IBGE: índios estão mais protegidos em terras reconhecidas

As etnias indígenas mais numerosas e a maior parte dos índios que ainda falam língua própria estão concentradas em terras indígenas reconhecidas pelo governo. A revelação é do Censo 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Nestas áreas vivem, ao todo, 571 mil índios de 250 etnias; no total o Brasil tem 896 mil índios. Enquanto isso, no Mato Grosso do Sul fazendeiros atacam índios da etnia Kaiowá para tentar ficar com suas terras.

Terra indígena

A pesquisa do IBGE partiu de uma lista de mais de 500 nomes de etnias, catalogados por especialistas e pela Fundação Nacional do Índio (Funai). Ao fazer as entrevistas, o IBGE descobriu povos que se supunham desaparecidos como os tamoio, tradicionais do Sudeste, e confirmou a prevalência de outros, como os Charrua, do Sul, possivelmente oriundos da Argentina.

Outro dado que reflete mais proteção aos índios nas terras indígenas é o aumento do número de indivíduos. Em terras iindígenas há grupos entre 251 e 500 índios , com média de idade de 17,4 anos. Fora delas, prevalecia a concentração de etnias com até 50 pessoas e estava a maioria dos 16,4% dos índios que não sabiam sua etnia, com até 29,2 anos.

O IBGE destaca que, das 15 etnias com maior número de indígenas, a Tikúna, do Amazonas, de 46 mil indivíduos, "teve o resultado influenciado pelos 85,5% residentes nas terras indígenas”.

“Os dados apontam que, nessas áreas, eles têm mais condições de manter suas tradições culturais, costumes e sua própria condição de existência”, afirmou a responsável pela pesquisa, Nilza Pereira. “Existe uma maior preservação da organização social, com certeza.”

Apenas seis terras das 505 consideradas nas pesquisas tinham mais de 10 mil índios e 107 tinham entre mais de mil e 10 mil, e, em 291, havia entre 100 e mil índios.

O Censo 2010 revelou que 274 línguas indígenas são faladas nos país por 37,4% índios com mais de 5 anos de idade, sendo que 6 mil deles falam mais de duas. A fluência em pelo menos uma língua foi verificada em 57,3% dos índios dentro das terras indígenas. Já fora, caiu para 12,7% desses índios. O português não era hábito de 16,3% do total, cerca de 30 mil pessoas.

As regiões com maior percentual de línguas indígenas são a Norte – que tem o maior número de terras indígenas reconhecidas – e a Centro-Oeste. Já a Região Nordeste, com menor número de terras indígenas, apresentou a menor proporção de índios bilíngues.

Os dados da pesquisa revelam que há desafios a serem superados, como na área de educação. Dentro das terras indígenas, a taxa de alfabetização é 67,7% enquanto para os índios que deixaram as aldeias, o percentual é 85,5%. Entre a população não índia, 90,4% das pessoas são alfabetizadas. Ainda assim, o indicador melhorou nos últimos dez anos, acompanhando as taxas verificadas no total da população brasileira.

Ataques aos kaiowá no Mato Grosso do Sul

A disputa pela posse da terra entre índios da etnia Guarani Kaiowá e fazendeiros de Mato Grosso do Sul resultou em mais um episódio de violência na manhã sexta-feira (10). Segundo o Conselho Indigenista Missionário (Cimi), cerca de 400 indígenas ocuparam duas fazendas na área do conflito judicial no município de Paranhos, próximo à fronteira com o Paraguai.

Os índios foram reprimidos por seguranças dos fazendeiros. No conflito, de acordo com o Cimi, os indígenas se esconderam no mato, mas um deles, Eduardo Pires, foi alcançado pelos seguranças, retirado do local e está desaparecido.

De acordo com o coordenador regional do Cimi em Mato Grosso do Sul, Flávio Machado, houve tiros no momento do conflito com os seguranças dos fazendeiros, no entanto, não há notícias de feridos ou mortos.

O ataque ocorreu durante a manhã. À tarde, três carros com homens da Força Nacional foram até o local, fizeram buscas, no entanto, não encontraram o indígena desaparecido. Com a chegada da polícia, muitos indígenas que haviam se dispersado retornaram e se concentraram dentro de uma das propriedade, a Fazenda Eliane, onde pretendem passar a noite.

As lideranças do Cimi querem que o governo federal garanta policiamento constante na área para evitar novos confrontos. "Pela manhã, os indígenas entraram nas fazendas Eliane e Campina. Atualmente, eles estão na Fazenda Eliane e nosso medo é que aconteça um novo conflito, já que os seguranças são muitos e contratados pelo conjunto de fazendeiros da área”, disse Machado.

A terra foi homologada em 2009 pelo governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mas os fazendeiros questionaram na Justiça aquela medida e a decisão final sobre o processo está nas mãos do Supremo Tribunal Federal (STF).

No ano passado, uma decisão do ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), suspendeu parcialmente os efeitos da homologação ao deferir um mandado de segurança impetrado pelo dono da Fazenda Iporã, uma das 15 fazendas que estão na área homologada de 7.175 hectares.

Com informações da Agência Brasil