Livro traz reflexão sobre raízes do rock
Você pode nunca ter ouvido falar em Louis Jordan, Gene Vincent, Eddie Cochran, Hank William, Fats Domino, mas provavelmente sabe quem é Chuck Berry (com seu ‘duck walk”), Bill Haley, B.B. King, Muddy Waters, Buddy Holly, Jerry Lee Lewis, Little Richard, Richie Havens, Johnny Cash e Roy Orbinson, entre outros. Todos eles são personagens do ótimo livro “As Raízes do Rock”, do jornalista francês Florent Mazzoleni, que acaba de ser traduzido para o Brasil e lançado pela Companhia Editora Nacional.
Publicado 03/08/2012 17:27
Ricamente ilustrada, o que dá um charme todo especial, a obra se detém tanto sobre as origens musicais do rock, como contextualiza o cenário social e político em que ele foi se desenvolvendo. A conclusão, após a leitura, que esse fenômeno cultural, que revolucionou o século XX, não surgiu do nada, mas foi fruto de um longo processo.
Florent Mazzoleni considera um marco importante nessa história o momento em que Elvis Presley apresentou o hoje clássico “Hound Dog”, no programa de maior audiência e prestígio da televisão norte-americana branca, “The Ed Sullivan Show”, em 9 de setembro de 1956. Resultado: 82,6% da audiência da TV naquele horário.
Na terceira e última aparição do “rei do rock” no programa, Ed Sullivan declarava: “Eu tenho que dizer a Elvis Presley e ao país que ele é um rapaz de boa índole. Desde que esse programa começou, nós nunca tivemos uma experiência tão agradável com um convidado”.
Para identificar as origens do rock, o livro retorna à década de 1930 indo em busca das tradições musicais rurais do sul dos Estados Unidos, encontrando o boogie-woogie, um ritmo extremamente dançante. Quase ao mesmo tempo, nas big bands de jazz, também aparece o “be-bop”, outro precursor importante. Mas há raízes do rock também no blues presente no delta do rio Mississipi, com astros como Charley Patton; na música gospel, nascida nas igrejas negras, revelando nomes como o da cantora Lucy Campbell; e no country, de Jimmie Rodgers e Delmore Brothers.
Claro que a guitarra elétrica não poderia ficar de fora dessa história e está muito bem documentada a origem do instrumento, desde a primeira criada por Adolph Rickenbacker, em 1937, com base em modelos de guitarra havaiana. Rapidamente, o instrumento foi popularizado pelos dedos de Charlie Christian.
Há um rápido passeio pelos selos independentes, caso da Capital Records e da Black & White Records, que ajudaram a consagrar o rhythm’n’blues, precursor mais direto do rock e praticado por lendas como Roy Brown. Até chegar a Nova Orleans, considerada o berço do novo ritmo chacoalhante, com artistas como Dave Bartholomew. Não faltam também personagens curiosos, caso de Eddie “Guitar Slim” Jones, que brilhou em Nova Orleans, na década de 1950.
É nessa década, aliás, que surge a base social e política para a consagração do rock and roll. Aparece a classe média, desenvolvendo-se a ideia do “sonho americano”; a televisão surge como novo veículo de comunicação popular e capaz de reunir as mais diferentes faixas etárias e classes sociais diante dela; e desenvolve-se o fenômeno dos adolescentes, como nova faixa de consumidores com poder econômico e capaz de influenciar as escolhas e tendências dos adultos.
Foi essa juventude, por exemplo, que popularizou as jukeboxes e fez com que a indústria fonográfica desenvolvesse os discos e seus aparelhos de reprodução. Ao mesmo tempo, fica exposta a divisão racial entre brancos e negros nos Estados Unidos, sendo o rock responsável por romper definitivamente essas barreiras, mas claro que a base de muitas críticas e preconceitos.
Outro marco importante foi a gravação de “Rocket 88”, escrita por Ike Turner, tocada pelos Kings of Rhythm e cantada pelo saxofonista Jackie Brenston. Lançado pela gravadora de Sam Philips, esse é considerado o primeiro rock da história. O livro também traz a história de músicas como “Maybellene”, “Rock Around The Clock” (responsável por inserir o rock no cinema), “See You Later Alligator”, “That’s All Right Mama”, “Tutti Frutti” e “Great Balls of Fire”.
Boa parte delas foi tocada pelo marcante DJ Alan Freed, que é desmoralizado em função de cobrar dos artistas para executar suas músicas (o popular jabá), mas teve papel importantíssimo na história do rock, aqui devidamente reconhecido. Até chegar à “morte do rock’n’roll”, quando Elvis Presley é obrigado a se alistar no exército e a morte e os escândalos se aproximam de outros astros do gênero.
Fonte: Rede Brasil Atual