Festival de cinema de Locarno: O retorno do pai

Parte da crítica considera "Os Melhores Temas" um filme digno de Buñuel, enquanto outros não entendiam a existência de dois pais e uma mãe para os mesmos filhos.

Por Rui Martins

Nicolas Prreda

Nicolas Pereda, cineasta mexicano da nova geração, contou em três curtas-metragens as relações entre mãe e filhos de um família pobre mexicana, no restrito cenário de uma sala que à noite se transforma em dormitório, e uma cozinha pequena e mal iluminada.

Seu filme longa-metragem em Locarno conclui essa trilogia doméstica com uma inovação familiar, O retorno do pai, e uma inovação de forma, o ator que vive o personagem do pai cede seu lugar, no meio do filme, ao próprio pai de retorno, transformando o filme numa espécie de documentário sem roteiro escrito. Parte da crítica considera Os Melhores Temas um filme digno de Buñuel, pela inovação e experimentação, enquanto outros não entendiam a existência de dois pais e uma mãe para os mesmos filhos.

No contato com a imprensa, Nicolas Parede, com seu look de Cristo-Guevara, explicou ter escolhido o regresso do pai, depois de 15 anos de ausência, por ser essa a realidade de muitas famílias monoparentais abandonadas pelo pai para ficar com outra mulher ou pelo pai em busca de aventuras.
Mas a ausência prolongada do pai nem sempre favorece seu retorno. No caso do filme, sua presença se torna incômoda por quebrar a estrutura familiar criada na sua ausência e tanto a mãe como o filho mais velho conspiram quanto à maneira de pedir-lhe para deixar a casa.

Porém, talvez com bom desconfiômetro é o próprio pai quem decide de surpresa partir, restabelecendo o mesmo clima de seu antigo abandono do lar. Seu filho mais velho parte à sua procura e decide viver com ele ao descobrir no aventureiro também o fato de ser um artista e um frustrado arquiteto.

O nome do filme vem dos títulos das canções românticas que o filho e o pai procuram memorizar para vender os Cds nos quais estão incluídas.

Fonte: Direto da Redação