Filme sobre queda de Pinochet é mal recebido no Chile

O filme “No”, baseado no referendo que, em 1998, conduziu à saída do poder o ditador Augusto Pinochet , estreou no Chile sem a mesma repercussão que teve no festival de Cannes, onde ganhou o voto popular.

O quarto filme de Pablo Larrain inspira-se em uma obra de teatro do reconhecido ator chileno Antonio Skarmeta, intitulada “OPlebiscito” e tem como protagonista o mexicano Gale Garcia, um dos trunfos do filme.

Sem dúvida, os espectadores chilenos lamentaram que o roteiro não abordasse uma parte tenebrosa da história do país, os 17 anos de terror da ditadura Pinochet (1973-1990). O filme, a não ser por leves insinuações, deixa fora de sua narrativa esta verdade cruel que deveria estar presente, opina o jurista chileno Eduardo Contreras.

Não é possível, indigna-se Contreras, continuar encobrindo o fato de que o plebiscito foi um acordo entre a ditadura e um setor opositor ligado a Washington, que reunia as Forças Armadas e de segurança do Chile que haviam feito o trabalho sujo.

Contreras defende a ideia de que setores da esquerda e do mundo social acabaram dando vitória ao “Si”, que mantém até hoje a institucionalidade imposta por Pinochet e a consolidação de um modelo econômico explorador.

Também o jornalista investigativo Dino Pancani acredita que haja uma abordagem tendenciosa no0 filme que valoriza o aporte representado pelo trabalho dos publicitários na derrota de Pinochet.

Ao protagonista, comenta Dino, a temática social não comove, caso dos mortos, os assassinados, os famintos e a falta de liberdade, entre outras consequências da vida na ditadura. Mais importante que tudo é vender um produto, o “No”.

Sem excluir os méritos de uma narrativa dramática que conduz o espectador e um momento de esperança e luta, o filme do também diretor de “Post Mortem” traz o perigo de gerar confusão na análise dos fatos históricos, constituindo-se em um aliado da falta de memória, afirmam os críticos chilenos.

A historiadora e professora de cinema Antonella Estévez alerta sobre a leitura de que foi a publicidade que acabou com a ditadura e que o povo chielno foi seduzido pelos 15 minutos diários de campanha na TV para votar contra o ditador.

Esta visão, adverte, ignora a luta de todos aqueles que resistiram à ditadura desde distintas trincheiras, desconsiderando a inteligência e consciência do chileno médio e, sobretudo, é uma visão falsa.

Christiane Marcondes com informações traduzidas do Cubadebate