Extradição de ex-premiê líbio aprofunda disputa política tunisina

Setores da oposição na Assembleia Nacional Constituinte (ANC, parlamento provisório) da Tunísia intensificaram nesta quarta-feira (27) as críticas ao partido islamista moderado Ennahdha pela extradição do ex-primeiro ministro líbio Al-Baghdadi Al-Mahmoudi.

Depois da sessão de terça-feira, da qual se retiraram os delegados opositores em sinal de desacordo com o Executivo, as discrepâncias tendem a se aprofundar entre o presidente interino do país, Moncef Marzouki, e o gabinete do premiê Hamadi Jebali.

Issam Chebbi, congressista da oposição liberal pelo Partido Republicano, desaprovou a decisão de Jebali de repatriar Al-Mahmoudi à Líbia, que estava detido na Tunísia desde setembro de 2011, um mês depois de ter ingressado ilegalmente no país a caminho da Argélia.

Segundo Chebbi, a postura de seu partido é uma forma de "defender os valores" das revoltas que derrubaram o presidente Zine el-Abidine Ben Alí, no dia 14 de janeiro do ano passado, e de denunciar que estão sendo violados direitos humanos no país árabe.

O próprio presidente Marzouki, dirigente do partido laico Congresso Pela República (CPR), qualificou de "ilegal" e "não consultada" a extradição do ex-primeiro ministro de Muamar Kadafi, decidida pelo governo liderado pela formação islamista moderada Ennahdha.

A coalizão dirigente tunisina está integrada, além do Ennahdha (Renascimento, em árabe), pelo CPR e o fórum de esquerda Ettakatol, do atual presidente da Assembleia Constituinte, Mustafa Ben Jaafar.

Para muitos analistas locais, o envio de Al-Mahmoudi a Trípoli é um teste difícil para a aliança no poder na Tunísia, dadas as dúvidas de que o autoproclamado governo do Conselho Nacional de Transição líbio cumpra sua promessa de julgamento justo e despolitizado.

Os ministros do gabinete aliados a Jebali o defenderam, alegando que o premiê fez uso de suas competências e que não era necessária uma autorização presidencial para a extradição, enquanto que Marzouki esgrimiu o perigo de serem violados os direitos do detento.

Além disso, o chefe de Estado recriminou Jebali que excedeu seu mandato, e pôs em dúvida a veracidade dos supostos delitos imputados pelas novas autoridades líbias ao antigo aliado do Kadafi.

Enquanto isso, a televisão e meios impressos nesta capital reportaram que uma bomba explodiu na terça-feira, sem provocar vítimas, fora do consulado tunisino em Trípoli, o que se relacionou diretamente com a repatriação de Al-Mahmoudi, de 67 anos.

Fonte: Prensa Latina