Silêncio e evasivas nos depoimentos da CPMI do Cachoeira

Silêncio e evasivas marcaram os depoimentos na CPMI do Demóstenes/Cachoeira, nesta quinta-feira (24). Numa reunião tensa, marcada por divergências políticas e debates sobre a necessidade de convocação de governadores, o ex-presidente da Câmara Municipal de Goiânia (GO), Wladimir Garcez Henrique, foi o único dos três depoentes a falar e negou pertencer a qualquer tipo de organização criminosa.

Aparentando nervosismo, durante pouco mais de 20 minutos, o ex-vereador leu um texto se defendendo das acusações à CPI que investiga as relações do contraventor goiano com agentes públicos e privados. Os outros acusados de participar do esquema de Cachoeira, Jairo Martins de Souza e Idalberto Matias de Araújo, também conhecido como Dadá, ficaram calados, alegando o direito constitucional de não produzirem provas contra si mesmos.

Preso pela operação Monte Carlo, da Polícia Federal, Wladimir Garcez é apontado como um dos principais colaboradores de Cachoeira. O ex-vereador disse estar preso há 86 dias ilegalmente, visto que é acusado de crimes para os quais não cabe prisão preventiva.

O político informou que foi contratado para prestar assessoria ao ex-diretor regional da construtora Delta, Cláudio Abreu, e recebia R$20 mil. Também assessorava o empresário Carlos Cachoeira, recebendo R$5 mil pelo serviço.

O ex-vereador negou ter entregado dinheiro no palácio do governo de Goiás, conforme indicam interceptações telefônicas da Polícia Federal, mas admitiu que repassou cheques para um assessor do governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB). “Repassei os três cheques, assinados nem sei por quem, para um assessor do governador”, resumiu.

As explicações não convenceram o relator da CPI, deputado Odair Cunha (PT-MG), que, ao deixar a sessão, disse estar convencido da relação próxima entre Cachoeira, Cláudio Abreu, Wladimir Garcez e Marconi Perillo (PSDB), governador de Goiás.

“Este senhor era operador político da organização criminosa de Carlos Cachoeira. Já foi condenado por improbidade administrativa e mantinha relações com o governo do Estado de Goiás. O depoimento de hoje confirmou que ele tem uma relação íntima com Marconi Perillo, pois ninguém entrega R$1,4 milhão na mão de uma pessoa que não confia”, disse.

Divergências políticas

Os parlamentares da oposição reclamaram das perguntas feitas a Wladimir Garcez pelo relator. O deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP) afirmou que os questionamentos estavam sendo direcionados para atingir somente o governador Marconi Perillo e o PSDB.

Em defesa do relator, o senador José Pimentel (PT-CE) afirmou que todas as perguntas feitas por Odair Cunha tiveram como base o inquérito criminal. “As questões foram todas corretíssimas. Partiram todas do inquérito criminal e da representação feita pelo Ministério Público Federal”, disse José Pimentel.

Próximos interrogatórios

Para a próxima quarta-feira (30), estão marcados os depoimentos de mais três pessoas: José Olímpio de Queiroga Neto, acusado de gerenciar a organização no entorno do Distrito Federal; Gleyb Ferreira da Cruz, apontado como laranja; e Lenine Araújo de Souza, apontado como contador do grupo e gerente do jogo do bicho comandado por Cachoeira.

Antes disso, na terça-feira (29), a CPI receberá Claúdio Abreu, ex-diretor regional da Delta. Na mesma ocasião, ficou definido, depois de muita discussão entre os parlamentares, que será realizada também uma reunião administrativa para votação de requerimentos, entre eles os que pedem a convocação dos governadores do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral; do Distrito Federal, Agnelo Queiroz; e de Goiás, Marconi Perillo.

Os parlamentares pretendem apreciar também requerimentos que pedem a quebra dos sigilos bancário, telefônico e de dados.

De Brasília
Com agências Câmara e Senado