Liderança dos cara-pintadas vira vice-cônsul na Alemanha

Responsável pelos setores de passaportes e vistos do consulado-geral em Frankfurt, na Alemanha, o vice-cônsul brasileiro Danilo Zimbres já não ostenta a vasta cabeleira encaracolada de 20 anos atrás. Líder estudantil durante o processo de impeachment do ex-presidente Fernando Collor de Mello, em 1992, o ex-cara-pintada se desfiliou do PT e ingressou na carreira do Itamaraty.

"Comecei a militar no PT ainda antes de ter 16 anos, na década de 1980. Filiei-me tão logo tirei meu título de eleitor. (…) Durante minha juventude, o PT representava a melhor esperança de construção de um Brasil socialmente justo, altivo e democrático", conta Zimbres ao iG por email. Em 2005, já desligado do partido, Zimbres foi aprovado na 13ª colocação entre 9 mil candidatos que prestaram concurso público para o Serviço Exterior Brasileiro. Em 2009, deixou o ministério da Cultura e foi enviado a Frankfurt com a mulher e a filha.

Mesmo fora do Brasil, Zimbres não se sente distante das decisões do governo por conta da amizade que mantém até hoje com lideranças que ocupam cargos-chave na esfera federal. "Vários amigos que atuaram comigo, na juventude, continuam a exercer um papel importantíssimo. O ministro Alexandre Padilha (Saúde) foi meu companheiro; a ministra Gleisi Hoffmann (Casa Civil) me sucedeu na Ubes; o ex-ministro Orlando Silva (ex-Esportes); o senador Lindbergh Farias (PT-RJ); o Manoel Rangel (presidente da Ancine), o Flávio Dino (presidente da Embratur); o Ivo Bukaresky (diretor da Anvisa); a deputada federal Manuela d'Ávila (PCdoB-RS) e tantos outros", diz.

No final da década de 80 e início da década de 90, Zimbres foi vice-presidente nacional da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes), presidente do Centro Acadêmico da Faculdade de Filosofia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), coordenador nacional de juventude do PT, até se tornar uma das principais líderanças dos caras-pintadas. "Resgatamos a alegria, a leveza e a criatividade no fazer político. A ideia de pintar as caras surgiu disso. Queríamos uma nova política, mais alegre, mais humana, mais libertária, menos dogmática. (…) Tivemos o privilégio de sonhar e ousar, com ímpeto e paixão", lembra.

Para o vice-cônsul, a luta estudantil daquela época se reflete no atual governo federal, com uma política democrática muito mais transparente e participativa. "A presidente Dilma Rousseff é uma mulher incrível, um exemplo de dedicação e força. Sua biografia sempre me inspirou muito. Até hoje, nunca encontrei um interlocutor alemão que não tenha manifestado profundo respeito pela nossa presidente", elogia.

O mesmo afeto ele demonstra pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "Fui membro da coordenação nacional de juventude da sua primeira campanha, em 1989. Lembro-me de ter reencontrado o presidente, muitos anos depois. Dirigi-me a ele e disse: “presidente, lembra-se de mim?”. Lula olhou-me nos olhos, sorriu, abraçou-me longamente e disse: 'Claro! Bom te rever, menino. Sentimos muito a sua falta'", conta.

Para os próximos 20 anos, Danilo Zimbres garante que continuará a "servir a pátria", função que julga ser sua "sina", no Brasil ou fora dele. "O Barão do Rio Branco dizia: ubique patria memor (em qualquer lugar, a memória da pátria). Estou sempre à disposição do governo. Pretendo voltar para casa logo após o primeiro dia da minha aposentadoria. Pretendo morrer no Brasil, debaixo de palmeiras, ouvindo o canto do sabiá, lendo, quem sabe pela vez derradeira, a bela canção do exílio".

Fonte: Último Segundo