Lula, Dilma e do governador Eduardo Campos (PSB).

Nos últimos anos, no entanto, as contradições internas no PT ganharam força com repercussões sobre a gestão do prefeito João da Costa, que acumulou desgaste junto às forças políticas e à população mesmo com a execução de um expressivo volume de obras na cidade. Ao contrário de serem superadas, as disputas internas se agravaram ao ponto da apresentação do nome de Maurício Rands em alternativa à busca da reeleição do prefeito, como seria natural.

A expectativa do conjunto dos partidos que formam a Frente Popular do Recife era de que, após a realização das prévias, o PT indicasse o nome a ser apreciado pelo colegiado. Mas o resultado foi contestado com acusações mútuas de irregularidades e com apelo de recurso à direção nacional, que tem agora três opções: validar os resultados, encerrando o processo; acolher o recurso da facção perdedora e realizar uma nova prévia, ameaçando a hegemonia do PT, já que os outros partidos podem não estar dispostos a aguardar a decisão dos petistas; e, como terceira hipótese, anular a prévia e intervir na direção municipal do Recife.

"O risco é o PT apresentar um candidato e outra facção minoritária torpedear essa candidatura, o que o criaria dificuldades especialmente se nela estiverem lideranças importantes do partido”, avalia Luciano.

Para o dirigente comunista, o aguçamento da crise no PT coloca algumas questões na ordem do dia, a partir do fato de que não existe uma relação direta entre o apaziguamento do PT e a solução dos problemas políticos existentes no interior da Frente Popular. “Mesmo que o governo do prefeito João da Costa esteja bem avaliado pela população ao final da gestão, acumularam-se problemas políticos que nos remete a uma pauta que, na hipótese de o PT inaugurar um processo de consulta a outros partidos, deve ser considerada, que incluiria respostas a questões como: Qual é o conteúdo da nossa unidade; e que proposta de governo nos une, pois é preciso atualizar o programa de governo tendo em vista o novo ciclo econômico de Pernambuco”, questiona.

Desde a realização da sua última conferência, em agosto do ano passado, o PCdoB já defendia a necessidade do aprimoramento dos procedimentos políticos e administrativos para que o conjunto das forças da Frente Popular se sentisse partícipe do projeto encabeçado pelo prefeito João da Costa e para que o programa de governo ganhasse dinamismo e eficácia na sua execução.

Luciano lembra ainda que, mesmo diante uma oposição fragilizada, uma regra básica de qualquer disputa é jamais subestimar o adversário. “Não bastará que os partidos ajustem entre si, mas é preciso que a Frente Popular se apresente para o eleitorado livre dessas questões. E se o PT não avançar nesse sentido, não é fora de propósito que o partido perca as condições de estar à frente do processo para escolha do candidato da Frente que venha a encabeçar a chapa majoritária que concorrerá à Prefeitura do Recife em outubro próximo”, avalia.

Imbróglio petista nas prévias

A discórdia sobre as prévias no seio petista gira em torno do número de filiados aptos a votar, levando a disputa ao que se convencionou classificar de “judicialização” do processo.

Defendendo que todos os filiados teriam direito a voto e não apenas os que estivessem em dia com a contribuição financeira à legenda até o dia 5 de maio, no caso da contribuição individual, e até o dia 10 de maio, para a contribuição coletiva, o prefeito João da Costa recorreu à Justiça e obteve liminar autorizando que todos os votos fossem computados conjuntamente e não em separado como queriam os adversários. Em seguida, Rands obteve liminar cassando a primeira, que por sua vez foi cassada por uma terceira liminar em favor do Costa e seu grupo.

A “guerra” de liminares irritou o presidente do Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJ-PE). “É lamentável que isso venha para nós quando poderia ser resolvido por eles”, criticou o magistrado, que foi procurado pelo grupo de Rands na madrugada de domingo (20) para que derrubasse a liminar obtida por Costa e seus seguidores. Para não suspender a prévia, ele decidiu que os votos fossem apurados em conjunto, mas que o vencedor só fosse proclamado após a análise da aptidão dos votantes.

Computados apenas os votos dos que acertaram a conta com o partido nos prazos acima, Rands acredita que teria conseguido vencer, o que explicaria a reação do secretário de Governo. “O voto pirata não pode ser reconhecido, querem ganhar no tapetão”, disse Rands, para quem “o prefeito quebrou a legalidade da votação”. Apoiado pelo senador Humberto Costa, ele garante que vai buscar a anulação do pleito.

Prevista para acontecer no dia 31 de maio, a reunião da Executiva Nacional que definirá sobre a escolha do candidato para concorrer à sucessão municipal do Recife foi antecipada para a próxima quinta-feira (24), em São Paulo.

Da Redação do PCdoB-PE,
Inamara Mélo