Brasil é alternativa para México encerrar dependência dos EUA

O novo presidente do México, que será eleito amanhã, deve estreitar as relações políticas e comerciais com o Brasil, principalmente no setor energético, segundo especialistas consultados pela Ansa.  

Apesar dos países estarem entre as maiores economias da América Latina e possuírem uma relação amistosa, ainda existem divergências causadas, sobretudo, pela influência dos Estados Unidos sobre o México.

"México e Brasil possuem rivalidades profundas devido à projeção geopolítica 'pós-neoliberal' do Brasil, [e rivalidades também] na Unasul, no Mercosul, nos Brics. O México permanece atado aos Estados Unidos, país que já responde por 90% de suas exportações e importações e de cuja diplomacia comercial não pode mais se soltar", disse o professor e pesquisador de Ciências Sociais e Humanidades da Universidade mexicana de Guadalajara Jaime Preciado Coronado.

O Brasil, então, pode ser uma alternativa à essa dependência norte-americana, pois "constitui-se num interessante parceiro, tendo em vista os vários setores de complementaridade econômica e do atraente mercado para as empresas mexicanas exportarem e/ou produzirem", de acordo com Arnaldo Francisco Cardoso, professor de Comércio Internacional da Universidade Mackenzie e pesquisador do Núcleo de Estudos e Pesquisa de Estratégia e Inovação (Nepei).

"A redução da dependência em relação ao mercado norte-americano se mostrou, mais do que nunca, necessária após o tombo provocado pela crise financeira dos Estados Unidos em 2008, que refletiu em uma queda de 6,5% no Produto Interno Bruto (PIB) mexicano do ano seguinte", afirmou Cardoso.

Ele acredita que, para um verdadeiro fortalecimento das relações entre Brasil e México, "faz-se essencial um incremento na cooperação técnica, envolvendo universidades e empresas em processos de inovação".

"Expressão desses interesses recíprocos, em 2010 foi criado o Fórum Estratégico Empresarial Brasil-México, visando à expansão do comércio bilateral, do IDE e da cooperação técnica em setores como o petroquímico, automobilístico, tecidos, construção civil, tecnologia de informação e comunicação. Essa iniciativa contou com o engajamento de grandes empresas brasileiras como Odebrecht, Braskem, Embraer e correlatas mexicanas. A APEX e a ProMéxico são as agências governamentais mediadoras desse diálogo empresarial", relembrou Cardoso.

Outra área com grande capacidade para ser explorada é a energética, já que, segundo Coronado, a "experiência da Petrobras é amplamente reconhecida por todos os candidatos" à Presidência do México.

Ele, porém, afirma que as relações entre os dois países têm mais chances de se estreitarem com uma vitória do candidato Andrés Manuel López Obrador, do Partido da Revolução Democrática (PRD), de esquerda, nas eleições de amanhã.

"Isso porque boa parte da agenda econômica e social do partido é muito próxima do proposto por Lula e Dilma", observou o especialista, dizendo que um governo de Obrador também aproximaria os dois países em relação ao posicionamento diante dos conflitos mundiais.

"Dessa forma, a proximidade frente aos organismos econômicos multilaterais poderia ser propícia para ações comuns que fortaleçam a autonomia mexicana dos Estados Unidos. Tanto o México quanto o Brasil se veriam fortalecidos internamente", comentou Coronado.

As últimas pesquisas de intenção de voto apontam Obrador e o candidato Enrique Peña Nieto, do Partido Revolucionário Institucional (PRI), à frente.

"Se ganhasse a Presidência do país, o PRI também traria melhorias nas relações com o Brasil, salvo no ponto relativo à agenda social e à econômica, pois o PRI aprofundaria a dependência com os Estados Unidos", analisou o especialista mexicano, referindo-se à legenda que governou o México por cerca de 70 anos.