Resgate aos bancos espanhóis não vai funcionar, diz Stiglitz

O empréstimo da Europa à Espanha para curar alguns dos bancos pode não funcionar porque o Governo e os bancos estarão de fato a sustentar-se mutuamente, defende o economista Joseph Stiglitz.

“O sistema… é o governo a socorrer os bancos, e os bancos a socorrerem o governo”, disse numa entrevista citada pela agência Reuters. “É economia vudu”, ironizou, numa entrevista na sexta-feira (8), ainda antes de ser conhecida a decisão europeia de emprestar até 100 bilhões de euros aos bancos espanhóis, anunciada no sábado.

Stiglitz, professor de Economia da Universidade de Columbia, nos EUA, considera que, como os bancos são os principais compradores de dívida soberana, o governo poderia ver-se obrigado a pedir ajuda aos bancos aos quais agora chegarão fundos europeus.

“Se o Governo espanhol resgata os bancos e o sistema financeiro resgata o governo, o sistema converte-se numa economia vudu. Não vai funcionar e não está a funcionar”, disse.

Stiglitz defendeu que a Europa devia acelerar a discussão sobre um sistema bancário comum, porque “não há maneira de, quando uma economia entra em queda, ser capaz de sustentar políticas que restaurem o crescimento sem uma forma de sistema europeu”.

Stiglitz foi conselheiro econômico da administração Clinton nos Estados Unidos e é há muito crítico dos pacotes de austeridade. Assim, considera que o que a União Europeia fez até agora foi mínimo e numa direção errada, porque as medidas de austeridade para diminuir o risco da dívida têm como resultado diminuir o crescimento e fazer aumentar o peso da dívida, disse ainda.

“Ter porta corta-fogo quando se tenta apagar o fogo com gasolina não vai resultar. Vai ser preciso enfrentar o problema de base, que é o de promover o crescimento”, disse.

“A Alemanha vai ter de enfrentar a questão: quer pagar o preço que se seguiria a uma dissolução do euro, ou quer pagar o preço de manter vivo o euro?”, resumiu Stiglitz.

“Penso que o preço que eles vão pagar se o euro se desintegrar será maior do que o preço que vão pagar para manter o euro. Espero que percebam isso, mas podem não perceber”, rematou.

Fonte: O Público