Enchentes em SP: Moradores cobram Prefeitura e Governo

Os alagamentos crônicos que Paulo Afrânio Asevedo e os vizinhos da Rua Havaí, na Pompeia, zona oeste, enfrentam a cada temporada se reproduzem em centenas de outras áreas de São Paulo. Especialistas apontam a ausência de um amplo plano de obras, seja da prefeitura,s seja do governo, e o processo desenfreado de urbanização são os maiores problemas neste setor.

A intensificação dos regimes de chuva aumenta a vazão de rios e córregos na bacia do Tietê na região metropolitana. Aliada a isso, a ocupação desordenada do solo leva a uma concentração cada vez maior das águas na cidade.

Entre 2004 e julho deste ano, de acordo com dados da Secretaria de Desenvolvimento Urbano de São Paulo, a região, que abrange, além da Pompeia, a Barra Funda e Perdizes, teve 418 mil m² construídos acima do limite original programado para o bairro, numa área equivalente a cerca de 60 campos de futebol.

Resultado: sempre que chove forte, os córregos e as galerias transbordam, a água não tem para onde escorrer por causa da pavimentação excessiva, e a Rua Havaí submerge rapidamente, alagando a casa do engenheiro Asevedo. Em bairros como a Pompeia e a vizinha Vila Madalena, que ficam em regiões de aclives e declives muito acentuados, as enchentes são quase instantâneas em dias de chuva forte.

Segundo a Operação Urbana Água Branca, que abrange a região da Pompeia, o aumento da área construída no bairro teria de ser compensado por um grande parque. A área verde ficaria nos 160 mil m² ocupados pelos centros de treinamento de Palmeiras e São Paulo – de posse do Município, cedidos até 2020 para os dois clubes -, na Avenida Marquês de São Vicente.

Em maio, porém, o prefeito Gilberto Kassab (PSD) enviou à Câmara Municipal um projeto que dá ao Palmeiras e ao São Paulo o direito de ficar por mais 70 anos nos terrenos. A proposta está parada na Comissão de Constituição, Justiça e Legislação Participativa da Casa.

De acordo com especialistas para a minimizar as enchentes na capital um dos primeiros passos é mapear os pontos críticos de enchente na capital. 

O Centro de Gerenciamento de Emergências (CGE), que monitora a situação de enchentes, registrou 392 pontos de alagamentos de novembro de 2011 a abril de 2012, época de maior frequência de chuvas e quando é feita a operação verão. O número é menor que na temporada de 2010/ 2011, quando houve 574 casos.

O professor Mario Thadeu Leme de Barros, do Departamento de Energia Hidráulica da Poli-USP, sugere a criação de um órgão que seja responsável especificamente pela gestão das águas. "Você tem vários órgãos da Prefeitura que atuam em diversos níveis em relação à drenagem urbana, mas há necessidade de ter um sistema de gestão pra ganhar eficiência e eficácia", diz.

Ricardo Toledo Silva, professor de infraestrutura urbana da FAU-USP, afirma que é preciso uma gestão que se engaje prioritariamente na revisão do plano de macrodrenagem municipal e na revisão dos planos regionais. "São eles que vão definir concretamente as legislações locais de uso e ocupação do solo", afirma.

Ambos apontam a necessidade de criação de piscinões nos locais onde for possível instalá-los – o plano estadual de macrodrenagem de 1998 previa a construção de 134, mas só 45 foram instalados.

Julio Cerqueira Cesar Neto, ex-presidente da Agência da Bacia do Alto Tietê, afirma que só os piscinões não resolvem. "Só na bacia do Tamanduateí há 18 piscinões. Mas as enchentes são muito piores hoje do que eram antes deles."

A sugestão é aumentar a cobertura verde, inclusive com recuperação das margens de rios e córregos, e estimular a criação de calçadas permeáveis, além de obras localizadas.

Fonte: Estadão