Documentos da ditadura apreendidos na casa de militar argentino

A Justiça argentina autorizou na última segunda-feira (21) uma busca na residência do general reformado Jorge Eugenio O’Higgins. Ele é suspeito de participar do assassinato de Bernardo Alberte, outro militar e ex-secretário pessoal do ex-presidente Juan Domingo Perón, em 24 de março. O crime ocorreu em 24 de março de 1976, dia do golpe que instaurou a ditadura civil-militar no país (1976-1983).

De acordo com informações da rede estatal Telam, a medida foi realizada por determinação do juiz federal Daniel Rafecas, em uma ação ajuizada pela família de Alberte. A ação foi recentemente integrada em uma causa conjunta de crimes contra a humanidade durante o período.

Durante a busca, realizada por funcionários da Justiça e da Polícia Federal, foram apreendidos documentos da época que podem complicar a situação de O’Higgins, que na época do crime trabalhava como chefe da Inteligência do Exército, informou a advogada da família de Alberte, Elizabeth Gómez Alcorta.

Alberte dormia ao lado de sua mulher no prédio em que morava, no bairro da Recoleta. Poucos minutos depois do golpe ter sido estabelecido, um grupo de militares, transportados por um comboio de 14 veículos, invadiu seu apartamento arrombando a porta, aos gritos, afirmando que iriam matá-lo por vingança. Ele tentou resistir com seu revólver de uso pessoal, mas foi dominado pelo grupo e jogado do sexto andar do prédio, morrendo na hora.

Além do assassinato, os militares roubaram a correspondência que Alberte trocou com Perón entre os anos de 1967 e 1968, época em que estiveram mais próximos.

O’Higgins é acusado de ter ficado com a posse dessas cartas, que foram encontradas no lixo por um de seus vizinhos, em 1982.

Na medida judicial, expedida inicialmente em junho de 1976 e reaberta após a revogação das leis de impunidade (equivalentes à Leis de Anistia brasileira, ainda em vigor), a família Alberte acusa o general Oscar Enrique Guerrero como chefe da comissão militar que cometeu o assassinato. Guerrero era o então chefe de operações do Exército e chefe da polícia de Buenos Aires.

Alberte, histórico militante peronista, é considerado a “primeira vítima simbólica” da ditadura argentina por seus familiares. Na versão deles, sua esposa foi deitada de bruços e teve uma espingarda apontada para a sua boca. Sua filha Lídia, à época com quatro anos, presenciou a ação e quase foi levada pelo grupo de militares, que mudaram de ideia na última hora.

Fonte: Opera Mundi