Psicóloga acusa Bolsonaro de deturpar sua opinião 

O deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ) pode terminar o ano novamente com uma ação no Conselho de Ética da Câmara. Mais do que isso, pode vir a ser investigado pela delegacia de crimes cibernéticos da Polícia Federal. Os participantes de um evento realizado na Câmara acusam o parlamentar de ter editado suas declarações, fora do contexto, para acusá-los de defender a pedofilia e a homossexualidade.

Em 15 de maio deste ano, psicólogos, pesquisadores e parlamentares reuniram-se em um seminário na Câmara dos Deputados para discutir o combate à homofobia, intitulado “Respeito e diversidade se aprende na infância”. Seria mais uma reunião, não fosse a intervenção feita por Bolsonaro nas imagens gravadas pela TV Câmara.

“Esse vídeo do Bolsonaro é uma infração que viola os meus direitos autorais, porque as minhas teses não são aquelas. É uma interpretação com base no meu posicionamento público. Mas eu nunca autorizei aquele vídeo tal como editado. Eu não me reconheço naquelas teses que estão sendo replicadas em blogs na internet”, afirmou a psicóloga Tatiana Lionço, que foi convidada para falar no evento sobre sexualidade na infância.

No seminário, Tatiana abordou o tema de forma didática. No entanto, o vídeo publicado pelo parlamentar utiliza uma frase do início da fala da psicóloga, uma outra, no meio da explanação e uma declaração do final da palestra, dando a entender que a psicóloga defende a pedofilia e estimula a homossexualidade entre crianças.

“Dessa forma, ele descontextualiza tudo. E o que é mais grave é que agora estão replicando o vídeo na internet como se eu tivesse defendido uma tese que eu jamais defenderia. Eu não reconheço isso que está sendo veiculado”, protestou.

No início do vídeo, Bolsonaro afirma que a reunião tratou da volta do chamado “kit-gay” nas escolas. Além disso, o parlamentar reclamou da utilização do kit como estímulo à homossexualidade na infância. O material foi elaborado pelo governo com o nome de “kit anti-homofobia”, com o objetivo de combater o ‘bullying’ homofóbico.

Manipulação da informação

Para o deputado Jean Wyllys (Psol-RJ), a tática usada por Bolsonaro é danosa porque espalha na internet uma informação falsa, que raramente é checada. “As pessoas veem essas coisas na internet e não sabem de onde veio, quem fez isso e acabam acreditando. Pouca gente vai atrás para saber o que é aquilo de verdade, não verificam o grau de manipulação da informação”, disse. O parlamentar, que integra a Comissão de Direitos Humanos da Câmara, defende o combate à homofobia.

Apesar da possibilidade de se abrir um processo contra Bolsonaro, Jean Wyllys disse ser cético em relação a um possível desenrolar do processo. Para ele, o Conselho de Ética é pouco atuante. “O conselho é inerte. Quantas vezes já fizemos representações contra parlamentares que desrespeitam claramente os direitos humanos e nada foi feito. Essas representações não vão para frente nesta Casa”, desabafou.

O deputado afirmou que irá processar Bolsonaro na Justiça comum e pedirá à Polícia Federal que investigue as responsabilidades do parlamentar na edição do vídeo.

Tatiana Lionço também entrou em contato com o deputado pelo site da Câmara e solicitou que o vídeo seja retirado do canal do parlamentar no Youtube, além de publicar uma resposta sua no mesmo local. Ela também solicitou um parecer técnico da assessoria sobre a relevância da edição do vídeo, “com base nos preceitos constitucionais e com base no que deve orientar a atividade de um parlamentar”.

Bolsonaro já avisou que não responderá a nada. “Nunca vou dar satisfação para essa psicóloga que defende o estímulo à homossexualidade para as crianças. Se ela esqueceu do que falou, eu mando o vídeo na íntegra para ela ter acesso às besteiras que falou na audiência pública. Não devo satisfações para essa mulher. O que coloquei no vídeo são palavras dela. Se ela acha que eu vou responder alguma coisa, está equivocada”.

Fonte: Congresso em Foco