Metalúrgicos de Camaçari completam 44 dias de greve

A mais longa greve do setor industrial completa 44 dias nesta segunda-feira (13). Trabalhadores da Bridgestone, em Camaçari (BA), cruzaram os braços desde 1.º de julho, protagonizando a maior paralisação desde 1979, durante 41 dias, realizada pelos metalúrgicos do ABC paulista, também por reajuste salarial, liderada pelo então metalúrgico Luiz Inácio Lula da Silva. A categoria reivindica 2% de aumento real e PPR de R$ 9,2 mil, acerto feito com outras empresas pneumáticas da região.

A paralisação dos borracheiros da Bahia começou por reajuste salarial e melhores condições de trabalho, mas o impasse atual se estende para o desconto dos dias parados. A empresa suspendeu o pagamento dos salários e quer descontar o período não trabalhado.

A diretora de Recursos Humanos da Bridgestone, Simone Hosaka, diz que aguarda proposta do Sindicato dos Trabalhadores da Indústria da Borracha de Camaçari (Sindborracha) para o parcelamento do desconto ou formas de compensação dos dias parados. O presidente da entidade, Clodoaldo Gomes, alega que a fabricante não está disposta a negociar.

"A empresa fala que somos intransigentes, mas foi ela quem criou uma estrutura de guerra, colocando contingente de policiais na fábrica e seguranças a paisana", afirma o presidente do Sindborracha, ligado à Central Única dos Trabalhadores (CUT).

O grupo americano está há mais de sete décadas no Brasil, onde inaugurou sua primeira fábrica em Santo André (SP) nos anos 40. A filial baiana, aberta em 2007, emprega 600 trabalhadores. Nas unidades de Santo André e de Campinas (SP), com 3,5 mil funcionários, a empresa fechou acordo de reajuste de 5% (sendo apenas 0,14% de aumento real) e participação nos resultados (PPR) de R$ 8 mil.

Segundo Gomes, as empresas antes concentradas em São Paulo abriram filiais na Bahia com oferta de salários mais baixos e regras diferenciadas, como período de apenas meia hora para o almoço. O trabalhador local da Bridgestone, diz ele, recebe R$ 8,56 por hora, enquanto o de Santo André ganha R$ 17,23.

Ele afirma que apenas 10% dos funcionários estão entrando para trabalhar. Simone informa que 50% do contingente já voltou ao trabalho. De acordo com o dirigente sindical, a unidade tem prejuízo diário de R$ 500 mil com a queda da produção.

Para não prejudicar o fornecimento de pneus aos clientes, a empresa realocou parte da produção da unidade baiana para a de Santo André. "Estamos operando com metade da nossa capacidade, que é de 8 mil pneus por dia", informa ela. Segundo a diretora de RH, os salários de quem está ausente sofrerão cortes, tendo em vista que metade do pessoal está trabalhando.

Simone alega ainda que a produção de pneus como um todo está em queda, em parte por causa do grande volume de importações do produto, especialmente da Ásia.

Fonte: O Estado de S. Paulo