A promessa vazia do euro e os sado-monetaristas de Bruxelas

Agosto será um mês quente para a eurozona, pouco importando o que a meteorologia tenha preparado para nós. O fato de que a Espanha esteja a negar fortemente que precisa de um salvamento completo confirma que Madrid, em determinada altura, irá convocar os sado-monetaristas de Bruxelas. Assim como o fizeram os ministros gregos, irlandeses e portugueses depois de fazerem as mesmas cômicas negações.

Por Brian Denny *, em Resistir.info


A situação não é nada divertida pois a consequência do colapso de um esquema tão temerário como a divisa única afetará toda a gente, particularmente a classe trabalhadora que não colaborou na construção deste castelo de cartas.

Um painel de 17 importantes economistas no Institute for New Economic Thinking, com sede em Nova York, emitiu um relatório advertindo que "a Europa é andar como um sonâmbulo rumo a um desastre de proporções incalculáveis".

"O último dominó, a Espanha, está a uma distância de dias de uma crise de liquidez, segundo o seu próprio ministro das Finanças. Esta situação dramática é o resultado de um sistema de eurozona que, tal como está atualmente construído, está inteiramente rompido", afirma o relatório.

Contudo, a razão fundamental para esta crise que nunca acaba, com um dominó a cair após o outro, não é liquidez – isto é apenas um sintoma de um problema muito maior.

Trancados dentro da câmara de tortura neoliberal que é a Eurozona, os países mais fracos simplesmente não podem competir com os países maiores no centro do império, nomeadamente a França e a Alemanha.

Países em luta como a Grécia, Irlanda, Portugal, Espanha e Itália, coletivamente conhecidos como PIIGS, têm déficits de balança de pagamentos vastos os quais minam as suas economias enquanto exigem tomadas de empréstimos crescentes.

A resposta real é desvalorizar, o que é impossível dentro da divisa única. A única opção deixada a fim de permanecer no euro é voltar-se para a sua própria população abolindo efectivamente o estado previdência (welfare state) e despedindo milhões de trabalhadores, o que é conhecido como desvalorização interna.

Os ataques aos mineiros espanhóis e aos trabalhadores gregos da siderurgia são apenas uma mínima parte da guerra econômica que foi desencadeada por exigência de instituições não eleitas e amplamente desconhecidas da UE.

Como apoiadores da UE, os conservadores-democratas [britânicos] estão a apoiar a austeridade permanente da UE tanto aqui como por toda a eurozona. Apesar de estar fora da eurozona, a classe dominante da Grã-Bretanha está a apoiar todos os esforços para manter o euro vivo.

Este governo está mesmo a oferecer mais empréstimos e garantias no valor de milhares de milhões de libras enquanto afirma que a sua prioridade é cortar a dívida.

Cameron não "vetou" – como afirmou – o pacto fiscal, conhecido como tratado de austeridade permanente, o qual entrará em vigor em 1 de janeiro de 2013. A Grã-Bretanha simplesmente não é signatária – isso não é um "veto".

No momento de uma crise de dívida maciça na eurozona, este pacto exige que os orçamentos devem estar em equilíbrio ou em superávite e o Tribunal Europeu de Justiça (TEJ) pode mesmo multar um país em até 0,1 por cento do seu PIB se isto não for feito dentro de um ano após a ratificação.

Agora a comissão tenta golpear através de um Mecanismo Europeu de Estabilidade (MEE) com tão pouco debate quanto possível e está a pressionar governos nacionais a ratificarem-no tão logo quanto possível nem referendos.

O MEE é exigido porque aos mecanismos de salvamento anteriores, conhecidos como European Financial Stability Facility (EFSF) e European Financial Stability Mechanism (EFSM) faltava qualquer base legal nos tratados da UE, fossem quais fossem.

O Tratado de Lisboa torna mesmo claro que não pode haver um salvamento de qualquer dos 17 estados membros da eurozona.

O proposto MEE é a solução fundamentalmente não democrática para o actual dilema legal e é especificamente concebido para financiar o que na realidade é um caixa dois (slush fund).

Ele seria baseado no Luxemburgo com um conselho de governadores nomeado pelos 17 estados da eurozona e operará fora da UE.

A abordagem cada vez mais fora da lei e mesmo histérica que está a ser adotada revela apenas, mais uma vez, quão enviesado e instável é o projecto da eurozona. Isto acontece porque a divisa única é fundamentalmente um projecto político, não econômico. Ele é destinado a um fim. O fim sendo o completo ajustamento estrutural corporativo da Europa pelo qual toda actividade humana é transferida da arena pública para o sector privado, para o capitalismo monopolista.

De acordo com este projeto, se uma crise se verifica tanto melhor pois uma crise pode ser transformada em vantagem – mais centralização da UE e a remoção de poderes democráticos dos estados membros.

Está claro que enfrentamos a pior crise do capitalismo durante uma geração de modo que as apostas são muito altas.

A atual liderança do Partido Trabalhista podia afirmar que o apoio do governo ao projeto da eurozona é totalmente inapropriado e dizer que o euro está morto.

Infelizmente, ela não fará isto porque o Labour também está casado com o projeto euro muito embora uma política mais crítica em relação à UE levasse claramente à vitória na próxima eleição.

O fato triste é que grande parte da esquerda tem apoiado a divisa única ou permanecido silenciosa devido principalmente a promessas de um nefando "Modelo social europeu" prometido em 1988 pelo presidente da Comissão Europeia, Jacques Delors, que proporcionaria o socialismo através da porta dos fundos.

Antigos defensores bem pagos da divisa única, tal como Lord Monks, continuam mesmo a clamar pela entrada da Grã-Bretanha como membro do euro moribundo – apesar de ele próprio admitir que as suas visões "podem parecer muito excêntricas".

A ultra-esquerda em grande medida também apoiou a UE, principalmente a um desentendimento profundamente torcido do internacionalismo bem como de teoria económica básica.

Hoje está claro que a morte da divisa única seria do melhor interesse de todos.

Lançar cada vez mais dinheiro a um moribundo, a não amada divisa, apenas prolongaria a agonia para toda a gente.

Mas não deveríamos esquecer como políticos e líderes do movimento trabalhista venderam o projeto UE à classe trabalhadora com base em falsas promessas.

Ingenuamente ou cinicamente, eles apelaram à fé ao invés de recorrerem aos fatos simples – o que é indesculpável.

Brian Denny é sindicalista e britânico.