Ato sela unidade entre movimentos de esquerda na Cúpula dos Povos

Está selada a união entre os movimentos sociais de esquerda que defendem o desenvolvimento sustentável com soberania nacional dos povos. A unidade foi formalizada no debate “Movimentos Sociais e o Desenvolvimento Inclusivo com Democracia e Soberania Nacional”, na tenda Milton Santos da Cúpula dos Povos, no Aterro do Flamengo, Rio de Janeiro (RJ), que aconteceu entre 18h30 e 21h30 da terça-feira (19).

Promovido pelas fundações Maurício Grabois, do PCdoB, e Perseu Abramo, do PT, a atividade procurou reunir os pontos em comum que movimentos, partidos e governos têm na luta em defesa do meio ambiente com crescimento e desenvolvimento soberano.

Diversas lideranças das executiva dos dois partidos e dos movimentos presentes se revezaram nas denúncias e colocação de ideias sobre a grave crise que vive o capitalismo – sua nova proposta de modelo econômico, pintada de verde –, e suas diversas dimensões que, na verdade, escondem uma crise do projeto neoliberal imposto às economias mundiais desde as décadas de 1980 e 1990.

“É uma crise que articula diferentes dimensões de uma única crise: se fala de uma crise econômica financeira, energética, alimentar, ambiental, muitas crises, sem se estabelecer uma conexão entre essas varias dimensões. E no nosso entendimento é uma crise do projeto que o capitalismo engendrou para superar a crise dos anos 1970 e que marcou a hegemonia do capital financeiro de 1980 até agora, naquilo que se convencionou chamar de projeto neoliberal”, explicou Renato Simões, secretário de Movimentos Populares do PT.

Tanto em sua explanação, quanto na do presidente da Fundação Maurício Grabois, Adalberto Monteiro, ficou o alerta: “Não se pode deixar de constatar que se há uma crise ambiental ela é decorrente da aplicação desse projeto hegemônico do capital (neoliberalismo).”

Para o secretário do PT, apesar do fortalecimento dos movimentos e das convicções socialistas, adquiridas ao longo dos anos 1980 e 1990, pelos movimentos operário, estudantil e camponês, não é possível ainda vislumbrar para a humanidade, nesse curto prazo, um horizonte de saída socialista. "Porque não logramos ainda constituir força politica, ideológica, cultural, econômica. O capital busca alternativa para esta crise, e nos também buscamos, mas não é um horizonte que nos permita vislumbrar que vamos sair para um patamar mais avançado, do ponto de vista da civilização. Mas temos que aproveitar esse momento de fragilidade do capital e dos Estados que patrocinaram esse processo, como os países do capitalismo central que vivem mais essa crise, para que possamos elaborar esse modelo que procura integrar quatro dimensões: da inclusão social e das massas pobres e da classe trabalhadora desses países; a soberania nacional, definida como a recusa dos instrumentos de integração subordinada; uma dimensão democrática, porque aprendemos o valor e a importância do processo democrático, e a dimensão da sustentabilidade", detalhou Renato Simões.

Carta conjunta

Os partidos de esquerda reunidos na Cúpula divulgaram uma carta conjunta, assinada entre as legendas, com o mesmo título do debate, e decidiram realizar o encontro para refletir junto aos movimentos, partindo da premissa de que todas as bandeiras têm condições de prosperar e se fortalecer a partir do enfrentamento ao modelo hegemônico. Leia aqui a íntegra da Carta Conjunta.

“Um outro mundo é possível com a união dos povos. Por isto conclamamos as diversas forças políticas presentes à Cúpula do Povos à luta contra o imperialismo, o neoliberalismo e em defesa de um projeto nacional de desenvolvimento sustentável inclusivo com democracia e soberania nacional”, conclui o documento.

Adalberto Monteiro relembrou o percurso feito desde 1972, em Estolcomo, na primeira reunião mundial sobre meio ambiente, até a Rio+20 e Cúpula dos Povos.

“É convergente entre nós os organizadores [do debate], que a crise ambiental é um sintoma e uma consequência do esgotamento histórico do capitalismo, que não consegue dar respostas aos anseios da humanidade de paz, prosperidade e direitos do meio ambiente, que garanta às pessoas um ambiente saudável. Portanto, é a construção de uma nova sociedade mais solidária e socialista”, declarou Adalberto, lembrando de alguns pontos positivos conquistados nos últimos 12 anos como a “tomada de consciência dos povos, estados e governos, quanto a necessidade de harmonizar produção crescimento econômico, distribuição de renda, erradicação da pobreza e proteção ambiental.”

Lembrou ainda que a atual conferência das Nações Unidas se realiza sobre o tripé: crescimento econômico, proteção ambiental e erradicação da pobreza, e que caberá à sociedade fazer pressão para que algo a mais saia da Rio+20.

Rosane Bertoti, Secretária de Comunicação da CUT, também presente na mesa, fez coro a Adalberto, ressaltando a importância do papel dos movimentos sociais.

“O PT não seria o que é o PT hoje se não tivesse construído as bases com os movimentos sociais e o PCdoB também não seria o que é se não tivesse construído suas bases com os movimentos. Lula não teria sido presidente, nem Dilma teria sido eleita presidenta. As políticas públicas implementadas nesse governo precisa ser de Estado e não de governo. A soberania se dá com política pública e se dá pelo seu povo e sua nação. A responsabilidade com o movimento social, com o governo nesta casa nós sabemos. Agora, qual o compromisso da pressão dos movimentos sociais? É preciso pôr pressão na panela para que o feijão fique pronto, como diz Frei Betto”, enfatizou Rosane.

Rosane também é militante da Comunicação e ressaltou a luta contra a mídia hegemônica e a importância da “liberdade de organização dos movimentos sociais”.

Outras lideranças presentes na mesa, como Daniel Iliescu, presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), Joilson Cardoso, secretário nacional der Políticas Sindicais da Central de Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), Aldo Arantes, secretário nacional de Meio Ambiente do PCdoB, também fizeram suas colocações para apimentar o debate que se constituiu ao final.

Deborah Moreira, especial para o Vermelho,
do Rio de Janeiro