PCdoB se reúne com partidos de esquerda em Montevidéu

A capital uruguaia sediou no último fim de semana, uma importante reunião dos Partidos de esquerda, membros do Foro de São Paulo, da região do Cone Sul. Além da anfitriã, a Frente Ampla – força do presidente José Pepe Mujica –, estiveram presentes representações da Argentina, do Chile, do Paraguai e do Brasil.

Ronaldo Carmona e Ana Carolina

Pelo Brasil, além de Ronaldo Carmona, em representação do PCdoB, assistiram a reunião o ex-governador gaúcho Olívio Dutra, pelo PT, e Caleb de Oliveira, presidente estadual do PSB do Rio Grande do Sul.

Na segunda-feira, Carmona foi recebido no gabinete da prefeita (intendente) de Montevideu, Ana Oliveira – da Frente Ampla e dirigente do Partido Comunista do Uruguai – e reuniu-se com a direção do PCU e do MPP (Movimento de Participação Popular), os tupamaros, corrente política do presidente Mujica.

Encontro com a prefeita Ana Oliveira

Ana Oliveira fez longa e detalhada exposição ao representante do PCdoB acerca dos desafios principais que estão sendo enfrentados em seu mandato, num contexto em que a Frente Ampla governa a capital desde 1990, quando foi eleito Tabaré Vasquez.

A prefeita comunista listou conquistas recentes, como a instalação de oito municípios no interior da cidade de Montevidéu – o que equivaleria, na cidade de São Paulo, a subprefeituras. A diferença é a gestão democrática, com a eleição direta de seus dirigentes. Ana Oliveira falou ainda sobre um audacioso plano de mobilidade urbana e sobre o desafio de enfrentar o crônico problema da gestão do lixo urbano – problema que se acumula há anos.
Ronaldo Carmona manifestou o interesse do PCdoB em conhecer a rica experiência da Frente Ampla e mais recentemente diretamente dos comunistas uruguaios, na pessoa da prefeita Ana, a frente de Montevidéu, sobretudo tendo em vista as próximas eleições municipais no Brasil.

Reunião do Cone Sul do Foro de São Paulo

No fim de semana reuniu-se a regional sul do Foro de São Paulo.

A reunião ocorreu sob forte impacto do massacre, ocorrido na sexta-feira (15), de duas dezenas de camponeses e policiais, durante uma desocupação de uma fazenda em Curuguaty, 250 km a nordeste de Assunção. Há fortes indícios, revelados pela delegação paraguaia, de que as mortes foram provocadas a partir da infiltração de provocadores entre os camponeses, visando desestabilizar o cenário político paraguaio, num momento em que já se discute a sucessão do presidente Lugo, cujas eleições ocorrerão em abril de 2013. O alvo é claro, argumentou a delegação paraguaia: impedir a continuidade de um governo progressista a frente do Palacio de Lopez.

A reunião decidiu enviar uma delegação de emergência ao Paraguai, ainda esta semana, para reunir-se com o presidente Lugo e com as diversas forças políticas e sociais paraguaias.
A reunião do Foro de São Paulo fez ampla atualização das realidades nacionais dos países presentes. Pela delegação brasileira, falaram seus três representantes, que revelaram grande unidade na analise da conjuntura e dos desafios para o próximo período. Em especial, destacaram a necessidade do país sustentar altas taxas de crescimento por um longo período histórico para sustentar a retirada de milhões da linha de pobreza desde 2003.

No domingo a reunião fez rico debate sobre a integração regional, a partir de contribuição inicial apresentada pelo senador Alberto Couriel, importante economista uruguaio, professor da Universidade da República, formado na tradição cepalina desenvolvimentista.

Couriel desmontou os argumentos correntes na grande imprensa uruguaia e expresso com frequência pelos ex-presidentes do período neoliberal, que propõem a saída do país do Mercosul. O senador frenteamplista lembrou o Brasil é o 1º destino das exportações uruguaias e a Argentina é o 3º, e demonstrou que a pauta destas exportações é essencialmente de produtos industrializados, ao contrário das vendas para outras parte do mundo. Couriel propôs reconsiderar a postura uruguaia e paraguaia que resistem ao aumento da Tarifa Externa Comum do Mercosul, num contexto em que se busque compensações aos dois países mais pobres do bloco no sentido de fomentar a integração das cadeias produtivas.

Carmona, pelo PCdoB, chamou atenção para os efeitos da grave crise financeira capitalista sobre a América Latina e manifestou a necessidade de fortalecer a resposta como bloco sul-americano a crise. O comunista brasileiro defendeu que os países do bloco elevem suas proteções tarifárias, salvaguardando as economias nacionais, e que nesse contexto, efetivem medidas como o plano de integração em infraestrutura, discutido no âmbito da Unasul e o fomento e integração de cadeias produtivas regionais – como se tem visto, por exemplo, na Indústria de Defesa –, num contexto da busca de um novo ciclo de industrialização da região.
A reunião foi concluída com a aprovação de um conjunto de declarações de solidariedade, que serão publicadas nos próximos dias.

Da redação, com informações da Secretaria de Relações Internacionais.