Cebrapaz: "A essência de nossa época é a luta anti-imperialista"

O Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos e Luta pela Paz (Cebrapaz) aprovou na Assembleia Nacional encerrada sábado (9), uma Declaração em que renova as convicções dos ativistas brasileiros pela paz de que sua luta está ligada ao combate ao imperialismo estadunidense e seus aliados da Otan. Ao encerrar o evento, a presidenta do Cebrapaz, Socorro Gomes, declarou que a missão da entidade é denunciar os crimes do imperialismo e mobilizar o povo na luta pela paz. Leia a íntegra da Declaração.

Nós, militantes da paz, da solidariedade aos povos e da luta anti-imperialista, reunidos na 3ª Assembleia Nacional do Cebrapaz, realizada na cidade de São Paulo, nos dias 08 e 09 de julho de 2012, nos somamos às vozes que ao redor do mundo clamam pela paz, soberania e justiça.

Homenageamos nesta ocasião um dos grandes brasileiros, o humanista e pintor Candido Portinari, que com o seu pincel e cores expressou com contundência as dores da guerra, e a alegria dos povos de viver em paz. O exemplo deste grande brasileiro, como de tantos outros, nos inspira para tansformar nossa indignação em ação organizada e consciente.

O Cebrapaz é uma expressão organizada do sentimento da sociedade brasileira contra as guerras e em solidariedade aos povos em luta no mundo.

Esta assembleia realizou uma abrangente análise sobre as ameaças à paz, provocadas pelo imperialismo; debateu sobre como fortalecer a solidariedade aos povos agredidos, que lutam para defender sua soberania e o direito à autodeterminação.

Vivemos uma mudança de época. Estão em curso profundas mudanças e transformações no mundo.

A crise atual do capitalismo é estrutural e sistêmica. As políticas empregadas para enfrentar a crise atacam os direitos dos trabalhadores e dos povos e suas repercussões vão muito além dos aspectos econômicos.

De igual modo, está em curso um processo histórico de declínio relativo da hegemonia do imperialismo estadunidense. Paralelamente a isto emergem grandes nações que reafirmam seu direito de defesa da paz, à autodeterminação e ao desenvolvimento com justiça social.

Contudo os EUA ainda são a força predominante nas dimensões militar, cientifico-tecnológica e na esfera econômica em relação a outros países do mundo. Atuam de forma consciente para se manter no centro do sistema, utilizando para isto a militarização, a guerra e a instrumentalização das Nações Unidas.

Vivemos uma nova ofensiva imperialista que visa saquear os recursos naturais, tais como as fontes de energia, a biodiversidade, a água, os minérios, entre outros. O imperialismo recrudesce a sua agressividade contra os povos do mundo, fazendo-a acompanhar de uma sistemática e orquestrada campanha ideológica e de desinformação, destinada a “legitimar” e suavizar a barbárie causada por suas aventuras bélicas.

Novos e antigos argumentos são utilizados para ameaçar a soberania e a paz das nações. Neste sentido, surgem novos conceitos e justificativas, como “guerra preventiva” e “direito de proteger” para realizar os graves crimes contra a humanidade, como os ocorridos na Líbia no último período. Trata-se de uma época em que a violação do direito internacional e da carta das Nações Unidas, como também a instrumentalização da ONU são parte da estratégia do imperialismo.

É com este intuito que foi reformulada a estratégia de ação da Otan, com a expansão de sua área de atuação, tornando-se uma das principais inimigas da paz e dos povos do mundo.

A rede de bases militares estrangeiras e as esquadras navais dos EUA constituem na atualidade uma ampla rede de apoio às suas operações em todas as latitudes.

Neste sentido, regiões como Oriente Médio, África e a América Latina, abundantes em recurso naturais estratégicos, são alvo da cobiça do imperialismo. Prosseguem as guerras de ingerência, agressão e ocupação, com ações nos Bálcãs, no Oriente Médio, na Ásia Central e na África. Agora, a Otan volta a manifestar a sua intenção de ter presença militar no Atlântico Sul.

No Oriente Médio, Israel continua sendo a ponta de lança do imperialismo, com uma política de hostilidade e agressão aos povos da região, mantém ocupadas as colinas de Golan, da Síria, e as Fazendas de Sheeba, no Líbano.

Com respeito à Palestina, o sionismo israelense continua com a política de expansão das colônias, construção de postos de controle e do muro de separação, perpetrando crimes, como prisões arbitrárias e assassinatos seletivos. Reafirmamos a defesa da constituição do Estado da Palestina já. Não há como esperar mais tempo, as Nações Unidas têm esta responsabilidade perante o martirizado povo palestino.

Os sionistas e o imperialismo estadunidense fazem constantes ameaças e provocações contra o Irã, pretextando que este país pretende fabricar armas nucleares.

Na Ásia Central, os EUA tentam construir uma saída para sua desastrosa presença no Afeganistão, além de continuar violando a soberania do Paquistão, realizando os criminosos e covardes bombardeios com aviões não tripulados.

Na África, a partir da reativação do Comando Africano (Africom), o imperialismo estadunidense busca expandir sua presença. Comandou, com países da União Europeia e da Otan, a recente agressão contra a Líbia, com claros objetivos neocolonialistas.

No momento em que realizamos nossa assembleia, o alvo imediato do imperialismo e sua maquinaria de guerra e propaganda é a Síria. Isto dá um sentido de urgência à nossa ação de solidariedade com este país. A defesa da soberania nacional torna-se a principal expressão da defesa da paz e da oposição ao jugo imperialista. Querem derrubar o governo do presidente Bashar Al-Assad não pelos seus eventuais problemas, mas por suas qualidades, por não ser submisso aos interesses do imperialismo na região. Desde nossa assembleia, conclamamos todas as forças progressistas e defensoras da paz a se solidarizarem com a Síria e seu povo.

Na América Latina, o “Continente Rebelde”, vivemos uma nova realidade política, econômica e social, fruto de décadas de luta política e social dos nossos povos. Os governos da região têm privilegiado a construção da democracia, fazem esforços pelo progresso social, promovem a integração solidária, reforçam posições de defesa da soberania nacional e da paz. Por isso mesmo, o imperialismo estadunidense, em conluio com as classes dominantes retrógradas, fazem pressões e ameaças contra os governos anti-imperialistas, principalmente Cuba e Venezuela.

Prosseguem seus intentos de instalar novas bases militares estadunidenses na Colômbia e em outras localidades, além dos esforços de fazer com que a Otan atue nas águas do Atlântico Sul. A Quarta Frota continua ameaçadoramente singrando as águas do Atlântico e do Mar do Caribe.

Reiteramos que não é concebível que em pleno século 21 tenhamos que conviver com o flagelo do colonialismo. Em nossa região são 22 os enclaves coloniais de distintas formas, que servem em muitos casos como base para operações militares das grandes potências, como a ilha de Ascensão e as Ilhas Malvinas. Nesta oportunidade repudiamos uma vez mais o colonialismo britânico e afirmamos que as Malvinas são Argentinas.

Hoje, mais do que em qualquer outra época, torna-se necessário um movimento forte e organizado em defesa da paz. A denúncia dos crimes do imperialismo e seu combate é uma tarefa que está na ordem do dia.

Nosso desafio é ser a expressão organizada do sentimento de solidariedade aos povos em luta e na denúncia dos crimes do imperialismo. Fortalecer o Cebrapaz como uma organização de ação de massas e unidade, com núcleos atuantes nos diferentes Estados e amplas relações com outras entidades, buscando desenvolver ações unitárias, é um dos nossos principais desafios.

A tarefa principal do Cebrapaz é contribuir para a construção de uma ampla frente de luta contra o imperialismo e pela paz. Para realizá-la é necessário fortalecer sua estrutura e organização, ampliar alianças, construir frentes, atuar em conjunto com outros movimentos.

A exemplo de Portinari e de tantos outros homens e mulheres que no seu dia a dia lutam para construir um mundo de paz, justiça e solidariedade, estaremos nas ruas, locais de trabalho e estudo buscando fortalecer e construir este movimento, que é de defesa da própria humanidade.

Estamos certos de que o século que se inicia será o século dos povos, da paz e da solidariedade entre os homens e mulheres ao redor do mundo. A essência de nossa época é o anti-imperialismo.

Na ocasião em que realizamos nossa 3ª Assembleia Nacional, reafirmamos a convicção de que o imperialismo não é invencível. Com a força do povo, será derrotado.

Viva a luta dos povos!

Viva a paz e a solidariedade!

São Paulo, 9 de junho de 2012
A 3ª Assembleia Nacional do Cebrapaz