Higinio Polo: Nazistas na região do Báltico
Apesar da miserável equiparação entre comunismo e nazismo que a direita reacionária vem procurando difundir, a verdade é que são os comunistas quem é perseguido na Europa de hoje, enquanto os veteranos nazis e fascistas e os seus seguidores recebem o apoio dos governos bálticos e, noutros países, conseguem que as suas atividades sejam toleradas.
Por Higinio Polo, no Rebelión
Publicado 03/07/2012 15:14
Perante a passividade da União Europeia, as atividades nazis e os lemas contra os judeus percorrem a Letônia e a Lituânia como se não tivessem passado mais de sessenta anos desde o fim da guerra. E enquanto as instituições europeias não se preocuparam minimamente (atraiçoando assim as suas proclamadas convicções democráticas) com a prisão de dirigentes comunistas ou com as tentativas de declarar ilegais alguns partidos comunistas, olharam impassíveis para a exaltação do nazismo que se faz dentro das fronteiras da União Europeia.
Em Junho de 2008, Vaclav Havel e outros destacados expoentes da direita política e do anticomunismo incrementaram a Declaração de Praga, que foi apoiada pela União Europeia, onde insistiam na ideia de considerar semelhantes o nazismo e o comunismo, equiparando-os, numa condenação que pretendiam fosse definitiva.
À margem da falta de rigor dessa declaração e do recurso às mais torpes mentiras dos empedernidos conservadores que fingem ignorar a óbvia ligação entre o nazismo e o fascismo com o sistema capitalista, a ideia não era nova e, de fato, tinha precedentes na propaganda norte-americana nos anos da guerra fria e, mais recentemente, na atividade política dos governos dos países bálticos, cuja identidade nacionalista mantém uma evidente filiação com o nacionalismo fascista, cúmplice da Alemanha hitleriana durante a Segunda Guerra Mundial, ainda que hoje procurem esconder essas ligações.
Essa iniciativa de Havel (que foi apoiada por diferentes câmaras legislativas como a da Bulgária, e por exemplo o Parlamento Europeu em 2009), e outras idênticas estimularam a nova reescrita da História da Europa, dando enfases à condenação do comunismo e tornando possível o reaparecimento dos fantasmas nazis do passado da Europa, numa carreira que tem nos países bálticos os maiores protagonistas e difusores.
Apesar da equívoca comparação, a verdade é que são os comunistas quem é perseguido na Europa de hoje, enquanto os veteranos nazis e fascistas e os seus seguidores recebem o apoio dos governos bálticos e, noutros países, conseguem que as suas atividades sejam toleradas.
Por isso, entre outras destacadas denúncias, Efraim Zuroff, um historiador de origem norte-americana que dirige o Centro Simon Wiesenthal em Jerusalém, publicou em 2010 um artigo no The Guardian onde alertava para as atividades nazis na Letônia e Lituânia e dos lemas contra os judeus que percorriam esses países, como se não tivessem passado mais de sessenta anos desde o fim da guerra.
Zuroff também denunciou a passividade da União Europeia para com as atividades dos nazis. O caso não é para menos, porque enquanto as instituições europeias não se preocuparam minimamente (atraiçoando assim as suas proclamadas convicções democráticas) com a prisão de dirigentes comunistas ou com as tentativas de declarar ilegais alguns partidos comunistas, olharam impassíveis para a exaltação do nazismo que se faz dentro das fronteiras da União Europeia.
Nos três países bálticos a situação é muito preocupante. Os governos desses países mantêm um discurso oficial que tenta equiparar o comunismo ao nazismo, o Exército Vermelho com as tropas nazis, a Alemanha de Hitler com a União Soviética, confundindo vítimas e verdugos, tratam os veteranos nazis como "combatentes da liberdade", como alguns ministros se atreveram a denominá-los.
A Estônia, que se converteu num lugar habitual de reunião dos veteranos nazis das Wafen-SS com o apoio governamental e, inclusive, envia mensagens de saudação às concentrações, tem no ministro da Defesa um dos seus principais propagandistas.
Há anos que se sucedem desfiles, acções e concentrações de exaltação do nazismo. Em 2004 apareceram na imprensa internacional notícias sobre o propósito de construir um monumento às SS na Estônia, e sobre os veteranos da 20ª Divisão das Waffen Grenadier 1ª Estônia, que colaborou com os nazis e continuam a realizar livremente encontros no país.
Não são grupos isolados: entre sessenta e setenta mil estonianos integram os destacamentos nazis que lutaram com a Alemanha hitleriana.
Em Sinimae, onde se travou a principal batalha entre o exército alemão e as tropas soviéticas durante a Segunda Guerra Mundial, costumam concentrar-se todos os anos centenas de pessoas acompanhadas pelas autoridades locais e por veteranos nazis da Letônia, Lituânia, Dinamarca e Áustria, e os antigos membros das Waffen-SS desfilam sob bandeiras nazis.
Uma das suas reivindicações é a construção de um monumento em Tallinn, capital da Estônia, aos veteranos da "Segunda Guerra de Libertação", como denominam a sua participação ao lado dos nazis na guerra.
Depois de 1945, muitos desses nazis continuaram a combater o Exército Vermelho em guerrilhas com o apoio da CIA e dos serviços secretos britânicos, até ao seu desaparecimento nos anos cinquenta.
Livros de Mart Laar (que foi Primeiro-ministro da Estônia e é o atual ministro da Defesa) como a Legião estoniana e O soldado estoniano na Segunda Guerra Mundial, defendem a preservação da memória e defendem a atuação desses homens nas fileiras nazis, são vendidos habitualmente nesses atos de propaganda fascista, abertamente protegidos pelo governo estoniano.
À volta dessas aberrações nazis proliferam outras iniciativas. Grupos musicais como Untsakad editaram gravaram discos com canções nazis estonianas, e em 2008, todas as livrarias do país ofereceram um calendário com doze cartazes propagandísticos da 20ª Divisão Waffen-SS.
Apesar dos protestos dos cidadãos de esquerda e de outros grupos democráticos antifascistas, o governo continuou a tolerar e a proteger as atividades nazis, que se alargaram aos países vizinhos.
Em Helsínque, aproveitando um certame anual de exposição de produtos estonianos, costumam vender-se camisetas que aliam a legião estoniana das SS e panfletos de guerra com apelos ao ataque à Rússia e à destruição de Moscou.
O Comitê Antifascista da Estônia, que tenta travar o avanço das ideias nazis, denuncia a justificativa que se faz no país "dos crimes contra a humanidade" cometidos pelos membros estonianos das Waffen-SS.
A complacência governamental com as atividades nazis contrasta com o empenho na perseguição aos comunistas: em maio de 2008, empresários e políticos (entre eles o ex-Primeiro-ministro Mart Laar, o conde Damian von Stauffenberg, e o empresário Meelis Niinepuu) apresentaram uma fundamentação para "investigar os crimes do comunismo", dirigida por Ranno Roosi, um antigo assessor de Lennart Meri (um conservador que chegou à presidência do país como candidato de Isamaaliit – Pátria –, e que faleceu em 2006).
Para tentar evitar as críticas internacionais, os responsáveis do governo estoniano fazem declarações formais de condenação do comunismo e do nazismo… ainda que a sua aplicação prática se limita apenas à perseguição das ideias comunistas e de tudo o que tenha relação com a União Soviética, de que são exemplos a demolição e mudança de local de monumentos ao Exército Vermelho; a decisão em 2007, de fazer uma nova provocação ao desmantelar o monumento aos soldados soviéticos que estava situado no centro da cidade e mudá-lo para um cemitério militar (embora não consigam evitar que as pessoas continuem a ir lá depositar flores), e o processo contra Arnold Meri, um velho estoniano que foi condecorado com a distinção de Herói da União Soviética pelas suas atividades como guerrilheiro contra os nazis durante a Segunda Guerra Mundial. A libertação da Estônia dos nazis custou ao Exército Vermelho a vida de cento e cinquenta mil soldados.
Os governos conservadores que têm dirigido a Estônia esforçaram-se por denunciar o suposto "genocídio estoniano" que teria sido protagonizado pela URSS entre 1940 e 1953, acusando Moscou da morte de sessenta mil estonianos naquele período.
No entanto, os números foram desmentidos quando o historiador Alexandr Diúkov publicou em 2009 a sua investigação (O mito do genocídio. Repressão soviética na Estônia, 1940-1953) que limitava o número de mortos a menos de dez mil, e afirmava que tinha havido genocídio… mas contra a população soviética que viu perecerem às mãos dos nazis dois milhões e meio de prisioneiros entre a população soviética em 1941.
Também se celebra anualmente a Marcha de Erna, evocação do batalhão especial das Waffen-SS com aquele nome, que consiste em repetir o percurso de Tallinn até uma antiga base militar nazi a 150 quilômetros de distância. Com o pretexto de realizar provas desportivas, na realidade, a marcha que se realiza há 18 anos é uma exaltação do nazismo e da atuação dos legionários estonianos durante a Segunda Guerra Mundial.
O apoio governamental chegou ao extremo de, em 2010, a 17ª marcha ter sido aberta pelo anterior ministro da Defesa, Jack Aaviksoo. A última provocação veio do atual ministro da Defesa, o historiador nacionalista e ex-primeiro-ministro, Mart Laar, que lançou a iniciativa de reconhecer os estonianos das Waffen-SS como "lutadores pela liberdade", ainda que, face à reacção internacional, o governo se tenha visto obrigado a maquilar as suas intenções publicando um comunicado, em janeiro de 2012, onde declarava a sua intenção de "reconhecer os que lutaram pela independência da Estônia", categoria em que entrariam os veteranos nazis do país e, para consumo externo, equiparando as atividades da Alemanha nazi e as da União Soviética.
O apoio aberto do governo estoniano a essas atividades chega ao extremo de as anunciar nas páginas web dos organismos oficiais, com a deliberada intenção de converter em heróis os criminosos de ontem.
Colaborando na exaltação do nazismo, o governo põe todo o tipo de dificuldades para que não se haja manifestações antifascistas, tendo mesmo chegado ao ponto de declarar "um perigo para o Estado" o Comitê antinazista da Estônia. Os membros da organização antifascista Nochoy Dozor, entre outros, manifestam-se contra as realizações nazis, e continuam a depositar flores em homenagem aos soldados do Exército Vermelho e às vítimas estonianas que morreram nos campos de extermínio nazis, mas muitos outros estonianos de ideologia nacionalista deliciam-se com os desfiles dos veteranos nazis.
Não foi em vão que figuras históricas do nacionalismo estoniano, como Juri Uluots, Primeiro-ministro em 1940, encabeçaram o apelo à luta contra o Exército Vermelho junto das tropas nazis alemãs.
Na Letônia celebra-se oficialmente todos os dias 16 de março uma homenagem à legião estoniana das Waffen-SS, iniciativa que começou em 1994, pouco depois do desaparecimento da URSS.
A legião letã, que chegou a integrar mais de cem mil homens, participou no ataque nazi a Leningrado, onde morreram mais de um milhão de cidadãos soviéticos, apesar de as autoridades letãs não terem levantado qualquer impedimento para que uma película, The Soviet Story, com grosseiras manipulações históricas, circulasse profusamente.
A ex-presidente do país e filha de um antigo colaboracionista nazi, Vaira Vike-Fraiberga, decidiu em 2001 para evitar as críticas internacionais, que a celebração continuasse a realizar-se mas de forma extra-oficial.
Em Lestene existe um monumento de homenagem aos nazis letões, inaugurado por ministros do governo, e organizações como a Daugavas Vanagi apoiam abertamente os desfiles nazis. Daugavas Vanagi (Falcões de Daugava), é uma organização criada na Bélgica em 1945 para ajudar os prisioneiros letões nazis, e que conta com centros nos Estados Unidos, Canadá, Austrália e outros países onde continuam a manter grupos de jovens com fardas paramilitares.
O desfile anual dos legionários das Waffen-SS foi proibido pelo município de Riga, mas os tribunais derrogaram a decisão, recebendo o apoio de Valdis Zatlers, presidente do país até Julho de 2011, que defendeu publicamente as homenagens aos veteranos nazis.
Os letões que colaboraram com a Alemanha nazi nos campos de extermínio foram particularmente sanguinários. Os confrontos entre os participantes nas marchas nazis e os antifascistas (que em algumas ocasiões assistiram vestidos como os prisioneiros dos campos de concentração) têm sido frequentes, e a polícia da Letônia não hesitou em deter militantes antifascistas como o deputado Victor Dergunov.
A cumplicidade com os nazis chegou ao extremo de o anterior presidente letão, Valdis Zatlers, ter declarado, em Março de 2008, que a opinião pública internacional se equivocava ao qualificar como nazis os letões membros das Waffen-SS.
Essa complacência contrasta com a obsessão anticomunista. Deve recordar-se que, na Letônia, o Partido Comunista está proibido e que os comunistas atuam sob o nome de socialistas. O principal dirigente comunista, Alfreds Rubiks, foi preso em diversas ocasiões pelos governos reacionários, cumprindo já um total de seis anos de cárcere.
A obsessão anticomunista e anti-russa levou o Parlamento letão, o Seim, em Fevereiro de 2004, a anular o direito dos cidadãos letões poderem educar os seus filhos em língua russa, aprovando uma lei discriminatória e incentivando uma verdadeira segregação para os cidadãos falantes de russo na Letônia.
É incrível que tudo isto suceda dentro das fronteiras da União Europeia, mas o nacionalismo letão nega a cidadania a quase vinte por cento da população, que por isso não têm direitos, convertendo-se em apátridas, ainda que nascidos na Letônia: nem sequer podem votar nas eleições.
A entrada na Otan e na União Europeia incentivou as tentações segregacionistas do governo conservador, que antecipou que nem a aliança militar ocidental nem Bruxelas poriam objeções, como de fato aconteceu.
Também o governo letão iniciou a revisão da história da Segunda Guerra Mundial. Assim, Vasil Kónonov, um veterano guerrilheiro comunista de quase noventa anos, foi acusado de ter assassinado civis colaboracionistas com os nazis durante a guerra.
Kónonov, cuja família morreu nos campos de concentração, é um letão que lutou contra as tropas nazis na Letônia, destruindo com explosivos objetivos militares e fazendo explodir trens que transportavam armas.
Foi seis vezes julgado na Letônia e cumpriu dois anos de cadeia. Estava acusado de executar camponeses que denunciavam os guerrilheiros soviéticos às autoridades de nazis de ocupação. A sentença foi declarada nula pelo Tribunal Europeu dos Direitos Humanos, mas em 2010, um recurso do governo conseguiu reverter a sentença.
Um dos representantes do Comitê Antifascista da Letônia, Eduard Goncharov, declarou que o plano do governo conservador letão era iniciar um processo para impugnar os julgamentos de Nurembergue, uma consequência do revanchismo: os que fugiram com os nazis quando se retiraram da Letônia, são os que estão agora no poder na república.
Por isso, não deve estranhar-se que no país seja proibido fazer propaganda das ideias comunistas, e apesar de também ser proibida a difusão das ideias nazis, a tolerância para com estas é evidente.
Na Lituânia, onde os nazis assassinaram mais de duzentos mil judeus, os governos conservadores tentaram apagar da história as matanças da responsabilidade do nacionalismo e dos voluntários nazis nelas. Não é em vão, essas matanças foram realizadas por lituanos às ordens dos nazis, por isso o nacionalismo atualmente no governo pretende ocultá-lo.
Não é uma casualidade que a ministra da Defesa, Rasa Jukneviciene, durante a sua visita aos Estados Unidos, pusesse uma coroa de flores na campa do general Povilas Plechavicius. Plechavicius chegou à Lituânia com as tropas nazis durante a operação Barba Ruiva, e lutou com eles contra os guerrilheiros polacos antifascistas, como tantos milhares de lituanos nacionalistas.
O presidente do país entre 2004 e 2009, Valdas Adamkus, lutou junto das tropas nazis durante a Segunda Guerra Mundial contra o exército soviético e, quando a guerra estava a acabar, instalou-se na Alemanha com a sua família, o que não é propriamente um caso isolado entre os políticos nacionalistas.
O parlamento (Seimas), em junho de 2008, também proibiu os símbolos soviéticos e nazis, utilizando o mesmo argumento torpe de equiparação entre a ideologia fascista e o comunismo que Vaclav Havel introduziu na Declaração de Praga.
No entanto, em maio de 2010, num gesto revelador, os tribunais lituanos sentenciaram que a cruz suástica nazista fazia parte do "patrimônio cultural do país", pelo que podia utilizar-se, ao contrário da foice e do martelo e de outros símbolos comunistas.
Essa compreensão para com o nazismo e a perseguição dos comunistas vem de longe, e conseguiu abrir caminho dentro das instituições europeias devido à passividade da União, como denunciou Efraim Zuroff, o director do Centro Simon Wiesenthal de Jerusalém. Uns meses antes, o Tribunal Europeu de direitos humanos divulgou uma sentença em que absolve as autoridades lituanas de uma acusação apresentada (sete anos antes!) pelo sequestro e prisão de dirigentes comunistas, como o doutor Mikolas Burokiavicius, que foi secretário do Partido Comunista Lituano, que passou 11 anos na prisão, desde a sua condenação em 1994, por ter participado nas atividades do Partido Comunista da União Soviética.
Desde 1991, milhares de militantes comunistas lituanos foram perseguidos politicamente. Com aquela sentença, um verdadeiro ultraje à Justiça, o tribunal colaborava de fato com a passividade mostrada pelas instituições europeias, tanto da União como do Conselho da Europa, numa limitação dos direitos cívicos na Lituânia.
No entanto, enquanto as autoridades permitiam manifestações com lemas racistas ("Lituânia para os lituanos", obviamente dirigida contra os "diferentes") e com símbolos neonazis, a repressão contra os comunistas e a esquerda amedrontava. Em abril de 2011, foi instaurado um processo contra o presidente da Frente Popular Socialista, Algirdas Paleckis por "negar a agressão soviética contra a Lituânia".
A essência do processo era que Paleckis impugnava a versão oficial dos acontecimentos em frente da torre de televisão de Vilnius, em 13 de janeiro de 1991, onde supostamente morreram catorze pessoas assassinadas pelas tropas soviéticas, nos meses de agonia do governo Gorbatchov.
Paleckis mantém, com sólidas provas e testemunhos, que a matança foi uma provocação organizada pelos nacionalistas lituanos, cujas forças armadas (DTP, Departamento de Proteção do Território) dispararam contra a multidão com a intenção de posteriormente responsabilizarem o governo e o Exército soviético. E conseguiram os seus propósitos.
Ainda que Paleckis fosse absolvido em 2012, o procurador recorreu, reiniciando-se assim o processo. Na Lituânia, inclusive, a degradação política do país levou à destituição, em abril de 2004, do presidente, Roland Paksas, por ligações à máfia e a falta de sensibilidade democrática das autoridades do país fica evidenciada com o fato de em 2009 terem aparecido evidências (citadas pela cadeia de televisão estadunidense ABC, que fazia eco das declarações de um antigo agente dos serviços secretos norte-americanos) de que, em 2002, o governo tinha permitido criar uma prisão secreta da norte-americana CIA nos arredores de Vilnius, onde se torturava os presos.
A atual presidente, Dalia Grybauskaitè, "não excluiu a possibilidade" da existência de uma prisão secreta.
No Báltico, o nacionalismo pretende contestar o resultado da Segunda Guerra Mundial e inclusive, se tal fosse possível, reverter o processo de Nurembergue. O racismo, o culto das armas e o militarismo, o desprezo pelas minorias, a xenofobia e o ódio aos judeus e ciganos estão cada vez mais nesta e noutras regiões da Europa Oriental.
A tolerância para com os atos de exaltação do nazismo e do fascismo, o racismo nacionalista e o desprezo para com as minorias convive com a repressão aos comunistas e com a preocupante deriva antidemocrática que deveria preocupar os cidadãos e as instituições europeias porque, além do mais, os sinais de alarme não vêm apenas dos estados bálticos, ainda que estes sejam hoje o foco mais preocupante.
Idênticas tentações apareceram na Roménia e Hungria onde impera uma severa perseguição contra os comunistas, tal como na República Tcheca (onde a direita pretende ilegalizar o Partido Comunista, um dos mais importantes do país), e na Polônia.
Como consequência da política nacionalista e conservadora crescem os movimentos fascistas. Ao mesmo tempo que no Báltico continua a caça às bruxas contra os comunistas, até hoje não se levantou nenhum processo contra os criminosos nazis originários da Estônia, da Letônia e da Lituânia, e a perseguição aos judeus, as minorias e a esquerda continua a ser a norma de conduta dos governos destes países.
O veneno da serpente fascista continua a empeçonhar o continente: ninguém pode imaginar sem comoção a ideia de os soldados nazis desfilarem outra vez na Alemanha, e por isso deveria causar inquietação que as insígnias nazis continuem desfraldadas ao vento dos países bálticos.
*Higinio Polo, escritor espanhol com vários livros publicados, escreve habitualmente em El Viejo Topo sobre temas políticos e culturais.
Fonte: O Diario.Info. Tradução de José Paulo Gascão do original no Rebelión