Arnaldo Carrilho: Irritações brasileiras

Quem me conhece como internauta há mais de quatro anos talvez se recorde da minha irritação com os três enviados da TV Globo a Pequim: a carreirista ex-correspondente na capital chinesa (Sonia Bridi), o bobalhão Marcos Uchoa (filho do ilustre Pedro Celso Uchoa Cavalcanti) e, sem comentários, Pedro Bial. Por causa deles, eu só assistia àqueles 29º Jogos Olímpicos através da Band, que contava com jornalistas mais modestos e despretensiosos (Por quê? Salários menos elevados?).

Por Arnaldo Carrilho

Os patrões do trio deram-lhe instruções para falar mal da China, de qualquer aspecto chinês que não atingisse os níveis de gosto ou de conforto ocidentais. Brasileiro, sobretudo branco, se julga ocidental e despreza sua inata sul-americanidade mestiça. Os telespectadores da nossa maior emissora, induzidos a amar suas imagens e modos de ser e ver o Brasil e o mundo em geral, ficaram, então, com péssima impressão do País do Meio ("Tchungkuó").

Agora, em Londres, a coisa não dá, os 30º Jogos acontecem na respeitável Sede do Império de Sol a Sol – hoje em mãos dos filhos diletos d'além-mar, os EUA, o Canadá, a Nova Zelândia à frente -, de modo que apontar seus defeitos aos nossos teleouvintes seria uma verdadeira traição. Apesar de a Globo ter sido alijada (em termos) dos certames londrinos (ela tem canais esportivos por assinatura e é associada a Rupert Murdoch), é impressionante como seus repórteres se animam, quando esportistas estadunidenses estão em jogos ou disputas.

Tratam a(o)s atletas da Hiperpotência pelos nomes, como se fossem conhecida(o)s do público brasileiro e pronunciam geônimos de lá com ridículas imitações dos falares gringos. Ontem, ouvi designarem um cara de Nova Jersey ("jérssei", como dizemos), como de New Jersey ("niu djérzei). Atletas e jogadora(e)s de outros países, se não forem brasileiros, são, "a chinesa", "o francês", "a russa", "o japonês" e assim por diante. Tentem, por favor, aquilatar essa enorme alienação, que talha as mentes de um povo superianqueizado, embora não fale inglês nem participa do progresso anglo-saxão.

Arnaldo Carrilho é diplomata de carreira, ex-embaixador do Brasil na RPD da Coreia