O samba do Estácio

Autor, em 1997, de Cidade de Deus, catapultado do livro para as telas, onde inaugurou a bem-sucedida vertente favela movie, o escritor carioca Paulo Lins transporta-se desta seara, sua conhecida e contemporânea, para o passado pesquisado, embora regido pela ficção.

Por Tárik de Souza

desde que o samba é samba

Desde Que o Samba É Samba, título emprestado à composição de Caetano Veloso do disco Tropicália 2, de 1993, visita a cena do nascimento do samba pós-maxixe nos bares e zona do meretrício do Estácio, a primeira escola do gênero, a Deixa Falar, e a disseminação da umbanda pelos terreiros de candomblé do Rio de Janeiro, entre 1928 e 1931.

Além de sites, Lins consultou 66 livros para tecer seu vigoroso retrato de época, situado no vértice da decolagem da era do rádio e do disco e, por consequência, da exploração dos compositores populares como mão de obra barata. Mas as virtudes documentais do livro engessam seus voos ficcionais, por vezes, atados a narrativas didáticas e diálogos artificiais.

Ainda assim, é uma bela façanha deslindar em prosa e versos (com citações de sambas reais) a saga, muitas vezes reprimida pela polícia, de compositores e malandros como Brancura, Baiaco, Ismael Silva, Bide (apontado como criador do tamborim e do surdo), João Mina (cuíca), Nilton Bastos, Rubem Barcelos e Benedito Lacerda.

Vários deles são citados apenas por uma parte do nome, como ainda os cantores (Carmen) Miranda e (Francisco) Alves, este um notório comprador de sambas, e intelectuais entusiastas deste caldo cultural como Manuel (Bandeira), Mário (de Andrade), (Augusto Frederico) Schmidt e (Carlos) Drummond. O polêmico diálogo do homossexualismo explícito assumido por Silva e Mário, numa era repressora de enrustidos e entendidos, é apenas um detalhe nos conflitos entre ficção e realidade do livro.


Serviço:
Desde que o samba é samba
Paulo Lins
Planeta, 336 págs., R$39,90