Publicado 16/07/2012 09:20 | Editado 04/03/2020 16:29
Os usuários do Sistema Único de Saúde (SUS) têm acompanhado pela imprensa ou mesmo nos próprios hospitais de emergência de Fortaleza do setor da medicina privada e, principalmente, da pública. Os médicos não mais suportam conviver com tanta pressão vinda dos gestores e usuários.
A longa jornada de trabalho e a alta demanda para um pequeno número de profissionais o têm levado a adoecer mais cedo. Hospitais com estrutura física obsoleta, material médico-cirúrgico sucateado, baixos salários, falta de leitos, de macas e até de cadeira para acomodar os pacientes têm transformado nossas emergências em verdadeiros campos de guerra, sendo o médico o centro de todo bombardeio.
Pesquisa feita no setor de emergência de um hospital público paulista indicou que de cada dois médicos, um tem sintomas de depressão, causada principalmente pelo estresse diário. Na população geral, 15% a 20% têm sintomas de depressão, enquanto que entre os médicos chega perto de 50%. Outra pesquisa da Universidade Federal de São Paulo indica que aproximadamente 17% dos médicos são dependentes de alguma droga, medicamentos ou não, sendo essa dependência química resultante do próprio ritmo acelerado de trabalho.
O médico tem adoecido mais e doenças como infarto do miocárdio e acidente vascular cerebral (AVC) têm ocorrido mais frequentemente entre nós, além de um número maior de óbitos nas estradas, resultantes do corre-corre de plantões em cidades diferentes.
O difícil exercício da Medicina no setor de emergência hospitalar tem afastado os médicos desse serviço, preferindo os mesmos setores menos estressantes, fazendo opção pela qualidade de vida e pelo convívio familiar mais saudável. O crescimento da violência urbana tem contribuído em muito para tornar o setor de emergência o mais estressante. Agressões físicas e verbais, frequentes nesses locais, contra os profissionais também afastam os médicos.
O SUS merece todas as defesas dos profissionais médicos, mas querem colocar em nossas "costas" a responsabilidade pela difícil situação em que se encontra a saúde pública, o que é injusto e não leva à solução dos problemas. O orçamento do SUS para 2012 foi de R$ 77 bilhões, muito pouco, e com o corte recente de R$ 5,4 bilhões pelo Governo Federal desse orçamento, tornou-se inviável o bom atendimento tão exigido pela população. Gostaríamos que os médicos fossem mais respeitados e que se os gestores e políticos realmente quiserem discutir conosco soluções para nossa saúde pública estaremos disponíveis para dar a nossa contribuição.
*José Maria Pontes é Presidente do Sindicato dos Médicos do Ceará
Fonte: O Povo