Movimentos Sociais promovem novo “Esculacho” contra ditadores

 Neste domingo (29) cerca de 200 pessoas marcharam de Copacabana ao forte do Leme para protestar em frente à estátua do ditador Castello Branco.

Ato

 
*Por Bruno Ferrari

O forte calor do Rio de Janeiro não tirou a garra e a vontade dos diversos manifestantes que se concentraram às 10h na Praça Cardeal Arco Verde em Copacabana para protestar em defesa da Memória e pela Justiça do nosso povo. Faixas e cartazes eram confeccionados com palavras de ordem clamando pela Verdade, pela punição dos torturadores e pelo resgate da nossa história. Por volta das 11h30, a manifestação rumou em direção ao forte de Leme, onde há a estátua do General Castello Branco, primeiro dos cinco presidentes ditadores do período militar.

O Ato, denominado Esculacho, já vem acontecendo há algum tempo e tem ganhado bastante força, incorporando mais pessoas e entidades ao movimento e conquistando o apoio, cada vez maior, da sociedade civil. No dia 29 de março deste ano, quando militares se reuniram no Clube Militar para comemorar o aniversário do sangrento golpe de 1964, centenas de pessoas cercaram o local e protestaram incisivamente contra o acinte à democracia e à soberania do povo brasileiro que estava sendo cometido no centro do Rio. Alguns meses depois, o movimento continuou e um novo ato foi realizado em frente à antiga sede do DOPS (Departamento de Ordem Política e Social), organismo repressor da ditadura, que reuniu, mais uma vez, centenas de manifestantes.

Esse Movimento é organizado pela unidade de diversos partidos políticos, entidades e pessoas; unificados através da Articulação Estadual Pela Memória Verdade e Justiça. A idéia do Movimento é não parar, uma série de outros ícones e locais que marcaram de sangue a história do povo brasileiro ainda serão alvo dos protestos. Como dizia a frase escrita no panfleto da manifestação: “Não se pode virar uma página que ainda não foi lida”.

Djalma Oliveira, irmão de Dinalva Oliveira Teixeira (Dina), militante do PCdoB morta na Guerrilha do Araguaia, é um dos lideres deste movimento e salientou que: “Esse movimento está crescendo aqui no Rio, já é o quarto Esculacho e objetivo central é que a gente colabore com a Comissão da Verdade mostrando, apontando onde estão os torturadores para que se produza um relatório que encontre os repressores e os órgãos da Repressão, ou seja, quem matou, quem torturou. Os generais que nos criticam estão preocupados que Comissão da Verdade exponha a publicou a cara dos assassinos da ditadura. É fundamental que atos como esse de hoje continuem, ainda existem muitos lugares que foram palco dos crimes da ditadura e precisam de um Esculacho, como a Usina de Cambaíba em Campos, onde foram queimados centenas de brasileiros assassinados na Casa da Morte em Petrópolis; a antiga sede do DOI-CODE na rua Barão de Mesquita. A opinião pública precisa tomar conhecimento do que foi feito e de quem fez essas barbaridades com o povo brasileiro”.

João Carlos de Carvalho, Secretário Estadual de Movimentos Sociais do PCdoB-RJ, também integra o Movimento e afirmou: “Nós já tivemos alguns atos como esse no Rio, um deles com mais de 3000 pessoas durante a Rio+20. A tendência é que este Movimento cresça ainda mais e ganhe a sociedade. Só com a pressão da sociedade civil que o Movimento pode cumprir seu objetivo, afinal, a pressão do outro lado é muito grande, exemplo da invasão da sede do Grupo Tortura Nunca Mais aqui no Rio e das ameaças sofridas por membros do Movimento. Isso mostra que essas forças obscuras que oprimiram o nosso povo ainda não estão mortas. Portanto, os Movimentos Sociais precisam se organizar, se mobilizar e se unificar para fortalecer a luta pela Memória, Verdade e Justiça”.

A Comissão da Verdade foi um grande passo rumo ao resgate da memória do nosso país, entretanto, é preciso que a sociedade civil também participe mais ativamente desse debate, cobrando e pressionando. É fundamental que o povo do Brasil recupere e reconstrua a história. O resgate da Verdade e da Memória de uma nação é imprescindível para que os erros históricos sejam apreendidos, para que nunca mais vejamos nossa pátria e nossa gente manchada de sangue pelas mãos de testas de ferro de oligarquias, barões da mídia e de um sistema que exclui e oprime os homens e mulheres, oprime o povo trabalhador.

Estavam presentes: Coletivo RJ Pela Memória Verdade e Justiça, Comitê Pela Memória Verdade e Justiça de Niterói, Consulta Popular, Levante Popular da Juventude, Grupo Tortura Nunca Mais, MST, Juventude do PT, PCdoB, PCB, UNE, SEPE, UEE-RJ, UJS, UEES.