Festival do Rio, Comissão da Verdade e Documentário Eu me lembro

Tive o privilégio de uma vez mais ser convidada a participar da programação do Festival do Rio 2012, principal mostra do cinema e audiovisual no Brasil. Como parte do Festival Internacional foi aberta a 62ª sessão oficial promovida pela Comissão de Anistia do Ministério da Justiça. O projeto julga, em sessões públicas, os pedidos de pensão e indenização de pessoas que foram vítimas da ditadura militar.

Por Jandira Feghali*

O presidente da Comissão, Paulo Abraão, iniciou a Sessão de Apreciação tratando dos requerimentos feitos por Luciana Maria Cristina Lyra, Maria Célia de Melo Lundberg e Daniel Carvalho de Souza, filho do sociólogo Betinho. Os relatos são impressionantes.

Maria Cristina tinha 19 anos quando foi presa e torturada por integrar o Partido Revolucionário dos Trabalhadores, em 1970. Por causa da tortura tentou suicídio duas vezes. Maria Célia era professora em Belo Horizonte e foi presa em 1971, junto com o irmão Hervê, por ser militante da Ação Libertadora Nacional (ALN). Torturada e violentada sexualmente, foi para o exílio na Suécia e não voltou mais ao Brasil até esta sessão. Daniel viveu a infância e parte da juventude na clandestinidade, passando por vários países devido à perseguição política a seus pais. A comissão concedeu todos os três pedidos de indenização

Precedeu a sessão, cercada por amigos, a exibição do cine documentário “Eu me Lembro”, do diretor Luiz Fernando Lôbo e com trilha sonora original assinada por Felipe Radicetti. O documentário percorre o trabalho da Caravana da Anistia nos últimos cinco anos, na qual tem prestado o necessário trabalho de reconstrução da memória por meio do depoimento de bravos combatentes e de seus familiares que sofreram de forma direta os anos de chumbo e as consequências desse período. “Eu me lembro” é senha de acesso à nossa sociedade para que não se esqueça nunca dos crimes cometidos contra a humanidade.

O local não poderia ser melhor nem mais sugestivo. Localizado no Galpão nº6 no Cais do Porto do Rio, o pavilhão serve a companhia de teatro Ensaio Aberto e é conhecido pelo nome de “Armazém da Utopia”. Utopia essa necessária para o momento que a cidade vive, principalmente na região do Porto; Praça Mauá, Gamboa, Saúde, Providência, Santo Cristo e adjacências, onde tem sentido uma reforma urbanística e infra-estrutural que precisa de metas de médio e longo prazos e, principalmente, afeto para tratar bem a cidade e seus cidadãos

Ao pôr do sol de frente ao Cais terminei mais um dia agradecendo ao sentimento de mais uma vez me emocionar com a história de luta pela liberdade no Brasil, onde muitos dos nossos dedicaram preciosos anos de seus caminhos ou até os tiveram interrompidos. Melhor ainda foi viver esses momentos cercada de amigos, emoção redobrada.

*Deputada federal pelo PCdoB do Rio de Janeiro e presidenta da Frente Parlamentar Mista em Defesa da Cultura.